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CEO da Shell visita China para obter apoio à fusão de US$ 70 bi com BG

Rakteem Katakey

06/05/2015 15h15

(Bloomberg) - O maior obstáculo para a oferta de US$ 70 bilhões da Royal Dutch Shell Plc pela BG Group Plc provavelmente esteja na China.

O CEO da Shell, Ben Van Beurden, visitará o país nesta semana para convencer os altos funcionários de que a fusão entre duas grandes produtoras de petróleo e gás apresenta poucos riscos para o maior país importador de energia do mundo.

Não se sabe se ele terá sucesso, dada a influência que a empresa expandida terá no mercado mundial de gás natural liquefeito, segundo Gordon Kwan, diretor de pesquisa regional sobre petróleo e gás da Nomura International em Hong Kong.

"O que poderia sair do armário são os projetos com GNL da BG e da Shell na Austrália, que exportam para a China", disse Kwan em uma entrevista. "Talvez eles tenham que vender alguma participação".

As negociações vão colocar à prova a histórica relação entre a Shell, com sede em Haia, e a China, iniciada com importações de querosene em 1984 e que hoje inclui uma aliança mundial com a PetroChina Co., a maior produtora de petróleo do país. Van Beurden estará ciente de que no passado as autoridades antitrustes da China contestaram transações importantes de recursos naturais por causa da concorrência.

A Glencore Plc vendeu sua mina de cobre de Las Bambas, no Peru, à China Minmetals Corp. por US$ 7 bilhões como parte de um acordo a fim de obter a autorização dos órgãos reguladores chineses para adquirir a Xstrata Plc por US$ 29 bilhões em 2013.

A BG e a Shell têm projetos de exportação na Austrália que abastecerão a China com gás, e a Shell vai se tornar líder mundial do setor de GNL depois de comprar a BG, com sede no Reino Unido.

Vendas de GNL

As vendas de GNL da Shell aumentarão 80 por cento até 2018, e a empresa fusionada responderá por cerca de 15 por cento do GNL comercializado no mundo, disseram executivos da companhia um dia depois de anunciar a transação.

De todos os lugares onde a Shell precisa de aprovação antitruste, entre os quais estão o Brasil, a União Europeia e a Austrália, a China é o que mais provavelmente vai buscar concessões, disse Jonathan Stern, diretor do programa de gás natural do Oxford Institute for Energy Studies.

O gás é importante para a China porque o país está combatendo a poluição gerada pelas usinas de energia que queimam carvão.

Metas

O governo estabeleceu a meta de aumentar a cota do gás na matriz energética, de menos de 6 por cento em 2013 para mais de 10 por cento até 2020. A proporção mais do que dobraria o consumo total de gás, escreveram os analistas da Bloomberg Intelligence Joseph Jacobelli e Grace Lee em um relatório em 25 de março.

Van Beurden se reuniu com a presidente Dilma Rousseff no mês passado e com altos funcionários da petroleira estatal Petrobras para informá-los sobre a aquisição da BG, que fará da Shell uma das maiores produtoras estrangeiras no Brasil. As reações do governo foram positivas, disse Van Beurden, no dia 30 de abril.

A China, a Austrália e o Cazaquistão, país que também está na agenda de visitas desta semana de Van Beurden, têm sido "positivos e lógicos" até o momento, disse ele a analistas em uma teleconferência no mesmo dia. O processo antitruste ainda está "nos primeiríssimos dias", disse ele.

A Shell não espera concluir a fusão com a BG até o começo do ano que vem.

A aprovação dos órgãos antitrustes da China para uma transação deste tamanho normalmente demora pelo menos seis meses, disse Peter Wang, sócio responsável pelo escritório em Xangai do gabinete de advocacia internacional Jones Day, em entrevista por telefone.

"Por um lado, o governo quer se apresentar como uma jurisdição moderna e sofisticada em relação a questões antitrustes e agir com um princípio justo e reto", disse Wang. "Por outro lado, ele está interessado em proteger suas próprias empresas e seu setor".

Título em inglês: 'Shell Chief Visits China to Win Backing for $70 Billion BG Deal'

Para entrar em contato com o repórter: Rakteem Katakey, em Londres, rkatakey@bloomberg.net