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Empresa transforma Boeing em jato de luxo para excursões de bilionários

O avião tem 52 poltronas completamente reclináveis  - Divulgação
O avião tem 52 poltronas completamente reclináveis Imagem: Divulgação

Jennifer Parker

18/05/2015 12h22Atualizada em 18/05/2015 16h23

(Bloomberg Business) - Para passear durante três semanas pelas maravilhas do mundo e se hospedar em hotéis cinco estrelas, o melhor seria viajar com um avião particular, não é mesmo?

Sem dúvida. A empresa hoteleira Four Seasons está esperando que 52 passageiros desembolsem US$ 119 mil (cerca de R$ 360 mil) cada pelo privilégio de dar a volta ao mundo no seu novíssimo avião.

Antes de o avião decolar em sua viagem inaugural (o tour "Backstage With the Arts", "Nos bastidores das Artes", em tradução livre, de 16 dias pelos pontos de destaque da Europa), entramos sorrateiramente no avião no aeroporto Le Bourget, de Paris, para ter uma primeira ideia da transformação e descobrir o quanto se pretende mudar nos tours de luxo em grupo.

O avião

Vamos deixar isto claro: o avião do Four Seasons não é um Gulfstream. É um jumbo, um Boeing 757-200ER reconfigurado, alugado da TAG Aviation (que fornece pilotos e manutenção) pela TCS World Travel (uma operadora de turismo de luxo) e operado com a bandeira Four Seasons como uma entrada para excursões extravagantes em grupo. E ele ficou francamente sexy com seu novo tom preto metalizado.

No interior, os 233 assentos de tamanho padrão foram substituídos por 52 poltronas completamente reclináveis, dispostas em filas duplas de cada lado. Cada assento ganha 1,98 metro, com um corredor amplo, muito espaço para as pernas e 198 centímetros de espaço pessoal.

Os compartimentos superiores de bagagem são quase duas vezes maiores do que eram (e agora comportam 189 volumes), mas ocupam menos espaço sobre a cabeça porque se encaixam na coroa da fuselagem. Um novo sistema de iluminação LED bicolor cria um ambiente clean, tranquilo, em tons lilás e azul claro.

A presidente da TCS, Shelley Cline, não quis revelar detalhes financeiros específicos, mas observou que um reequipamento comercial normal custaria cerca de US$ 15 milhões --e isso não foi um reequipamento normal. "Para seguir os padrões do Four Seasons de serviços e design, realizamos um trabalho muito maior", escreveu ela em um e-mail.

O Four Seasons vem oferecendo serviços em aviões particulares com a TCS desde 2012, mas esse é o primeiro avião que carrega em sua totalidade a marca da empresa hoteleira, o que dá a ela muito mais controle sobre o atendimento e a logística do que antes, quando alugava aviões de outros.

O avião do Four Seasons - Divulgação - Divulgação
O avião do Four Seasons é um Boeing 757-200ER reconfigurado
Imagem: Divulgação

A experiência

Há, pelo menos, 21 tripulantes e funcionários a bordo com treinamento hoteleiro em cada voo Four Seasons, incluindo três pilotos, dois engenheiros, um "gerente de jornada" (coordenador de viagem), um conciérge e um chef executivo.

Um médico e um fotógrafo também viajam quando passeios mais aventureiros --como mergulhar pelos recifes de corais das Maldivas ou observar animais selvagens em Serengueti-- requeiram.

Os chefs dos hotéis Four Seasons fornecem ingredientes locais, que são preparados no ar com um forno a vapor conforme as regras de aviação (os fornos de convecção estilo avião comuns só podem esquentar os alimentos e, por isso, as refeições nos aviões costumam ser ruins).

O chef executivo Kerry Sear conversa com os passageiros durante os voos para saber as preferências de cada um, depois coordena com os chefs em solo para garantir que os clientes tenham o que desejam a bordo.

As poltronas

Uma boa noite de sono. Aquele sonho inalcançável, pelo qual os passageiros pagam quantias obscenas, parece possível nessas poltronas de couro branco e muito bem feitas.

(Infelizmente, eu não pude viajar com esses passageiros de alto nível na aventura pela Europa --a política corporativa não permite--, mas minha turnê no solo do Le Bourget me deu informações práticas).

As poltronas foram projetadas por Iacobucci, um artesão italiano cujas criações também estão a bordo de aviões Lear, Gulfstream e Cathay Pacific. Com suavidade e sem fazer barulho, elas se reclinam completamente com o toque de um botão (claramente visível no painel de controle pessoal).

As mesinhas são revestidas de madeira envernizada e têm espaço para acomodar com facilidade um laptop pesado ou uma refeição de três pratos. Em contraste com o branco do avião, a madeira dá a sensação de um iate de alta velocidade.

No entanto, os assentos são, de certo modo, decepcionantes. Não há separação ou privacidade que te proteja de um bate-papo indesejado --ou dos roncos-- do ricaço ao lado. Com duas poltronas de cada lado do corredor, eles não têm nada a ver com os ambientes fechados da classe La Première, da Air France, ou com os quartos particulares a bordo da Etihad.

O dinheiro

Ao sentar-se, você vai encontrar um verdadeiro estoque: kit de toalete Bulgari, colcha de caxemira, fones de ouvido com cancelamento de ruído e um diário de viagem personalizado com capa de couro da Moleskin, com uma caneta esferográfica combinando.

Antes da viagem, cada passageiro recebe um iPad Air 2 para carregar músicas e filmes em um sistema de entretenimento personalizado. Você pode ficar com tudo depois.

O melhor: tem wi-fi grátis --ao contrário dos hotéis onde você vai dormir.

Não há garantia de alta velocidade, mas os passageiros podem acessar qualquer site e enviar e-mails; só não podem assistir a vídeos por streaming a bordo para garantir uma boa conexão (no entanto, há diversas opções de filmes e programas de TV, novos e contemporâneos, disponíveis para baixar).

Seguindo a deixa do foco em tecnologia dos aviões mais novos, o entretenimento a bordo é igual a qualquer outro.

Corredor do avião do four-seasons - Divulgação - Divulgação
Não há separação ou privacidade que te proteja de um bate-papo indesejado
Imagem: Divulgação

Espaço para acomodar melhorias

Ao contrário das comodidades cinco estrelas que você espera encontrar em solo, os quatro banheiros a bordo são tão pequenos quanto os de qualquer classe econômica. Por mais limpos e brilhantes, personalizados e impregnados de aromatizador Bulgari de chá verde que forem, eles não impressionam muito.

Outro ponto em baixa: toalhas de papel em vez de tecido. É claro que isso não é grande coisa no contexto geral, mas é nos pequenos detalhes que o luxo se supera.

"Estamos obcecados com o espaço e o desejo de oferecer a nossos hóspedes o máximo possível. Até o mais luxuoso avião particular tem um espaço limitado", explicou Dana Kalczak, vice-presidente de design do Four Seasons.

É verdade, existem limites. Ou seja: leis de aviação.

O 757 da Four Seasons é um avião comercial, de acordo com os reguladores de aeroportos, o que significa que você terá sorte se conseguir embarcar em uma pomposa pista particular e puder pavonear como James Bond diretamente no asfalto.

Os pilotos pousam em aeroportos civis menores --e evitam monstros como o aeroporto de Heathrow, em Londres-- sempre que possível. Por isso, em Los Angeles, Londres, Paris e Mumbai, os passageiros são de ouro; em Sidney e Tóquio, nem tanto.

Se não for possível utilizar um aeroporto particular, o Four Seasons organiza pistas rápidas de segurança, e o avião está pronto para o embarque assim que você passar pelos controles. Por isso, não é necessário chegar com três horas de antecedência e ficar na sala de espera com o restante dos plebeus (o que poderia ou não ser uma vantagem, tendo em vista algumas das novas salas de espera).

Ao viajar no avião da Four Seasons, você também deve cumprir as regras de segurança relativas ao tamanho das bagagens de mão e à restrição de líquidos dos voos comerciais, o que faz com que aqueles novos e espaçosos compartimentos superiores sejam um tanto inúteis.

Esses detalhes não tão luxuosos, no entanto, não estão impedindo os clientes de reservar suas passagens. O próximo "Around the World Tour" ("Tour de Volta ao Mundo", em tradução livre), programado para agosto --nove destinos de Seattle a Nova York, passando pela Ásia-- já está esgotado.

No ano que vem, o itinerário de 24 dias vai custar US$ 132 mil.