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Por que Putin se importa com quem governa um diminuto país balcânico? Pelos gasodutos

Lad'ka Bauerová

25/05/2015 12h06

(Bloomberg) - Os líderes russos, cujo conflito com a Ucrânia fez com que eles brigassem com o maior país do Leste Europeu, agora estão voltando a atenção a um país nos Bálcãs que tem menos moradores que o Brooklyn.

No entanto, há uma temática comum: gasodutos.

A Macedônia, um pequeno Estado com 2 milhões de habitantes surgido das ruínas da Iugoslávia, está enfrentando uma corrupção desenfreada e persistentes tensões étnicas.

O governo em dificuldades do primeiro-ministro Nikola Gruevski, envolvido em um escândalo com escutas telefônicas, apoia os planos para construir um gasoduto russo para a Europa que forneceria uma receita muito necessária e ajudaria o Kremlin a abandonar a rota de fornecimento atual que atravessa o problemático vizinho ucraniano.

Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou o Ocidente de tentar incitar uma derrubada do governo macedônio.

"Não tenho nenhum fato concreto, mas é uma suspeita lógica", disse Vladimir Chizhov, embaixador da Rússia na UE, em uma entrevista à Bloomberg TV, quando consultado sobre as acusações.

"Se você analisar a geografia da região, a Macedônia é o melhor lugar para construir a extensão do mais novo projeto de infraestrutura de energia na região, o chamado Turkish Stream", disse Chizhov.

O gasoduto proposto pela Rússia seria um prolongamento de uma conexão entre a Rússia e a Turquia. Trata-se do mais recente plano da OAO Gazprom para enviar gás para o centro e para o sul da Europa depois que a exportadora estatal de gás abandonou o projeto South Stream, de US$ 45 bilhões, em dezembro devido à oposição da União Europeia. Como seu malfadado predecessor, o chamado Turkish Stream foi projetado para contornar a Ucrânia, privando o país de uma renda vital obtida com as taxas de trânsito.

Construção

"Para ajudar a Gazprom a chegar até os mercados da Europa Central, a Rússia defendeu a construção de um gasoduto que iria da Grécia até a Macedônia, a Sérvia e a Hungria", escreveram analistas da consultoria Stratfor, com sede no Texas, em um relatório. "Esses quatro países estão no epicentro de uma ofensiva diplomática russa".

No entanto, o projeto enfrenta uma montanha de obstáculos. Como o South Stream, ele teria que respeitar as normas dos mercados internos da UE, que exigem que os russos cedam o controle sobre o gasoduto em suas fronteiras. Embora a Macedônia não faça parte da UE, antes de chegar lá o gasoduto teria que cruzar da Turquia para a Grécia, que são países-membros.

A Rússia diz que não vai mais insistir em ter uma participação nas partes que atravessarem a UE. Em vez disso, o presidente Vladimir Putin ofereceu à Grécia, arrasada pela crise, "centenas de milhões de euros por ano" em taxas pelo trânsito de gás se o país entrar no plano do gasoduto, que então passaria pela Macedônia e pela Sérvia em direção à Itália e à Áustria.

'Forçado'

"Para mim, continua sendo um pouco exagerado falar de um gasoduto que se conectaria com um projeto que ainda está no papel", disse Nikola Dimitrov, pesquisador do Hague Institute for Global Justice e ex-embaixador da Macedônia na Holanda. "Se isso realmente acontecerá é uma grande pergunta".

Para a Macedônia, qualquer gasoduto é uma solução muito distante para a crise que está abalando o país atualmente. A oposição acusou Gruevski de abuso de poder e o FMI advertiu que o crescimento econômico poderia ser afetado. Entretanto, um tiroteio ocorrido nesta semana na cidade de Kumanovo, no nordeste do país, deixou 22 mortos no que o governo disse ser um ataque terrorista de insurgentes albaneses.

"Estamos muito preocupados - os acontecimentos na Macedônia estão sendo administrados de fora com bastante crueza", disse Lavrov, da Rússia, na quarta-feira. "É muito triste e perigoso que, a fim de minar o governo de Gruevski, o fator albanês esteja sendo aplicado".

Título em inglês: 'Why Does Putin Care Who Runs a Tiny Balkan Nation? Gas Pipelines'

Para entrar em contato com o repórter: Lad'ka Bauerová, em Praga, lbauerova@bloomberg.net