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Guerra à poluição na China impulsiona projeto de minério de ferro da Anglo a 16.000 quilômetros de distância

Juan Pablo Spinetto

26/05/2015 12h22

(Bloomberg) -- A incursão brasileira da Anglo American Plc no segmento de minério de ferro foi repleta de infortúnios, como o estouro bilionário do orçamento e a saturação global. No momento em que finalmente está aumentando sua produção, o projeto avaliado em US$ 8,4 bilhões aproveita uma oportunidade gerada pela abordagem mais verde da China para a fabricação do aço.

A mina de minério de ferro Minas-Rio, maior projeto nos 98 anos da Anglo, deverá atingir o ritmo da capacidade produtiva até meados de 2016. E embora o início das operações coincida com a queda do preço do insumo usado para fabricação do aço, a mineradora com sede em Londres está apostando que a qualidade mais elevada de seu produto ajudará a proteger o empreendimento do mal-estar que afeta o setor.

A Minas-Rio produz pellet feed, um tipo de minério ultrafino que contém cerca de 68 por cento de ferro. Isso permite à Anglo vender com ágio sobre o valor de referência, porque as siderúrgicas -- incluindo as da China, o maior comprador -- o consideram mais produtivo e menos poluente.

"A China está cada vez mais focada no impacto ambiental do consumo de minério de ferro nas siderúrgicas", disse Andreas Bokkenheuser, analista de ações do UBS Group AG, por telefone, de Nova York. "O teor mais baixo de sílica implica em um consumo maior no futuro", disse ele, em referência à impureza mais comum.

Bokkenheuser disse que o pellet feed com 68 por cento de ferro pode conseguir um prêmio de até US$ 10 a tonelada sobre o preço de referência para 62 por cento. A Anglo, que espera embarcar até 14 milhões de toneladas neste ano e atingir a capacidade total de 26,5 milhões de toneladas em 2017, preferiu não dizer em quanto está precificando seu produto acima do valor de referência.

Saturação resistente

O valor de referência subiu 2,6 por cento na terça-feira, para US$ 62,78 a tonelada, segundo um índice compilado pelo Metal Bulletin. Os preços estão 68 por cento mais baixos em relação ao pico registrado em 2011 devido à expansão da oferta na Austrália e no Brasil, os principais exportadores.

"Para esse tipo de minério de ferro não temos excesso de oferta", disse Rodrigo Vilela, diretor de operações do projeto da Anglo, durante uma visita à mina, neste mês. "Graças à alta qualidade, não temos nenhum problema para enviar esse material para qualquer lugar do mundo".

O projeto Minas-Rio engloba uma mina e uma planta de processamento em Conceição do Mato Dentro, no coração de Minas Gerais, conectadas por meio de um duto de 529 quilômetros de extensão a um terminal dedicado ao minério de ferro no porto de Açu, no estado do Rio de Janeiro. As montanhas do estado de Minas Gerais, outrora uma importante região produtora de ouro, contêm depósitos com níveis mais elevados de ferro, em média, do que os vastos desertos da Austrália Ocidental.

Produção da Vale

A Vale SA, maior produtora do mundo, também está ampliando a produção de seus produtos de alta qualidade e substituindo os materiais de teor mais baixo para melhorar as margens. O colosso brasileiro fundada há 73 anos em uma mina perto da Minas-Rio planeja aumentar seu teor médio dos 63,7 por cento do ano passado para 64,6 por cento em 2018, disse o presidente Murilo Ferreira no dia 12 de maio.

O minério de qualidade mais elevada é um dos principais diferenciais de venda do produto da Minas-Rio, disse o Paulo Castellari, CEO da unidade de minério de ferro da Anglo no Brasil.

"Isso é muito diferente do que outras pessoas possuem em outras partes do mundo", disse ele a repórteres no dia 11 de maio. "Estamos produzindo um produto de altíssima qualidade".

Título em inglês: China Pollution War Boosts Anglo Iron Prospect 10,000 Miles Away

Para entrar em contato com o repórter: Juan Pablo Spinetto, no Rio de Janeiro, jspinetto@bloomberg.net.