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O Deutsche Bank precisa de uma nova liderança

Leonid Bershidsky

26/05/2015 10h29

(Bloomberg View) -- É desagradável quando não te querem mais, mas você ainda não foi embora. Nesse sentido, eu tenho simpatia pelos CEOs do Deutsche Bank Anshu Jain e Jürgen Fitschen, que acabam de sobreviver ao que foi, pelos padrões alemães, uma reunião de acionistas desagradável. Mais difícil é aceitar a decisão deles de permanecer: eles deveriam perceber que, para superar a inércia da fraude e do fracasso que continua arrastando a instituição para baixo, o banco precisa ter alguém de fora no topo.

Na Alemanha e em vários outros países europeus, os acionistas votam para isentar o conselho de administração de responsabilidade por ações adotadas desde a última reunião geral. É uma forma de reconhecer que os altos executivos não violaram nenhuma lei, contrato ou resolução dos acionistas. Os acionistas também os absolvem de responsabilidade por não supervisionarem apropriadamente os demais. Na cultura corporativa educada, porém bizantina da Alemanha, esses votos normalmente são protocolares. Pesquisadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico examinaram 750 resoluções de isenção de responsabilidade de diretores e descobriram que a dissidência era de apenas cerca de 3 por cento. Isso torna extraordinário o que aconteceu na última reunião anual do Deutsche Bank: apenas 61 por cento dos acionistas votaram pela isenção de responsabilidade do conselho de gestão de Fitschen e Jain.

Legalmente, eles estão em território seguro. Contudo, os CEOs foram responsáveis pela podridão que consome o banco há anos. Eles tiveram longas carreiras no Deutsche e cargos de gestão desde 2002. Eles estavam no comando quando ocorreu a maior parte das irregularidades que resultaram nas 6.000 ações judiciais existentes agora contra o banco. De alguma forma eles não notaram as manipulações de câmbio e de taxas de juros que custaram bilhões de dólares em multas ao Deutsche e provavelmente custarão mais. E apesar de toda a fiscalização que o banco está enfrentando, incidentes desagradáveis continuam acontecendo. Em abril, o Deutsche suspendeu diversos traders em Moscou porque eles teriam violado regras de lavagem de dinheiro.

Apesar de Fitschen e Jain terem se tornado CEOs em 2012, eles não são legalmente responsáveis pelos 7,2 bilhões de euros (US$ 8 bilhões) em despesas de litígio incorridas por seu banco em 2012-2014 -- um montante equivalente a 61 por cento do lucro líquido do banco naquele período --. Eles também não têm responsabilidade sobre a multa de US$ 2,5 bilhões que a instituição pagou no mês passado pelo papel cumprido pelo banco na manipulação da taxa Libor. No entanto, eles estavam no comando quando foram lançadas as bases para essas enormes despesas. Na época em que eles foram nomeados, ninguém sabia quanto o banco sangraria -- mas eles deveriam saber.

Jain agora gerenciará a etapa mais recente da reestruturação do Deutsche Bank, que inclui cortes radicais na divisão de varejo do banco e a separação do Postbank, adquirido em 2010. Isso dará ao banco de investimento uma importância descomunal, que é precisamente o que o banco tentou evitar quando decidiu dividir o cargo de CEO. Como Gerald Braunberger colocou no Frankfurter Allgemeine, "não era para o controle do Deutsche Bank cair nas mãos dos banqueiros de investimento. Os banqueiros de investimento de Londres e Nova York eram livres para caminhar por aí de suspensórios e pagar muito dinheiro a eles mesmos, mas só enquanto deixassem o banco e os acionistas ricos ao mesmo tempo".

Os acionistas deram à dupla uma nova chance, depois de vaiá-los e puni-los com uma votação incomumente apertada. A paciência é uma virtude, mas o conselho de supervisão do banco deveria usar o próximo ano para buscar um sucessor, preferivelmente alguém de fora, com a capacidade de ter uma visão geral do gigante que é o Deutsche Bank -- e sem falhas de supervisão na bagagem --. O maior banco da Alemanha precisa de um estrategista de reputação ilibada se espera se purificar e seguir em frente.