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Com rapidez ou lentidão, o próximo presidente da Argentina está pronto para consertar a economia

Charlie Devereux

27/05/2015 13h54

(Bloomberg) - A ópera barroca da política presidencial argentina está prestes a começar um novo ato com dois protagonistas - um que foi refém de um sequestro e pede uma terapia de choque econômico e um campeão de competições de lancha com um só braço que pede para ir devagar.

Nos últimos doze anos, o morador do palácio presidencial cor-de-rosa tem sido um Kirchner: primeiro Néstor, que morreu em 2010 de um infarto, e depois sua viúva, Cristina, ambos na tradição peronista do protecionismo.

Em outubro, os eleitores vão intervir, e as pesquisas mostram uma disputa acirrada por um emprego que nem todos ansiariam - liderar um país atolado em um calote, cercado por hedge funds em litígio e assolado pela estagnação econômica.

Mauricio Macri, 56, o ex-refém e atual prefeito da cidade de Buenos Aires, tem se descrito como o agente de mudança. Ele promete acabar com os controles cambiais, com as restrições sobre as importações e com as tarifas sobre as exportações para atrair investimentos e compensar os fluxos de saída que, segundo estimativas, correspondem à metade das reservas do Banco Central.

Os mercados reagiriam com euforia a uma vitória de Macri, segundo Siobhan Morden, diretora de estratégia de renda fixa para a América Latina da Jefferies Group LLC em Nova York, mas talvez isso subestime quão difícil é desmantelar os controles.

As pesquisas mostram que Macri está mais ou menos empatado com seu principal concorrente, Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires e ex-campeão mundial de corridas de lancha que é membro da aliança governante, Frente para a Vitória.

Oscilações

Os últimos anos foram marcados por muitas oscilações. Os preços dos bonds de referência passaram de 50 a 103 centavos por dólar e os analistas estão divididos quanto ao melhor caminho para a estabilidade. A economia passou do colapso e do calote em 2011 para um boom que triplicou a renda per capita nos nove anos até 2012 e depois voltou para a estagnação e ao calote.

Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria OPSM mostrou que Scioli e Macri estão quase empatados - 32,2 por cento para Scioli e 29,9 por cento para Macri, com uma margem de erro de 2,5 pontos porcentuais. Sergio Massa, que também promete acabar com os controles cambiais e reduzir os impostos sobre a exportação de grãos, recebeu 13,6 por cento das intenções de voto. A pesquisa nacional de porta em porta consultou 1.200 potenciais eleitores entre os dias 8 e 22 de maio.

Macri diz que seu interesse pela política data do seu sequestro em 1991. Emboscado em frente à sua casa, ele foi obrigado a entrar em um caixão dentro de uma van Volkswagen, informou o jornal La Nación em 2001, citando documentos judiciais. Durante 12 dias, ele esteve acorrentado em um porão a poucos quarteirões de distância de seu atual escritório na prefeitura até que seu pai pagasse US$ 6 milhões por sua liberação. Macri raramente fala em público sobre o que aconteceu.

Depois de dois anos como legislador, Macri foi eleito prefeito de Buenos Aires em 2007 e reeleito em 2011.

A família de Scioli era dona de uma loja de eletrodomésticos e ele fez seu nome nas corridas de lancha. Em 1989, no começo de sua carreira esportiva, sua lancha bateu contra uma onda no Rio Paraná, na Argentina, e virou. Ele perdeu o braço direito. Com uma prótese, ele voltou às corridas um ano depois e venceu vários campeonatos mundiais até se aposentar em 1997.

Menos abrupto

Na mesma época, ele obteve a concessão para ser distribuidor da Electrolux, a fabricante sueca de eletrodomésticos. Scioli, 58, foi vice-presidente de Néstor Kirchner durante quatro anos.

Os planos econômicos de Scioli são menos abruptos do que os de Macri. Em contraste com o prefeito, ele apoiou a decisão de dar o calote na dívida do país em vez de acatar a decisão de um tribunal e pagar aos detentores de títulos não reestruturados (holdouts) em litígio. Ele diz que não desvalorizaria o peso.

Embora Macri seja o favorito do mercado, o histórico de Scioli na província, que responde por metade do PIB do país e cujo código tributário ele modificou, tem impressionado os economistas. Em 2014, a província registrou um superávit orçamentário pelo segundo ano consecutivo.

É difícil prever se Scioli poderá sair da sombra de Cristina para poder implementar mudanças, disse Javier Kulesz, analista da Nomura Securities International Inc.

"Existem potencialmente dois Sciolis que o mercado deveria contemplar, um que defende a continuidade das políticas e outro que defende a mudança delas", disse Kulesz. "Em vez de termos três candidatos a presidente com possibilidades de vencer, praticamente temos quatro".

Título em inglês: 'Next Argentine President Ready to Fix Economy, Quickly or Slowly'

Para entrar em contato com o repórter: Charlie Devereux, em Buenos Aires, cdevereux3@bloomberg.net