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Conta de US$ 8 bi é mais um choque para as geradoras de energia do Brasil

Vanessa Dezem

28/05/2015 12h36Atualizada em 28/05/2015 14h48

(Bloomberg) -- Adicione mais um item à lista de razões para os investidores continuarem evitando as ações das empresas brasileiras geradoras de energia: uma conta de US$ 8 bilhões.

Este é o montante que essas empresas tiveram que pagar no ano passado para comprar energia no mercado à vista, segundo estimativa do JPMorgan Chase, devido ao deficit de geração causado pela seca e por atrasos em novos projetos. E isso se aplicou a todas elas.

Segundo as regras do sistema elétrico brasileiro, até mesmo geradoras que conseguiram cumprir seus contratos de fornecimento, como a CPFL Energia e a Tractebel Energia, uma unidade da GDF Suez, devem arcar com parte da conta quando o setor não atinge a meta.

A despesa é o último choque em um setor que perdeu US$ 25 bilhões em valor de mercado desde 2012, quando o governo forçou as empresas de energia a reduzirem os preços se quisessem manter suas licenças de geração.

Neste ano, as geradoras podem esperar pagar uma conta de até R$ 35 bilhões (US$ 11 bilhões), disseram analistas do JPMorgan em um relatório, em março.

"O maior problema do governo é tentar resolver quem pagará o preço pelo deficit de geração ", Mario Menel, presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia, conhecida como Abiape. "Hoje são os acionistas das empresas que estão pagando essa conta".

O MSCI Brazil Utilities Index caiu 58% desde o início de 2012. A estatal Eletrobras registrou o maior declínio no período.

Projetos atrasados

Duas associações do setor, conhecidas como Abrage e Apine, estão pedindo que a reguladora do setor energético no Brasil, a Aneel, reembolse às empresas de energia pelo menos parte das despesas.

Embora os riscos de seca façam parte do negócio no Brasil, onde três quartos da energia são gerados por usinas hidrelétricas, as associações dizem que existe uma diferença fundamental desta vez: os projetos atrasados. A seca não teria tanta importância, argumentam elas, se não houvesse tantas linhas de transmissão e usinas atrasadas.

A Aneel abriu para discussão o pedido das associações nesta semana e decidirá nos próximos meses se as empresas devem ser reembolsadas.

A Aneel não quis comentar o assunto.

Para a CPFL Renováveis, subsidiária de energias renováveis da CPFL que opera as pequenas hidrelétricas da empresa, a cobrança extra -- oficialmente conhecida como GSF (Generation Scaling Factor), relativa ao deficit de geração elétrica -- foi suficiente para provocar um prejuízo líquido no primeiro trimestre, disse o presidente da unidade, André Dorf, em entrevista no dia 7 de maio.

"Não esperávamos esse prejuízo", disse ele. "Se não fosse o GSF, teríamos tido um resultado neutro".

'Céu mais limpo'

Contudo, 2015 pode ser um ponto de inflexão para o setor de energia, segundo o relatório do JPMorgan, encabeçado pelo analista Marcos Severine.

O governo permitiu que as distribuidoras elevassem as tarifas em 45% até esta altura do ano depois de cortar os preços em 20% em 2012. Esse fator, combinado com o volume maior de chuvas e a redução da demanda, considerando que a economia brasileira está entrando em recessão, poderá significar um "céu mais limpo pela frente", disse Severine no relatório.

Por enquanto as geradoras continuarão tendo dificuldades devido ao peso dos custos do GSF. Na semana passada, o comitê técnico da Aneel recomendou que a agência recusasse o pedido das geradoras para serem reembolsadas. Todos os fatores que levaram aos prejuízos eram "oficialmente previsíveis", disse o órgão em um comunicado.

"O setor de geração de energia não está atrativo neste ano e talvez também não esteja no ano que vem", disse Alexandre Montes, analista de ações da Lopes Filho Associados Consultores de Investimentos, em entrevista por telefone, do Rio. "A crise hídrica é uma variável que está fora do nosso controle".

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