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Onde estava o Levy? Sumiço por gripe respinga em títulos da dívida do Brasil

Filipe Pacheco

29/05/2015 12h05Atualizada em 29/05/2015 14h34

(Bloomberg) -- No Brasil, uma gripe do ministro da Fazenda se transformou em uma grande preocupação para investidores em títulos da dívida do país.

O assunto surgiu na semana passada, quando Joaquim Levy, que foi apontado como o grande nome forte do governo Dilma para arrumar as contas públicas, não compareceu ao evento que anunciou um congelamento de R$ 69,9 bilhões em gastos públicos.

Levy teria defendido uma cifra maior e especulou-se que sua ausência era um sinal de discordância dentro do governo. Essa semana, em meio à tensão política no Congresso, os custos de financiamento do Brasil no mercado externo de títulos subiu o dobro da média para mercados emergentes.

Humor dos investidores

Em um país que está tentando preservar sua nota de crédito a todo custo, qualquer indicativo de atrito com o governo é suficiente para mexer com o humor de investidores, que buscam um compromisso por parte do país para frear deficits.

Mesmo depois de Levy ter dito, na segunda-feira, que se ausentou apenas por causa de uma gripe, restam dúvidas sobre se ele conta com os meios necessários para convencer os membros da frágil base aliada no Congresso a cortar gastos e elevar impostos na medida necessária.

"Estamos claramente testemunhando ruído e tensão dentro do governo nesta semana, em grande parte por causa da reforma fiscal", disse Alejo Czerwonko, estrategista do banco de investimentos UBS Wealth Management, que gerencia US$ 1 trilhão de ativos, incluindo títulos do Brasil, de Bogotá. "Os investidores têm motivos para preocupação".

O governo está dando seu melhor para tranquilizar os investidores. O ministro do Planejamento Nelson Barbosa disse na quarta-feira que não havia divergência, e a própria presidente Dilma Rousseff dedicou uma parte de sua agenda durante uma viagem ao México para negar a especulação de que Barbosa e Levy estão em desacordo em relação à política econômica.

Apoio pleno

Um funcionário que tem contato direto com Levy disse na quinta-feira que o ministro da Fazenda acredita ter apoio pleno de Dilma para realizar as medidas anticrise e que não cogitou pedir demissão.

O funcionário, que pediu para não ser identificado porque não está autorizado a falar publicamente sobre o assunto, admitiu que Levy faltou ao anúncio da última sexta-feira para protestar contra a falta de apoio dos aliados de Dilma no Congresso.

O Ministério da Fazenda preferiu não comentar o desempenho dos títulos do Brasil nesta semana. O Palácio do Planalto não respondeu a um telefonema e a um e-mail pedindo comentário.

Em abril, Dilma nomeou o vice-presidente Michel Temer, membro do PMDB, para servir de ligação entre o governo e o Congresso e assumir as negociações com os parlamentares que se opõem aos cortes, aplicados em grande parte aos programas sociais.

Propostas de Levy

Os yields (retornos) dos títulos soberanos denominados em dólar do Brasil subiram 0,1 ponto porcentual na semana passada, duas vezes a média dos mercados emergentes.

O ministro da Fazenda vem defendendo propostas no Congresso para limitar custos do governo com benefícios sociais que chegam R$ 27,3 bilhões por ano. Entre outros objetivos do congelamento do orçamento estão reduções dos gastos correntes, das despesas discricionárias do Congresso e de alguns programas de infraestrutura.

Na quinta-feira, o governo avançou no esforço para sanar as contas públicas quando o Congresso aprovou o terceiro de uma série de projetos de lei para redução de gastos e aumento de impostos.

Mas apenas dois dias antes membros da Câmara dos Deputados alteraram um projeto de lei que reduz o seguro-desemprego para permitir que alguns trabalhadores se aposentem mais cedo, frustrando os esforços de Levy.

"A saída de Levy definitivamente seria uma baixa para o Brasil, e Dilma tem muito a perder se isso acontecer", disse Czerwonko. "No momento é necessário ver o essencial e se concentrar nas melhorias fiscais. Será que elas serão suficientes para agradar os mercados e as agências de rating?".