IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

GM corta produção no Brasil com vendas em queda à espera do pior

Christiana Sciaudone e Leonardo Lara

03/06/2015 12h39

(Bloomberg) -- General Motors Co. está cortando a produção no Brasil, enquanto espera que o pior ainda está por vir na maior economia da América Latina.

Com as vendas do setor no país caminhando para uma queda de cerca de 20% neste ano, a GM pretende reduzir sua produção local em aproximadamente 100.000 veículos, ou 17%, e colocar 3.500 em layoff, de acordo com o presidente da empresa para América do Sul, Jaime Ardila. GM é a segunda maior em vendas de veículos de passageiros e comerciais leves no Brasil.

"O pior ainda está por acontecer", disse Jaime Ardila, nesta terça-feira em entrevista no escritório da montadora em São Paulo. "Vamos ter meses difíceis à frente, vamos tocar o fundo, sim, no 3º trimestre e no 4º, provavelmente, as coisas comecem a melhorar".

A queda nas vendas de automóveis no Brasil é resultado da reversão no ritmo da renda em um mercado onde os licenciamentos cresceram a uma taxa anual de cerca de 10% entre 2002 e 2012, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A maioria das principais montadoras mundiais tem fábricas no Brasil, incluindo Volkswagen AG, Toyota Motor Corp. e Honda Motor Co., além da GM.

O Brasil caminha para a mais profunda recessão desde 1990, com alta da inflação, aperto de crédito e redução da massa salarial. O PIB deve encolher 1,27% em 2015, de acordo com uma pesquisa feita pelo Banco Central em 29 de maio com cerca de 100 analistas. O governo corre para acertar as contas públicas por meio do corte de benefícios sociais e congelamento de outras despesas.

'Fundamental'

"Se a lição de casa for feita -- e para mim o fundamental é completar o ajuste fiscal, recuperar a credibilidade dos mercados, dos investidores e dos consumidores -- vejo boa chance de 2016 ser um ano melhor", disse Ardila.

As vendas de veículos caíram 25% em abril na comparação com o ano anterior, segundo dados compilados pela Bloomberg a partir da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea. No ano passado, cerca de 2,72 milhões de carros de passeio fabricados no país foram vendidos localmente, comparado com 2,88 milhões em 2013, de acordo com a Anfavea.

O corte da GM inclui a paralisação da fábrica de São Caetano do Sul, em São Paulo, em junho. Além dos layoffs, 1.500 empregados na fábrica de São José dos Campos, em SP, serão colocados em férias coletivas neste mês, disse Ardila.

A GM tem 50.000 carros nos pátios de suas fábricas e outros 50.000 nas concessionárias, equivalentes a 70 dias de vendas. Para o Brasil, o ideal são 30 dias de estoques por causa dos custos altos de capital, disse Ardila.

"A capacidade de produção da indústria está pelo menos 30% maior do que as vendas", disse Ardila. "Isso só se resolve de duas maneiras. Com a recuperação com mercado, seja local ou as exportações, ou teremos de cortar produção".

Estabilidade de empregos

A GM vai tentar manter a estabilidade dos empregos em 2015, mas se as notícias ruins continuarem vindo, em 2016 a história poderá ser diferente, disse Ardila. A taxa de desemprego no Brasil até abril estava em 6,4%, acima dos 4,9% um ano antes.

Os preços estagnados dos automóveis estão pressionando as margens da GM, disse Ardila, porque a empresa não tem conseguido recompor as perdas com a inflação muito menos cobrar mais pelas atualizações tecnológicas que promove em seus carros.

A GM manterá sua fábrica de Gravataí, no Rio Grande do Sul, em operação porque os modelos Onix e Prisma "vendem bem", disse Ardila. O real mais fraco também torna o Brasil mais competitivo para exportação, mesmo com custos maiores.

O poder público não está em condições de ajudar. Depois de anos de benefícios ao setor automotivo, o governo não tem incentivos a conceder, e os impostos têm subido, disse ele.

"É necessário para todos fazerem sacrifício no curto prazo para que a situação melhore no médio e longo prazo. E isso depende do sacrifício de todos", disse Ardila. "Para a GM o caso brasileiro é mais um ciclo, a baixa é maior do que se esperava, mas é um ciclo. O país vai se recuperar e vamos continuar com os investimentos e a confiança de que haverá uma recuperação".