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Juro real mostra Tombini menos 'agressivo' que Meirelles

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central - Wilson Dias/Agência Brasil
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Josué Leonel

10/06/2015 13h52

(Bloomberg) -- A taxa real de juros tem subido desde que o Banco Central iniciou o atual ciclo de aperto, em 2013, mas ainda está longe dos picos atingidos durante o período em que Henrique Meirelles esteve no comando do BC.

O chamado juro-real ex-ante, cálculo mais utilizado no mercado e que representa a diferença entre os juros e inflação projetados para 12 meses, está em 7,6%, maior nível desde que Tombini assumiu o BC, mas ainda é menor que nos apertos monetários comandados por Meirelles, que levou o juro a real a superar 9% em 2008, 12% em 2005 e 16% em 2003.

Enquanto o juro real é menor, Tombini enfrenta inflação maior do que em 2008, no último ciclo de alta da Selic iniciado e encerrado por Meirelles. A inflação acumulada em 12 meses, que estava em 6,4% no auge da alta dos juros em 2008, agora atinge 8,5%, e com tendência de alta.

O Banco Credit Suisse elevou a previsão para o IPCA fechado de 2015 a 9%, o dobro da meta de 4,5%. O Banco Fibra disse que a inflação bate 9% ainda em julho e permanece neste nível ao longo de todo o segundo semestre. Ou seja, ainda por um bom período, a inflação deve continuar superando largamente o rendimento da poupança, de 7,3% nos últimos 12 meses.

Expectativas de inflação hoje também são piores do que as enfrentadas por Meirelles nos seus últimos anos de BC. O mercado prevê um IPCA de 5,95% em 12 meses. Em 2008, a expectativa era de 5,4%.

Expectativas mais controladas do que hoje não foram o bastante para Meirelles, que, mesmo sob críticas, elevou a Selic a 13,75%, mesma taxa nominal de hoje, em setembro de 2008, poucos dias antes da quebra do Banco Lehman Brothers aprofundar a crise global. Apesar de a atividade econômica estar despencando no Brasil e em todo o mundo, Meirelles manteve o juro no topo no resto do ano e só começou a cortar em 2009.

Assim como hoje o Brasil enfrenta recessão, entre 2008 e 2009 o PIB brasileiro caiu por 2 trimestres consecutivos. A inflação, por sua vez, desacelerou para 4,3% em 2009. Foi a última vez em que ficou abaixo do centro, abrindo espaço para o BC cortar os juros e a economia retomar o crescimento em seguida.

Ao contrário do tom mais flexível mostrado durante os seus primeiros 4 anos à frente do BC, Tombini agora tem assumido uma postura mais dura. A alta da inflação, que superou as expectativas no índice de maio divulgado nesta quarta-feira, reforça as apostas do mercado em pelo menos mais uma alta da Selic de 0,50 pp em julho, o que levaria a taxa a 14,25%. Os investidores ainda se dividem entre estabilidade e mais uma alta de 0,25 pp em setembro.

Embora a Selic tenha chegado a 13,75% após a elevação da semana passada, mesmo nível do pico de 2008, o juro real é menor porque a inflação é hoje mais elevada. Mesmo que pratique juro real menor, Tombini, em fase de reconquistar credibilidade na política monetária, deve manter o juro no topo por mais tempo do que Meirelles. Negócios com DI apontam que Selic deve permanecer acima de 14% até fevereiro de 2016.

"O BC deverá estar bem convencido da melhora de expectativas antes de parar de subir a Selic", diz o economista Flávio Serrano, do BESI Investimentos. ''Ele não poderá correr o risco de ver a inflação acima da meta em 2016.''