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Empresas aéreas dos EUA têm problemas para ganhar confiança de investidores em meio a preocupação com excesso de capacidade

Mary Schlangenstein

12/06/2015 15h27

(Bloomberg) - As empresas aéreas americanas estão sendo maltratadas por investidores preocupados com que o setor possa retomar seu antigo e custoso hábito de acumular muita capacidade, o que complica cobrar mais caro pelas passagens.

Apesar de os aviões voarem cheios e as operadoras estarem desfrutando de uma economia de bilhões de dólares em combustível, as ações estão sob pressão porque um indicador de referência da receita está declinando. Essa medida sugere que as empresas aéreas estão perdendo poder para fixar preços, o que evoca as recorrentes guerras de preços que minavam os lucros no passado.

"Este é um setor que Wall Street adora detestar", disse Eric Marshall, presidente da Hodges Capital Management Inc., entre cujas posses há ações da American Airlines Group Inc. e da United Continental Holdings Inc. "É uma área que não ganhou seu custo de capital durante vinte a trinta anos e tinha o costume de acrescentar uma capacidade excessiva nos momentos errados do ciclo".

Aquisições, fusões e falências reviveram as operadoras americanas depois de US$ 58 bilhões em perdas nos nove anos encerrados em 2009. O Bloomberg U.S. Airlines Index subiu cerca de 80 por cento em 2013 e em 2014, os maiores ralis anuais da história. Não obstante, neste ano, o indicador com onze operadoras caiu 17 por cento até a quinta-feira.

A depressão contrasta com a visão das finanças das empresas aéreas de alguns analistas. Imediatamente depois do recorde de 2014, os lucros da American, excluindo alguns itens, aumentarão mais de 50 por cento neste ano, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg. O total da Delta Air Lines Inc. poderia saltar quase um terço.

'Ir embora'

"A pergunta dos investidores é: 'quanto isto poderia melhorar mesmo?'", disse George Ferguson, analista sênior da Bloomberg Intelligence. "As pessoas estão dizendo: 'talvez seja o momento para ir embora e esperar para ver o que acontece em vez de deixar esse dinheiro investido'".

Empresas aéreas com descontos como a Southwest Airlines Co. e a Spirit Airlines Inc. estão aumentando a capacidade dos aviões mais rapidamente do que o crescimento no PIB dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg, pondo à prova a determinação das rivais de maior tamanho de manter as passagens como estão. Quando o CEO da American, Doug Parker, disse à Bloomberg no mês passado que ele revidaria com os preços, o índice de empresas aéreas teve sua maior queda desde 2011.

Concorrer por participação no mercado dos EUA é a última coisa que os investidores desejam ver, disse Ferguson na quinta-feira. O país tem sido um ponto positivo incomum em um setor global convulsionado por riscos cambiais e pela fraqueza econômica, disse ele.

Agitação

Com lucros em alta e uma queda de 38 por cento no preço do combustível nos últimos doze meses, a agitação do mercado acionário pela conduta das empresas aéreas é impressionante, segundo Jamie Baker, analista do JPMorgan Chase Co.

Os rendimentos, isto é, a média de preços por milha, caíram para o setor norte-americano durante quatro trimestres consecutivos, segundo dados compilados pela Bloomberg. A tendência continuará, disse Ferguson, porque as empresas aéreas cederão parte dos ganhos obtidos com a queda dos preços do combustível para se engajar na briga pela participação no mercado.

Nesta semana, a Southwest pisou no freio para seus planos de crescimento, dizendo que planejava limitar a capacidade de transporte no próximo ano a cerca de 6 por cento, em vez do teto anterior de 7 por cento.

O problema é que a perspectiva da Southwest "continua parecendo bastante fora de sintonia com as expectativas de crescimento econômico de muitos investidores", disse Duane Pfennigwerth da Evercore ISI em uma nota.

Marshall, da Hodges Capital, com sede em Dallas, disse que as empresas aéreas ainda têm que demonstrar seu valor depois dos prejuízos da última década.

"O setor terá que ter uma conduta mais racional", disse Marshall. "Mas eu não acho que Wall Street lhes dê crédito por isso enquanto não mostrarem essa disciplina ao longo de um ciclo inteiro".

Título em inglês: 'U.S. Airlines Struggle for Investor Trust Amid Seat-Glut Concern'

Para entrar em contato com a repórter: Mary Schlangenstein, em Dallas, maryc.s@bloomberg.net