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Construtoras chinesas dão até Porsche para tentar desovar imóveis encalhados

Bloomberg News

18/06/2015 16h21Atualizada em 18/06/2015 17h26

(Bloomberg) - As endividadas construtoras da China estão recorrendo a incentivos como carros de luxo na corrida para reduzir um estoque de casas encalhadas de cerca de sete vezes o tamanho de Manhattan (EUA).

Em maio, a Hopson Development Holdings ofereceu um Porsche grátis ou descontos de até 11% para os primeiros 30 compradores de apartamentos de um complexo no sul da China. A Evergrande Real Estate Group permite aos compradores de casas que cancelem aquisições e recuperem todo seu dinheiro em qualquer momento antes de se mudarem para seus apartamentos.

Tais ofertas enfatizam a urgência entre as construtoras, enquanto aproveitam uma nascente recuperação das vendas e dos preços para gerar dinheiro e reduzir um recorde de dívida. Ainda não fica nada claro se a recuperação ganhará força: embora as vendas no país todo tenham saltado 32% em maio em relação há um ano, a construção e os investimentos em propriedades continuam reprimidos.

"Aproveitando essa oportunidade de leve melhoria da percepção, as construtoras estão tentando vender rapidamente para ganhar liquidez", disse Kaven Tsang, analista sênior da Moody's Investors Service em Hong Kong.

Incentivos generosos para atrair compradores são comuns na China, mas a vacilante situação financeira dos desenvolvedores está aumentando a urgência por desovar os estoques de casas sem vender, que chegam a 430 quilômetros quadrados, maior valor em três anos.

Reversão

Apenas duas das 25 grandes construtoras chinesas acompanhadas pela Bloomberg Intelligence geraram um fluxo de caixa positivo com operações e investimentos em 2014. Enquanto isso, sua dívida líquida combinada saltou para o recorde de 919 bilhões de yuans (US$ 148 bilhões).

Depois que a queda das vendas e dos preços pressionou as construtoras, o governo da China começou a reverter sua política no ano passado e levantou algumas restrições sobre as propriedades, atiçando uma recuperação. Dados oficiais sobre os preços de casas publicados nesta quinta-feira mostraram que os preços caíram em menos cidades em maio do que no mês anterior.

Os desenvolvedores reduziram 31% suas compras de terrenos nos primeiros cinco meses do ano, e o começo de novas construções caiu 16%, o que sugere que eles não estão convencidos da fortaleza da recuperação. Os construtores também estão evitando subir os preços, disse Yang Kewei, analista da consultoria e empresa de dados sobre propriedades China Real Estate Information.

A Evergrande, que espera a maior contração das vendas para este ano entre as desenvolvedoras chinesas listadas, disse em abril que os compradores do país inteiro podem recuperar seu dinheiro sem terem que dar motivos em qualquer momento antes de tomarem posse das suas casas.

Dívidas

A razão líquida entre a dívida e o patrimônio da Hopson era de 75,7% no fim de 2014, a mais alta em uma década. Contabilizando títulos sem vencimento como dívida em vez de ações, a dívida líquida da Evergrande era de quase o triplo do seu patrimônio em 31 de dezembro, segundo a Bloomberg Intelligence.

A oferta de incentivos impressionantes permite que os desenvolvedores evitem recorrer a descontos abertos que poderiam alienar compradores anteriores de apartamentos em um projeto.

"Essas promoções podem ter um valor importante e poderiam reduzir o custo efetivo de uma casa nova em 10% ou mais mesmo se o preço não mudar", disse o analista da Bloomberg Intelligence Robert Fong. "No passado, os descontos causaram protestos dos primeiros compradores e interrupções nas vendas".

Reduzir os estoques das construtoras talvez demore mais tempo agora do que em 2013, a última vez que o mercado de propriedades viveu um boom. Os 5,2 bilhões de metros quadrados de projetos em desenvolvimento no fim do ano passado equivalem a um espaço quase cinco vezes maior do que o das casas vendidas em 2014, de 1,1 bilhão de metros quadrados, segundo a secretaria de estatística.

"O estoque continua alto no país todo, e a pressão sobre as construtoras persiste", disse Liu Yuan, diretor de pesquisa da Centaline Group em Xangai.