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Lula, antigo queridinho do mercado de bonds, agora ameaça aumentar desgraças do Brasil

Julia Leite e Paula Sambo

26/06/2015 11h45

(Bloomberg) -- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou o queridinho do mercado de bonds orquestrando a ascensão do Brasil ao grau de investimento, agora ameaça ampliar os tormentos do país.

Os bonds do governo em moeda local caíram na quinta-feira como parte da corrida para vender dos mercados financeiros do país depois que um jornal informou que havia sido apresentada uma medida legal para evitar que Lula fosse preso como parte da maior investigação de subornos da história do país. Um porta-voz de Lula, 69, disse que o ex-presidente não adotou tal medida legal.

Os procuradores também disseram que Lula não é alvo da investigação sobre a estatal Petrobras. Contudo, qualquer sopro de especulação ligando Lula ao escândalo de corrupção representaria um golpe para um país que está tentando restaurar sua posição entre os investidores. Durante os oito anos de mandato de Lula, que terminaram em 2010, o Brasil conquistou mais de uma dúzia de elevações do rating em um momento em que a maior economia da América Latina registrou seu crescimento mais rápido em 25 anos.

"A profundidade do escândalo da Petrobras é tão dramática que continua sendo um peso significativo no mercado", disse Geoffrey Dennis, chefe de estratégia de mercados emergentes do UBS AG. "Se ele puxar mais políticos importantes, isto será visto como uma ocorrência negativa".

Segundo um documento postado em seu site, um tribunal do estado do Paraná recebeu o chamado pedido de habeas corpus apresentado em nome de Lula. O pedido, que permite que os presos busquem ser libertados após uma detenção ilegal, foi feito por Maurício Ramos Thomaz, que não representa Lula, segundo uma porta-voz para a imprensa do tribunal.

Salto nos yields

Salto nos yields

Lula disse a advogados que pedissem que o tribunal ignorasse o pedido, segundo um comunicado enviado por e-mail por seu instituto.

A queda nas notas denominadas em reais para 2025 do Brasil elevou os yields em 0,17 ponto porcentual na quinta-feira, para 12,74 por cento. Os bonds do país perderam 11 por cento em dólares neste ano, mais de duas vezes a queda média dos mercados emergentes, segundo o JPMorgan Chase Co. O real caiu 0,9 por cento na quinta-feira, o que significa uma desvalorização de 15 por cento neste ano frente ao dólar.

"Se Lula estiver implicado, isso representaria um aprofundamento do escândalo", disse Marco Santamaria, gestor da AllianceBernstein LP, que supervisiona US$ 500 bilhões. "É essa incerteza que está mantendo os mercados no limite".

Consequência do escândalo

Na semana passada, Marcelo Odebrecht, presidente do conglomerado Odebrecht SA, foi preso pela polícia por conta de alegações que surgiram durante as investigações policiais de que empresas construtoras pagaram propinas à Petrobras em troca de contratos. O grupo disse na sexta-feira que apelará da prisão de Odebrecht, disse a advogada Dora Cavalcanti a jornalistas, em São Paulo.

A investigação da Petrobras, que também levou a Moody's Investors Service a reduzir a nota da produtora de petróleo para junk (grau especulativo) em fevereiro, já implicou mais de 20 empresas e levou três grandes construtoras a pedirem recuperação judicial para algumas de suas unidades.

O caso de subornos minou a confiança na presidente Dilma Rousseff, sucessora escolhida a dedo por Lula, em um momento em que ela tem dificuldades para reanimar a economia e reforçar as finanças do país com o intuito de evitar um rebaixamento do rating.

"Se Lula for colocado sob investigação formal e enfrentar ações penais, as repercussões podem ser desastrosas para Dilma", disse Christopher Garman, analista da Eurasia Group, em uma nota enviada por e-mail. "Isso valida nossa visão de longa data de que o indiciamento de Lula na investigação sobre corrupção e os riscos de contágio econômico que fluem da investigação, de uma maneira mais ampla, são as únicas grandes ameaças a minar a gestão fiscal e a governabilidade".

Título em inglês: Lula, Bond-Market Favorite, Now Threatens to Deepen Brazil Woes

Para entrar em contato com os repórteres:

Julia Leite, em Nova York, jleite3@bloomberg.net;

Paula Sambo, em São Paulo, oupsambo@bloomberg.net.