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Bonds venezuelanos ficam presos no novo padrão de preços do petróleo diante do fim do rali

Nathan Gill

30/06/2015 13h22

(Bloomberg) - A subida dos preços do petróleo bruto neste ano, embora tenha sido pequena, trouxe alívio aos detentores de bonds venezuelanos e equatorianos depois que o colapso do ano passado dizimou a receita dos produtores de petróleo e gerou a preocupação de que eles estivessem ficando sem dinheiro.

Agora, o pessimismo voltou.

Embora os futuros do petróleo em Nova York tenham aumentado 34 por cento desde que registraram em março o menor valor em seis anos, eles continuam 45 por cento abaixo do pico de 2014 e provavelmente rondem esse patamar pelo restante do ano, com base nas previsões de analistas compiladas pela Bloomberg. Isso significa que os países andinos poderiam ter dificuldades para encontrar dinheiro suficiente para continuar pagando suas dívidas e apoiar os programas sociais populares que ajudam a manter a estabilidade.

"A coisa vai ficar muito mais difícil se os preços do petróleo não mudarem", disse Sarah Glendon, diretora de pesquisa sobre bonds soberanos da Gramercy Funds Management LLC em Greenwich, Connecticut, em entrevista por telefone, na segunda-feira. "Os preços altos do petróleo ocultaram os desafios que ambos os governos enfrentavam, o que lhes permitiu adiar reformas muito importantes que precisavam ser feitas".

O Ministério de Informação da Venezuela e as assessorias de imprensa dos ministérios de Política Econômica e Economia do Equador não responderam a e-mails com pedidos de comentários sobre o desempenho da dívida dos países.

Os melhores retornos

Os bonds venezuelanos retornaram 8,81 por cento em média desde o começo do ano, a maior taxa entre as notas denominadas em dólares das principais economias latino-americanas, mostram dados compilados pela Bloomberg. Os bonds do Equador ganharam 7,44 por cento.

Em contraste, a média de títulos de mercados emergentes cresceu apenas 0,71 por cento.

O desempenho superior dos bonds se deu porque os preços do petróleo subiram para cerca de US$ 58 por barril, em comparação com o valor mais baixo em seis anos, US$ 43,46, registrado em março.

Entre outras medidas, os dois países também disseram que obtiveram, combinados, pelo menos US$ 9 bilhões em compromissos de financiamento com a China em 2015, o suficiente para ajudar a desafiar por enquanto as advertências mais pessimistas de que eles estavam ficando sem dinheiro.

Mesmo assim, a Venezuela e o Equador, os únicos dois países latino-americanos que são membros da OPEP, têm consumido suas reservas em moeda estrangeira. Eles também promulgaram medidas de política econômica que poderiam deter o crescimento econômico.

Na Venezuela, onde os traders de swaps de crédito estimaram 95 por cento de chance de calote nos próximos cinco anos, entre as medidas tomadas para compensar o impacto da queda dos preços do petróleo esteve a criação do quinto mercado cambial paralelo do país em doze anos para impulsionar a oferta de dólares, a pressão sobre sua unidade de refino de petróleo nos EUA para obter US$ 1,5 bilhão e o desmantelamento do programa preferido do falecido presidente Hugo Chávez que fornecia petróleo barato aos aliados do país.

Corte de gastos

O governo do Equador diminuiu seus gastos planejados para 2015 em cerca de 4 por cento, conseguiu US$ 4,2 bilhões em acordos de crédito com a China para este ano e recorreu aos mercados de crédito para obter US$ 750 milhões em março com o yield mais alto para um bond soberano a cinco anos desde 2002. O governo reabriu em maio a emissão de seus bonds a 10,5 por cento com vencimento em 2020 e vendeu outros US$ 750 milhões com a taxa mais baixa de 8,5 por cento.

O yield extra, ou diferencial, por preferir bonds da Venezuela aos títulos do Tesouro dos EUA se reduziu para 26,97 pontos porcentuais, em comparação com mais de 34 pontos porcentuais em janeiro, segundo o JPMorgan Chase Co. No caso do Equador, o diferencial caiu de mais de 10 pontos porcentuais em janeiro para 8,21 pontos porcentuais.

Os bonds do Equador e da Venezuela "foram punidos duramente no fim do ano passado por causa dos preços do petróleo", disse Santiago Mosquera, vice-presidente da corretora Analytica Securities, com sede em Quito, em entrevista por telefone. "De agora em diante, não vejo nenhuma possibilidade de redução dos diferenciais no Equador, a menos que o preço do petróleo suba ou que a perspectiva política mude magicamente".

Título em inglês: 'Venezuela Bonds Trapped by Oil's New Normal as Relief Rally Ends'

Para entrar em contato com o repórter: Nathan Gill, ngill4@bloomberg.net