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O que a forte desaceleração da América Latina significa para os EUA

David Biller

30/06/2015 13h25

(Bloomberg Business) -- Enquanto o mundo assiste nervosamente ao fim das negociações da dívida grega, há um outro pedaço do planeta que passa por dificuldades.

O crescimento na maior parte da América Latina e do Caribe está parando bruscamente, arrastado por Argentina, Brasil e Venezuela. Os economistas estimam que a região (excluindo o México) terá uma expansão quase inexistente neste ano, de 0,1%, uma projeção que significaria um resultado pior que o dos EUA pelo segundo ano consecutivo.

Eis o que isso significa para os EUA.

1. Queda nas exportações

O crescimento mais lento já está reduzindo as exportações de produtos dos EUA para a América do Sul e a América Central: elas caíram 13% nos quatro primeiros meses de 2015 em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Departamento do Censo dos EUA. As fábricas americanas estão lidando não apenas com uma demanda mais fraca ao sul, mas também com um dólar forte que torna as importações de produtos americanos mais caras para a América Latina. As cinco maiores economias da região viram suas moedas se desvalorizarem em média 19% em relação ao dólar americano nos últimos 12 meses.

2. Diminuição do número de turistas

Os anos de expansão na América Latina e no Caribe ajudaram a impulsionar a renda disponível de seus habitantes e destinos populares dos EUA tiraram grande proveito do aumento do número de turistas provenientes dessas regiões. Com essas economias estagnando, esses mesmos lugares turísticos estão sofrendo um golpe. Os visitantes da América Latina que pernoitam em Miami -- e seus gastos -- caíram em 2014 pela primeira vez desde 2003, segundo o Greater Miami Convention Visitors Bureau. O declínio foi impulsionado pela declínio do número de turistas e executivos de negócios argentinos, brasileiros e venezuelanos.

3. Um relacionamento reatado?

Mas nem todas as notícias são ruins. A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, chegou aos EUA no último fim de semana para sua primeira visita oficial desde que cancelou uma viagem em 2013 em meio a acusações de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês) estava espionando suas comunicações. "Se você olhar historicamente, as relações entre os EUA e a América Latina tendem a ser melhores quando as economias da América Latina não estão bem", disse Harold Trinkunas, diretor da Iniciativa América Latina da Brookings Institution. "De repente o Brasil está mais amigável com os EUA. Coincidência? Eu não sei. A economia tem mais problemas, eles precisam de um pouco mais de ajuda".

O colega venezuelano de Dilma, Nicolás Maduro, também baixou o tom de sua retórica anti-imperialista depois que integrantes de seu governo iniciaram reuniões com seus pares do Departamento de Estado dos EUA. (Caso você esteja por fora, muito poucas economias do mundo vivem uma crise tão profunda quanto a da Venezuela atualmente).

Além de simplesmente reatar as relações, Dilma e os integrantes de sua equipe econômica estão vendendo oportunidades de investimento em projetos de logística e infraestrutura avaliados em dezenas de bilhões de dólares e discutindo possíveis acordos para incrementar o comércio.

O investimento direto no Brasil (montante de dinheiro que os estrangeiros gastaram em investimentos duradouros no país) caiu em 2014 pelo terceiro ano seguido. A expectativa é de uma nova queda neste ano, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).