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China diz aos investidores: apostem sua casa nas ações

Bloomberg News

03/07/2015 15h57

(Bloomberg) - Na China, agora você pode literalmente apostar sua casa no tumultuoso mercado acionário do país.

De acordo com as novas regras anunciadas pelo regulador de títulos do país na quarta-feira, os imóveis se tornaram uma forma aceitável de garantia para os traders chineses de margens, que tomam dinheiro emprestado de corretoras de valores para amplificar suas apostas nas ações. Isso significa que se os preços das ações tiverem uma queda suficiente, os investidores particulares que comprometerem suas casas poderiam correr o perigo de perdê-las para um corretor.

Embora a intenção da mudança nas normas fosse ajudar a revigorar a confiança no mercado acionário de US$ 7,3 trilhões da China, que caiu quase 30 por cento em menos de três semanas, os analistas dizem que as corretoras de valores poderiam relutar em acompanhar a medida. Aceitar imóveis como garantia prenderia as corretoras a outro setor problemático da economia, o que aumentaria os desafios para a gestão de riscos enquanto elas tentam desbravar o mercado acionário mais volátil do mundo.

"A medida soa um tanto ou quanto desesperada", disse Wei Hou, analista da Sanford C. Bernstein em Hong Kong. "No mundo todo, ativos ilíquidos como os imóveis não são aceitos como garantia por serem muito difíceis de liquidar".

As novas diretrizes também permitem utilizar ações sem listagem e "outros ativos" como colateral para os traders de margens que não têm suficiente valor em suas contas acionárias para pagar os empréstimos. A Comissão Reguladora de Valores da China não deu retorno a uma consulta sobre as mudanças enviada por fax, e a Citic Securities Ltd., a maior corretora do país, não quis comentar.

Corrida para venda em Xangai

"Simplesmente não é prático", disse Chen Gang, diretor de investimentos da Shanghai Heqi Tongyi Asset Management Co. Ele comentou em tom de piada com os colegas que os corretores teriam que se tornar especialistas em tudo, de imóveis a antiguidades, considerando a quantidade de ativos que os clientes poderiam chegar a comprometer.

"Os corretores não são burros", disse Hao Hang, estrategista da Bocom International Holdings Co. para a China em Hong Kong. "Não acho que eles estariam dispostos a aceitar esse tipo de garantia".

O Shanghai Composite Index fechou na quinta-feira abaixo do nível de 4.000 pela primeira vez desde abril, mesmo depois que as bolsas reduziram taxas e o ente regulador de valores lançou suas revisões da norma para o financiamento de margens antes do previsto por causa das "condições do mercado". Os declínios desde 12 de junho subtraíram pelo menos US$ 2,4 trilhões do valor das ações chinesas, mais do que todo o valor de mercado da França.

Os traders de margens, que impulsionaram as apostas alavancadas em nove vezes, para 2 trilhões de yuan (US$ 322 bilhões) nos últimos 24 meses, vêm liquidando essas posições há oito dias consecutivos, um período recorde.

Risco controlado

Na Haitong Securities Co., a terceira maior corretora da China, o secretário do conselho, Huang Zhenghong, disse que a empresa implementará as novas normas e descreveu os riscos em sua divisão de finanças de margens e empréstimos de títulos como "controláveis". Huang não comentou exatamente quais tipos de garantias a Haitong aceitará.

Para Chen, é improvável que as normas menos estritas para o trading de margens consigam amparar o mercado. Ele disse que uma suspensão por seis meses das aberturas de capital, que tendem a afetar o mercado acionário porque desviam fundos das ações já existentes, seria mais efetiva.

"É como se sua namorada terminasse com você e, de repente, você decidisse comprar um anel de um quilate para ela" em vez de algo muito maior, disse Chen. "É inútil".

Título em inglês: 'China Tells Investors: Go Ahead, Bet the House on Stocks (1)'

Para entrar em contato com o repórter: Kyoungwha Kim, em Hong Kong, kkim19@bloomberg.net; Jun Luo, em Xangai, jluo6@bloomberg.net; Aipeng Soo, em Pequim, asoo4@bloomberg.net