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Galinha Pintadinha quer dominar o mundo. Próxima parada: EUA

Christiana Sciaudone e Denyse Godoy

14/07/2015 07h59

(Bloomberg) -- A maior estrela do YouTube brasileiro é uma galinha azul com pintas brancas que se prepara agora para conquistar outros países a partir dos Estados Unidos com sua nova versão, que fala inglês e se chama Lottie Dottie.

Ao menos, são esses os planos dos seus pais, Juliano Prado e Marcos Luporini, com mais de 1,8 bilhão de visualizações desde que postaram o primeiro vídeo da sua criação, em 2006. Tamanha popularidade, que começou com a divulgação apenas na base do boca-a-boca, é comparável somente à popularidade, entre adolescentes, de estrelas de carne e osso como Justin Bieber.

No ano passado, a Galinha Pintadinha foi responsável por uma receita de aproximadamente US$ 600 milhões em produtos com a sua imagem, mais do que as marcas Ferrari e o bilionário Donald Trump ajudaram a arrecadar, segundo dados do website License! Global, especializado no mundo dos licenciamentos. A liderança nesse ranking é da Disney, responsável pelas carreiras das princesas Anna e Elsa, da animação Frozen, e hoje dona também das marcas Star Wars e dos heróis dos quadrinhos Marvel, que permitiram alcançar a soma de US$ 45 bilhões apenas em permissões de uso das imagens desses personagens no período.

O sucesso dos desenhos da galinha azul mostra o poder da mídia online e da crescente influência do mercado latino- americano, segundo Devra Prywes, vice-presidente da empresa de tecnologia para publicidade online Unruly.

"Se você tem conteúdo de qualidade, as crianças não ligam se você está trabalhando da sua garagem ou se você é a Disney", diz Devra em entrevista por telefone. "Vídeos online e compartilhados via rede social são os maiores equalizadores."

A Galinha Pintadinha já estampa tablets, sapatos e pastas de dente no Brasil e versões gigantes dela e de seus amigos, a baratinha mentirosa e o sapo que não lava o pé, animam as primeiras festas de aniversário de crianças.

Demônio ou salvação?

"Demônio!", um pai se queixa na página da Internet da animação, às vezes psicodélica e com músicas irritantemente fofas. Para outros genitores, é um mal necessário. "Minha salvação diária", comenta uma mãe.

A Bromélia Produções Ltda., produtora de 12 pessoas fundada por Prado e Luporini, tem recebido propostas de compra de parte ou de toda a empresa e está desenvolvendo um programa para a TV, disseram os dois criadores. Os vídeos já estão disponíveis no Netflix, com traduções em desenvolvimento para serem lançadas ainda neste ano.

De muitas formas, foi por acaso que os animadores chegaram tão longe. Ex-colegas de banda do colégio, Prado produzia cartões animados e Luporini trabalhava em um estúdio de música quando decidiram ressuscitar canções de sua infância no seu tempo livre.

Eles marcaram uma reunião com uma TV local para apresentar a ideia em 2006, mas não conseguiram chegar a tempo. Então, eles jogaram o vídeo no YouTube para que um amigo que os representava apresentasse o projeto. O encontro não deu em nada, mas o vídeo alcançou mais de meio milhão de acessos em alguns poucos meses. Os pais queriam mais. Quatro DVDs e dezenas de vídeos se seguiram.

"É surreal", diz Prado. "Nosso maior sonho na época era colocar o DVD nas prateleiras."

O Youtube não respondeu aos pedidos de comentários para esta matéria.

Entrar no mercado norte-americano será significativamente mais difícil do que no Brasil, diz Devra, da Unruly. "Como eles pretendem dominar o mundo, estão tendo a necessidade de adaptar sua mensagem e o formato dela para diferentes regiões do planeta", disse Prywes. A galinha que canta "não vai desencadear os mesmos reconhecimento e nostalgia em uma audiência global" na avaliação dela.

Mesmo assim, o culto à Galinha Pintadinha já conquista adeptos entre as famílias de língua espanhola após a estreia de La Gallina Pintadita quatro anos atrás. Já são mais de 1 bilhão de visualizações no YouTube em diversos países. Cerca de 15% da receita da empresa com aplicativos agora vem dos EUA, contra zero no ano passado.

"O mercado americano abre a porta para o resto do mundo", diz Vera Pacheco, professora de marketing da FAAP. "Todas as empresas querem estar lá."