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Empresas prometem acabar com a guerra do ar-condicionado em escritórios

Rebecca Greenfield

23/07/2015 17h00

(Bloomberg Business) -- Este é um daqueles dias de verão em que o ar parece água e tem cheiro de lixo e em que ir e vir do trabalho exige um banho a mais. Claro, as penúrias de um dia de verão não podem ser completamente eliminadas, mas, e se a temperatura do escritório não fosse mais um problema?

E se as oito horas de trabalho em ambiente fechado tivessem a temperatura perfeita, que não fosse nem uma tundra, com o ar-condicionado em uma temperatura excessiva, nem um lembrete sudoroso do calor infernal que te espera lá fora?

Essa é a utópica realidade das 700 pessoas que trabalham nos escritórios da AppNexus de Nova York. A startup usa o Comfy, um aplicativo que permite que os funcionários decidam o clima do escritório, e não o pessoal da manutenção.

O software da Comfy se conecta aos sistemas de aquecimento e resfriamento de um escritório, permitindo que as pessoas controlem a temperatura ambiente, e ao mesmo tempo aprende os hábitos e preferências dos usuários para regular o clima de um determinado espaço.

Os trabalhadores que usam o Comfy têm três opções: aqueça meu espaço, esfrie meu espaço ou "estou comfy" ("confortável", em português). Se optam pelo resfriamento, eles têm 10 minutos de ar-condicionado. Quem pede calor recebe 10 minutos de ar mais quente.

Dados preliminares de um estudo sobre um edifício de escritórios que usa o Comfy apontou que 83% dos usuários do aplicativo estavam "mais" ou "muito mais" satisfeitos do que antes.

O Comfy é um dos vários novos aplicativos e produtos desenvolvidos para fornecer uma maior personalização do clima do escritório, permitindo que as pessoas com calor recebam uma brisa e que as pessoas com frio mantenham o ar em um nível mínimo.

Guerra fria

Quando o ar-condicionado chegou pela primeira vez aos escritórios no início do século 20, gerou uma maior produtividade e transformou a economia dos EUA.

Agora, acostumados a temperaturas confortáveis durante todo o ano, os funcionários brigam por causa de alguns graus: a temperatura está entre as questões mais controversas no local de trabalho moderno, de acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Internacional de Gerenciamento de Instalações.

"O ambiente térmico é frequentemente o maior problema em edifícios de escritórios", diz Judith Heerwagen, psicóloga ambiental da Administração de Serviços Gerais dos EUA.

Em meados dos anos 1990, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley criaram um controle de temperatura utópico, ao testar uma de suas invenções, considerado como um remédio para as discussões sobre a temperatura nos escritórios.

A equipe instalou um aparelho chamado Personal Environment Module (PEM, ou "módulo de ambiente pessoal") em 42 mesas nos escritórios do Bank of America em São Francisco.

Fabricado pela Johnson Controls, o PEM estava conectado a dutos de ar e proporcionava a cada mesa o seu próprio microclima. Usando um painel de controle, os trabalhadores de cada mesa podiam ajustar o calor ou o ar-condicionado em seu cubo por meio de ventiladores e painéis de aquecimento.

"Funcionava muito bem", diz Edward Arens, diretor do Centro de Pesquisa de Design Ambiental em Berkeley. Mas o PEM não era prático, porque cada estação de trabalho precisava estar ligada fisicamente aos sistemas de aquecimento e resfriamento.

"Ele nunca decolou de fato", diz Arens. "Ele era considerado como algo muito caro".

Realidade acessível

Mas agora a promessa do PEM se transformou em uma realidade acessível.

Antes de a AppNexus adotar o Comfy em abril, Cadi Thomas, que trabalha na equipe de instalações da empresa, recebia constantes reclamações sobre áreas muito geladas ou quentes.

"As pessoas começaram a escrever e-mails tipo Dickens, dizendo que estavam com frio e que estavam trabalhando de luvas", diz ela. "Recebi uma série de pedidos desesperados". Thomas colocava o termostato em um ponto médio, mas deixava uma parte de seus colegas descontente.

Em um mundo pós-Comfy, Thomas já não recebe reclamações. E não se trata de configurações de temperatura. Trata-se de controle. "Parece funcionar como um efeito placebo", diz Thomas, "porque dá às pessoas o poder" de sentir uma sensação de controle sobre seu ambiente.