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Professor de Harvard agora diz que a Venezuela não conseguirá evitar calote em 2016

Katia Porzecanski e Sebastián Boyd

28/07/2015 13h53

(Bloomberg) - Ricardo Hausmann, professor da Universidade Harvard, questionou no ano passado por que a Venezuela continuava pagando aos detentores de bonds enquanto a crise econômica do país impunha sacrifícios a seu povo. Ele sugeriu que o país deixasse de honrar a dívida.

Agora, Hausmann está dizendo que a Venezuela não tem escolha a não ser dar calote no ano que vem.

A crise no país se intensificou desde que ele evocou essa possibilidade em setembro, quando disse que não encontrava "bases morais" para o país pagar a dívida em meio à escassez de coisas como medicamentos básicos e papel higiênico. Nesses onze meses, os bonds da Venezuela perderam 34 por cento. Hausmann, que foi ministro de Planejamento depois do golpe de Estado fracassado de Hugo Chávez em 1992, agora estima que a queda dos preços do petróleo e os gastos desenfreados incharam o déficit fiscal da Venezuela para mais de 20 por cento do PIB.

"Os mercados estavam certos quando disseram que essa situação é completamente insustentável", disse Hausmann, diretor do Center for International Development de Harvard, em entrevista por telefone de Madri. "Não que o governo esteja planejando dar o calote. Acho que eles simplesmente vão esbarrar com um. Talvez eles consigam pagar as parcelas que vencem em outubro, mas ninguém está achando que eles vão conseguir fazer os pagamentos de 2016".

A Venezuela e sua petroleira estatal devem pagar parcelas de bonds de cerca de US$ 5 bilhões nos últimos três meses deste ano e de cerca de US$ 10 bilhões em 2016, segundo estima o Bank of America Corp.

Chances de calote

Os traders de derivativos agora estimam a probabilidade de a Venezuela dar calote nos próximos doze meses é de 67 por cento e de 96 por cento daqui a cinco anos, mostram dados compilados pela CMA. Os bonds do país denominados em dólares com vencimento em 2027 são negociados a 40 centavos por dólar, frente a 74 centavos quando o artigo de opinião de Hausmann intitulado "Should Venezuela Default?" (A Venezuela deveria dar calote?) foi publicado pelo Project Syndicate, no dia 5 de setembro.

Uma semana depois da publicação, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, atacou o professor, instruindo o procurador-geral e o promotor público a tomar "medidas" contra ele. Maduro, o sucessor escolhido a dedo por Chávez, descreveu Hausmann como um "sicário financeiro" e "bandido" que tentava desestabilizar o país sugerindo que o governo ia dar o calote na dívida.

Oposição

Hausmann também enfrentou o economista do Bank of America Francisco Rodríguez, que disse que a Venezuela fará o que for preciso para evitar a interrupção do pagamento dos bonds em moeda estrangeira. Um calote seria custoso para o país-membro da OPEP e para sua produtora de petróleo bruto, a Petróleos de Venezuela SA, cujos ativos petrolíferos no mundo inteiro poderiam ser confiscados, disse ele.

Hausmann disse que o esforço da Venezuela para reduzir as importações a fim de conter o escoamento de moeda forte é uma solução "ineficaz". Para Rodríguez, essa política econômica está ajudando o país que vem cambaleando por causa do desmoronamento de 52 por cento nos preços do petróleo bruto nos últimos doze meses a não se atrasar com seus bonds. O petróleo responde por cerca de 95 por cento da receita obtida pela Venezuela com exportações.

Hausmann, que estima que a inflação anual agora tenha subido para cerca de 200 por cento porque o governo está imprimindo bolívares para financiar o gasto, disse que a Venezuela deveria solicitar auxílio ao FMI para pagar as dívidas e, potencialmente, impor perdas aos credores privados com uma reestruturação dos bonds.