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Brasil: Outlook negativo da S&P testa força de Levy para evitar perda do grau de investimento

Raymond Colitt e Arnaldo Galvão

29/07/2015 11h32

(Bloomberg) -- A semana que já se apresentava particularmente negativa para o governo ficou ainda pior na terça-feira quando a Standard Poor's divulgou que mudou para negativa a perspectiva da nota de classificação e risco do Brasil.

Seis dias antes, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi obrigado a abandonar sua ambiciosa meta de superávit primário ao admitir que a economia prevista de R$ 66,3 bilhões para este ano teria de ser reduzida para apenas R$ 8,7 bilhões. Segundo os comentários da S&P, a perspectiva sombria de crescimento e a crescente incerteza no Congresso podem levar ao rebaixamento da nota do Brasil.

Levy, conhecido como "Mãos de Tesoura" por seu estilo de cortar despesas, foi surpreendido por uma arrecadação decepcionante e pela dura oposição do Congresso às medidas de austeridade, aumentando as probabilidades de que ele fracasse em sua missão de evitar a perda do grau de investimento para a maior economia da América Latina, disse John Welch, estrategista do Canadian Imperial Bank of Commerce.

"Sua credibilidade e capacidade para entregar resultados diminuiu", disse Welch, em entrevista por telefone. "Ele pensou que estaria no comando da economia, mas não da política do ajuste".

O Ministério da Fazenda reiterou seu compromisso com as medidas de austeridade fiscal e disse que buscaria avaliar os gastos públicos obrigatórios para reduzir os níveis globais de dívida, segundo um comunicado enviado por e-mail em resposta à decisão da S&P.

Avaliação de risco

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que o governo está confiante de que o controle da inflação, o ajuste fiscal e medidas de estímulo ao crescimento possam manter uma avaliação de risco favorável para o Brasil.

Com os índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff em uma baixa histórica, Levy havia negociado pessoalmente com os parlamentares a aprovação de propostas que elevavam tributos e cortavam gastos. Os parlamentares começaram a resistir à aplicação de mais medidas de austeridade no mês passado após o aumento do desemprego e a expansão de um escândalo de corrupção envolvendo mais de 50 políticos.

Levy tem insistido que o governo não desistiu da disciplina fiscal. A nova meta de superávit primário, que exclui os pagamentos de juros, é um piso, disse ele. Embora tenha sido forçado a abandonar suas metas mais ambiciosas, o economista doutor pela Universidade de Chicago não tem intenção de deixar o cargo, disseram duas fontes informadas sobre suas intenções, que pediram anonimato porque o assunto é privado.

"Abandonar o barco"

"O trabalho de Levy se tornou mais difícil, mas não impossível", disse Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Federação Nacional do Comércio. "Ele não é alguém que abandona o barco".

Dois dias após a revisão da meta do orçamento por Levy, Luiz Awazu Pereira, diretor de política econômica do BC, disse que o banco enxerga novos riscos para a perspectiva da inflação para 2016.

Uma das maiores esperanças de Levy é que o mesmo escândalo de corrupção que sacudiu o ambiente político no Brasil e deu munição à oposição possa derrubar alguns de seus detratores no Congresso, disse Welch.

"O escândalo de corrupção corta para os dois lados", disse ele.

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