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Ex-aluno da Wharton School tem uma solução diminuta (e ilegal) para os problemas de habitação de São Francisco

John Gittelsohn e Prashant Gopal

30/07/2015 18h39

(Bloomberg) - Luke Iseman achou uma forma de se permitir morar na área da Baía de São Francisco. Ele mora em um contêiner de cargas marítimas.

A caixa de 14,86 metros quadrados do ex-aluno da Wharton School tem um fogão para acampamentos e um chuveiro feito de cascos de barcos velhos. Trata-se de uma das onze residências em miniatura dentro de um galpão que ele aluga do outro lado da ponte que atravessa a baía em direção à cidade, onde seus inquilinos compartilham banheiros e uma sensação de aventura. É legal? Não, mas ele driblou os inspetores do código que expulsaram o que ele chama de "cargatopia" de outros dois locais. Se tudo sair conforme o plano, ele criará uma startup com a sua reação ao mercado imobiliário mais caro dos EUA.

"Ainda não está nos gerando muito dinheiro, mas nos permite morar na área da Baía, o qual é uma proeza", disse Iseman, 31, que está desenvolvendo uma empresa de casas-contêineres. "Aqui temos uma oportunidade de criar um novo modelo de desenvolvimento urbano que é mais sustentável, acessível e desfrutável".

Significa uma meta e tanto em um lugar onde os custos são tão altos que as pessoas com recursos médios ficam criativas ou vão embora. A média de aluguéis no mes de junho aumentou 16 por ciento em relação ao ano anterior em São Francisco para US$ 4.272 e 15 por cento na área metropolitana para US$ 3.237, segundo o Zillow Group Inc. A média de preços de venda é de US$ 1,14 milhão na cidade e de US$ 660.000 na área inteira.

O mercado é tão louco que gerou inovações para tirar o sono dos inspetores. Garagens são convertidas em apartamentos tipo estúdio; escritórios, em sótãos; salas, em unidades para aluguel, muitos desses sem permissões. Até 60.000 franciscanos moram em residências ilegais, segundo o Departamento de Inspeção de Edifícios.

"As pessoas têm que ficar criativas", disse Patrick Carlisle, analista-chefe de mercados da Paragon Real Estate de São Francisco. "Elas fazem o que têm que fazer".

Boom

Graças ao boom da tecnologia, são criados dez empregos por cada moradia nova, segundo Carlisle, e a pressão alcança proporções de crise e, para alguns, cria oportunidades.

Em Mountain View, lar do Google Inc. e do LinkedIn Corp., John Potter promovia uma barraca no seu quintal no AirBnB por US$ 900 por mês, o que incentivou uma dezena de imitadores. Ele recebeu uma intimação porque a barraca era uma estrutura sem licença, mas não se deixa intimidar. "Minha próxima coisa é uma casa na árvore", disse Potter, 22, que administra um estúdio de fotografia de animais e evita o problema dos preços dos imóveis morando com seus pais.

Morar em uma barraca Coleman pode ser muito, mas em toda a região "as restrições de zoneamento são desnecessariamente estritas e não refletem a forma em que as pessoas moram", disse Jake Wegmann, professor de Planejamento Urbano da Universidade do Texas em Austin que estudou a habitação sem permissão na Califórnia.

As autoridades deveriam relaxar e permitir que mais soluções empreendedoras continuem adiante, disse Wegmann. "Se nos preocupa a acessibilidade da moradia, essa é a forma mais barata de adicionar casas".

Catorze inquilinos

Em Los Altos, Brandon Williams enfia 14 inquilinos em uma casa com quatro quartos e dois banheiros - com preços mensais para uma cama a partir de US$ 1.000. Ele aluga o bangalô de um investidor chinês de capital de riscos por cerca de US$ 6.800, montante que ele consegue mais do que dobrar quando todas as camas estão ocupadas.

Do outro lado da baía, Iseman cobra US$ 1.000 por mês por cada uma das onze estruturas estacionadas no armazém de 1.580 metros quadrados que ele aluga por US$ 9.100. Entre seus inquilinos há um engenheiro do Facebook Inc., um programador da Solar City Corp. e um mensageiro que trabalha de bicicleta.

"O que estamos fazendo é transformar resíduos industriais em uma casa em umas semanas", disse Iseman, que também fundou uma frota de bicicletas de transporte com três rodas. Enquanto isso, ele não planeja conseguir aprovação da cidade para sua "cargatopia", cuja localização ele pediu manter no anonimato. "Eu preferiria pedir perdão a pedir permissão".

Título em inglês: 'Wharton Grad's Got a Tiny (Illegal) Solution to Bay Area Housing'

Para entrar em contato com os repórteres: John Gittelsohn, em Los Angeles, johngitt@bloomberg.net; Prashant Gopal, em Boston, pgopal2@bloomberg.net