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Rio de Janeiro considera desistência de Boston para ser sede olímpica como oportunidade perdida

David Biller

30/07/2015 12h25

(Bloomberg) -- Boston errou ao desistir da oportunidade de ser sede dos Jogos Olímpicos, disse Pedro Paulo, secretário de Coordenação de Governo do município do Rio de Janeiro, em um evento onde falou sobre como as Olimpíadas Rio 2016 vão beneficiar os cidadãos.

"É um erro", disse Paulo sobre Boston, nos bastidores do evento. "O Rio de Janeiro, por exemplo, está vivendo talvez a sua melhor oportunidade no último medio século de uma virada na sua história, dinamizar a economia, melhorar a mobilidade".

Dias depois de os EUA terem abandonado Boston como opção para ser sede dos jogos de 2024, em meio à oposição do prefeito e dos moradores, as autoridades do Rio sustentam que as Olimpíadas serão benéficas para a cidade famosa por suas praias deslumbrantes e favelas nas encostas dos morros. Um coro cada vez maior questionando os benefícios do evento levou o Japão a abandonar os planos de construir um estádio olímpico considerado muito caro.

Duas das arenas do Parque Olímpico do Rio deverão ser transformadas em cinco escolas depois dos jogos, que começarão dentro de pouco mais de um ano. A população também terá acesso ao velódromo, ao centro de tênis e ao centro aquático, o que ajudará a evitar os chamados "elefantes brancos", como o centro de tênis em Atlanta ou as instalações para canoagem slalom em Pequim, disse Pedro Paulo.

Em janeiro, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, citou a reforma do porto de Boston como um exemplo que sua própria cidade deveria seguir no empreendimento Porto Maravilha, mas visando terminar em menos tempo e usando muito menos dinheiro público. Foi exatamente essa preocupação com a possibilidade de sobrecarregar os contribuintes para ser sede das Olimpíadas de 2024 que engrossou as fileiras da oposição em Boston.

O prefeito de Boston, Marty Walsh, disse na segunda-feira que ele não iria assinar o contrato de cidade-sede nem nenhum outro acordo "que implique pagar nem um dólar dos contribuintes por algum centavo que tenha sido gasto em excesso nos Jogos Olímpicos". Os possíveis benefícios a longo prazo não bastam para comprometer o futuro financeiro da cidade, disse ele em um comunicado.

Recessão brasileira

O governo do Brasil, por sua vez, tem recursos escassos para gastar, ao mesmo tempo em que a economia, que está caminhando para a pior recessão em 25 anos, consome a receita fiscal.

O Brasil está no meio de uma crise, tentando se recuperar e se reerguer para crescer, então a decisão de convocar o setor privado para esse investimento foi acertada para o modelo dos Jogos de 2016. É a opinião de Pedro Paulo. Dos R$ 38 bilhões (US$ 11,4 bilhões) em gastos previstos para os eventos e as obras associadas, 60 por cento virão de fontes privadas.

O Brasil foi a sede da Copa do Mundo em 2014, cujos custos exorbitantes provocaram indignação entre os cidadãos, que foram às ruas em massa para protestar contra serviços públicos inadequados. O preço para construir e reformar estádios para a Copa chegou a R$ 8,4 bilhões, mais do que o dobro do orçamento inicial. Os custos gerais ascenderam a R$ 27 bilhões, dos quais apenas 16 por cento foram financiados pelo setor privado.

Outra cidade

O Comitê Olímpico dos EUA agora está avaliando qual outra cidade poderia substituir Boston como sede. O Japão abrirá um novo concurso para escolher o projeto do principal estádio de Tóquio 2020. É uma boa decisão, tendo em vista que o anterior custaria US$ 2 bilhões, o mesmo que o total de todas as arenas do Rio, disse Pedro Paulo.

A apresentação de Pedro Paulo no Parque Olímpico ocorreu em um momento em que a prefeitura está trabalhando para remover os moradores da favela Vila Autódromo, que fica dentro dos limites do parque. Quarenta por cento da área do parque será destinada a empreendimentos privados, como condomínios, depois dos Jogos, disse ele.

Título em inglês: 'Rio de Janeiro Sees Boston's Failed Olympic Bid as Missed Chance'

Para entrar em contato com o repórter:David Biller, no Rio de Janeiro, dbiller1@bloomberg.net