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Casamento com problemas? Sauditas buscam opções além dos EUA após acordo com Irã

Reuters
Imagem: Reuters

Glen Carey

30/07/2015 12h04

O ex-ministro das Relações Exteriores saudita, príncipe Saud al-Faisal, certa vez comparou o vínculo com os EUA com um "casamento muçulmano" ou um que não fosse necessariamente monogâmico.

As recentes aberturas do reino a outros sócios sugerem que o relacionamento está passando por outra reavaliação devido ao acordo histórico com seu rival regional Irã. Após visitar a Rússia e a França, no mês passado, o vice-príncipe da Coroa, Mohammed bin Salman, voltou para casa com US$ 23 bilhões em contratos de aeronaves e energia.

"A confiança entre a Arábia Saudita e os EUA foi prejudicada pelo acordo nuclear com o Irã", disse Paul Sullivan, especialista em Oriente Médio da Universidade de Georgetown, em Washington. "Muitos na Arábia Saudita se sentem abandonados pelos EUA".

Eles já tiveram problemas sérios antes, sobretudo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 realizados principalmente por cidadãos sauditas. Contudo, a reaproximação com o Irã, por iniciativa dos EUA, levanta a perspectiva de uma mudança tectônica no Oriente Médio que os sauditas não tiveram que enfrentar desde a Revolução Islâmica em Teerã, em 1979.

Para os sauditas, os negócios com a Rússia podem diluir a dependência em relação aos EUA e, por mais isolados que estejam os russos, o objetivo é fazer amigos e conseguir investimentos.

"Historicamente, a relação entre a Rússia e a Arábia Saudita é de desconfiança", disse Hani Sabra, analista-chefe para o Oriente Médio da Eurasia Group. "Contudo, como resultado das mudanças geopolíticas regionais e globais, a chance para ambos os lados de considerar laços mais próximos no futuro é propícia".

Mais assertivo

As mudanças realizadas na corte real saudita pelo rei Salman marcaram uma mudança a favor de uma geração mais jovem e destacaram seu papel mais assertivo em um momento em que o Oriente Médio enfrenta um de seus períodos mais violentos. Mohammed bin Salman, 29, foi elevado a vice-príncipe da Coroa após assumir o posto de ministro da Defesa, em janeiro, e liderar a campanha contra os rebeldes Houthi, no Iêmen.

Em Riade, as autoridades sauditas dizem aos diplomatas que estão preocupados de que o Irã possa usar o acordo nuclear para aprofundar seu envolvimento nos assuntos árabes após o levantamento das sanções e a expansão de sua economia e de suas receitas. O ex-embaixador saudita nos EUA, Bandar bin Sultan, escreveu neste mês, em um editorial de jornal, que o acordo com o Irã iria "causar estragos" no Oriente Médio.

"Considerando a turbulência sem precedentes na região, os sauditas estão tentando manter todas as suas opções abertas", disse Fahad Nazer, analista político da empresa de consultoria JTG Inc. em Virgínia, EUA, que trabalhou para a embaixada saudita em Washington.

Nova direção?

Durante a visita do vice-princípe da Coroa a São Petersburgo, em junho, o Fundo de Investimento Público saudita fechou um acordo para investir US$ 10 bilhões em conjunto com a Rússia em projetos de infraestrutura, agricultura, medicina e logística. Em anos anteriores, o fundo saudita não buscou investimento estrangeiro abertamente.

Após o encontro com Putin, ele voou a Paris, onde foram assinados 12 bilhões de euros (US$ 13,3 bilhões) em contratos. Entre eles estava um acordo de financiamento à exportação de 3 bilhões de euros entre a seguradora de crédito Coface SA e o Fundo de Investimento Público. Os dois países também concordaram em realizar os estudos de viabilidade para a construção de dois reatores nucleares e a Arábia Saudita fechou um acordo para a compra de 30 aviões Airbus A320 e 20 aviões A330 por 8 bilhões de euros.

O secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, se reuniu com o rei Salman e com o príncipe Mohammed em 22 de julho, na cidade de Jeddah, na costa do Mar Vermelho, onde tentou tranquilizá-los de que os EUA não estavam vacilantes no compromisso com a segurança.