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Brasil: Traders de bonds calejados pela Petrobras exploram última ramificação

Paula Sambo

31/07/2015 12h55

(Bloomberg) -- Os investidores em bonds da maior empresa pública de eletricidade do Brasil reagiram de forma muito parecida aos de outras empresas envolvidas no maior escândalo de subornos do país.

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Mas para gestoras de recursos como a Solitaire Aquila e a Torino Capital, esta é, na verdade, a hora de comprar. O raciocínio é simples: mesmo que as alegações de que a estatal Eletrobras teria aceitado propinas prejudiquem seus bonds, a empresa estatal é importante demais para que o governo alguma vez permita que deixe de honrar pagamentos. As acusações -- as últimas que surgiram em uma crescente investigação de corrupção da empresa petrolífera Petrobras -- elevaram o yield extra oferecido pela Eletrobras sobre a dívida soberana do Brasil para a maior número em três meses.

"Você certamente será recompensado com um bom yield se comprar bonds da Eletrobras agora", disse Patrik Kauffmann, que está comprando os títulos da empresa e também possui notas da Petrobras como parte dos US$ 11,2 bilhões que gerencia na Solitaire, de Zurique. "Esta é uma produtora de eletricidade estatal, sistematicamente importante para a economia e para o Brasil".

A Eletrobras, que responde por mais de um terço da geração de energia da maior economia da América Latina, mergulhou, na última terça-feira, no escândalo de corrupção que já dura oito meses e corroeu os mercados financeiros do Brasil e o governo, quando a Polícia Federal prendeu o ex-presidente licenciado da unidade nuclear da empresa, a Eletronuclear.

Propinas pagas

O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula contou a jornalistas que Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa SA, afirmou em depoimento que sua empresa e outras construtoras ganharam contratos para uma usina de energia nuclear conhecida como Angra III por meio do pagamento de propinas.

A Eletronuclear e a Eletrobras não responderam às mensagens em busca de comentários.

Os títulos da Eletrobras da emissão de US$ 1,75 bilhão para 2021 agora caíram 4,7 por cento neste mês, 10 vezes o declínio médio observado nos mercados emergentes. A 8,14 por cento, as notas da empresa com sede no Rio de Janeiro têm um yield 3,9 pontos porcentuais maior do que as dívidas do governo de vencimento similar, maior diferença desde 9 de abril.

"Isso oferece uma oportunidade de compra", disse Jorge Piedrahita, que estuda comprar bonds da Eletrobras como CEO da Torino Capital, por e-mail, de Nova York. "Minha visão é de começar a acumular aqui, já que é impossível encontrar sempre com exatidão o ponto mais baixo em uma queda. Os bonds padeceram, mas eu não estou preocupado com calotes no setor quase soberano".

'Razão suficiente'

Contudo, Allan Grauer, da Mizuho Securities Co., diz que está permanecendo longe dos investimentos no Brasil.

"Eu não compraria nada no Brasil", disse Grauer, chefe de negociação de dívidas da América Latina da Mizuho, por e-mail. "As avaliações não são razão suficiente para comprar alguma coisa por enquanto, e isso inclui a Eletrobras, pois a corrupção é muito mais abrangente do que eu podia imaginar".

Mais de 20 empresas foram implicadas na investigação a respeito de um esquema que durou uma década no qual executivos da Petrobras distribuíam contratos do governo em troca de propinas.

Kauffmann, da Solitaire Aquila, não se intimida.

"Embora seja difícil determinar com exatidão quanto esses bonds ainda poderão cair, como investidor em bonds você sabe que em 2019 ou 2021 você receberá 100 por cento e, até lá, o cupom", disse ele. "É nisso que você deveria focar".

Título em inglês: Petrobras Scandal-Hardened Bond Traders Exploit Latest Offshoot

Para entrar em contato com o repórter: Paula Sambo, em São Paulo, psambo@bloomberg.net.