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Cidades-acampamento testam resolução da Alemanha de dar apoio à onda de refugiados

Leon Mangasarian e Rainer Buergin

31/07/2015 12h16

(Bloomberg) -- A Alemanha está recorrendo às chamadas cidades-acampamento para abrigar uma onda de refugiados de maioria síria que estão fugindo da guerra civil. Os custos cada vez maiores estão testando a disposição do país para aceitar os recém-chegados.

O governo estima que o número de requerentes de asilo a entrar no país neste ano mais que duplicará, para 450.000. O cuidado dispensado e eles custará até 6 bilhões de euros (US$ 6,6 bilhões), informou o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung nesta semana, citando dados dos ministérios do interior dos 16 estados da Alemanha.

O afluxo apresenta desafios para a chanceler Angela Merkel e seu governo, pois a maior parte da população atualmente dá preferência a regras imigratórias mais estritas. Merkel se viu envolvida pessoalmente no debate no início do mês, quando levou uma garota palestina às lágrimas após dizer-lhe que nem todos que pedem asilo permanecerão no país.

"Os migrantes se tornaram o tópico número 1 para os eleitores alemães, substituindo as antigas preocupações relacionadas ao desemprego e à economia", disse Joerg Forbrig, diretor sênior de programas do Fundo Marshall alemão para os EUA, em Berlim, por telefone. "Esse assunto é o centro gravitacional e o ímã político de toda eleição alemã".

Embora o governo de Merkel esteja concedendo mais dinheiro aos estados para pagar os asilos e a equipe adicional contratada para encurtar o tempo de processamento dos pedidos, o alto número os deixou no limite e os obrigou a recorrer a barracas para receber essas pessoas. Brandemburgo, o estado que circunda Berlim, armou 23 barracas militares para abrigar 280 pessoas -- uma solução temporária que só pode ser usada enquanto o clima continuar minimamente cálido.

Acúmulo crescente

"As acomodações em tendas não são a exceção -- os problemas são enormes", disse Bernd Mesovic, vice-diretor administrativo do grupo de direitos dos refugiados Pro Asyl, acrescentando seu temor de que a Alemanha em breve tenha um acúmulo de 260.000 casos de asilo sem decisão.

Alguns políticos estão pressionando por leis que identificariam mais claramente quem pode permanecer e ajudariam a acelerar a deportação de pessoas de países como os estados balcânicos, que têm poucas chances de receber asilo. Na Baviera, o primeiro-ministro Horst Seehofer disse neste mês que planeja cuidar pessoalmente do assunto e implementar medidas "rigorosas" para enviar mais rapidamente para casa aqueles que tiverem o pedido de asilo rejeitado.

Na pesquisa divulgada na quinta-feira pela emissora ARD, 63 por cento dos alemães disseram querer uma nova lei de imigração, ao passo que 27 por cento afirmou que isso não é necessário. Um total de 62 por cento dos consultados em uma pesquisa do jornal Bild, nesta semana, disse apoiar a expulsão mais rápida de pessoas que não vêm de zonas de guerra.

'Tragédia anunciada'

Já ocorreram neste ano 173 incêndios criminosos e outros ataques em diversas vilas e cidades, principalmente em edifícios desabitados planejados para os refugiados, segundo a revista noticiosa Der Spiegel. O número contrasta com os 175 ataques do tipo em todo o ano de 2014. Em Troeglitz, localizada a cerca de 200 quilômetros a sudoeste de Berlim, no estado da Saxônia-Anhalt, na região leste do país, um edifício que abrigaria imigrantes foi bombardeado em abril. O prefeito renunciou após receber ameaças de neonazistas.

Dos 114.060 pedidos processados no primeiro semestre, 36 por cento recebeu asilo ou foi protegido por uma proibição à deportação, e o restante foi rejeitado, segundo o Escritório Federal para Migração e Refugiados. Com 20 por cento, os sírios responderam pela maior parcela das pessoas que pediram asilo, seguidos por migrantes de Kosovo, com 18 por cento, e da Albânia, com 14 por cento.

"Isso é uma tragédia anunciada", disse Shada Islam, diretor de políticas do grupo de assessoria Friends of Europe, em Bruxelas. "Considerando os estados fronteiriços da UE que estão em guerra ou falidos -- e que não ajudamos --, qualquer um poderia prever isso, pois as pessoas migram para um polo de prosperidade atrás de uma vida melhor".

Título em inglês: 'Tent Cities Test Germany's Resolve to Support Swell of Refugees'

Para entrar em contato com os repórteres: Leon Mangasarian, em Berlim, lmangasarian@bloomberg.net;Rainer Buergin, em Berlim, rbuergin1@bloomberg.net