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Grécia: Facção rebelde do partido Syriza critica duramente o resgate, mas Tsipras sobrevive

Nikos Chrysoloras e Eleni Chrepa

31/07/2015 13h17

(Bloomberg) - O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, esquivou um desafio imediato à sua permanência no cargo, porém a impossibilidade de apaziguar a facção de extrema esquerda do seu partido levantou a possibilidade de uma eleição antecipada.

Depois de doze horas de negociações, o comitê central do partido contrário à austeridade Syriza decidiu na madrugada desta sexta-feira (31) realizar um congresso de emergência em setembro, no qual a decisão tomada por Tsipras, de aceitar um programa de resgate com condições dos credores internacionais, será submetida à votação.

Os líderes da Plataforma de Esquerda do partido protestaram que já será tarde demais para deter o resgate, mas não conseguiram forçar a realização de um congresso do partido neste final de semana.

Com o governo vulnerável, o ministro da economia Euclides Tsakalotos se reunirá com representantes dos credores internacionais nesta sexta-feira para discutir as medidas de austeridade a que seu partido há muito se opõe.

A disputa dentro do Syriza, no poder desde janeiro, implica que Tsipras terá que depender do apoio de partidos opositores para aprovar medidas ligadas aos empréstimos de emergência concedidos à Grécia, uma situação que, segundo ele, é insustentável.

"Talvez Tsipras convoque uma eleição antecipada como forma de corroborar seu mandato", escreveram Brunello Rosa e Michelle Tejada, analistas da Roubini Global Economics, em uma nota para clientes.

"Ainda não dá para saber se um novo governo –ou o segundo mandato de Tsipras– levaria a uma maior adesão aos termos dos credores ou se simplesmente seria um sinal do intuito de Tsipras de pressionar para obter melhores termos, como uma redução da dívida".

Revolta

O ex-ministro da Energia Panagiotis Lafazanis, líder da Plataforma de Esquerda, se opôs ao voto de confiança em setembro, argumentando que o governo já terá assinado um novo acordo com os credores e que será praticamente impossível anular acordos bilaterais ratificados pelo congresso.

A decisão do comitê central de realizar um congresso em setembro, que aprova uma moção apresentada por Tsipras, "é uma paródia", disse a Plataforma, em um comunicado publicado em seu site Iskra, cujo nome se deriva do jornal administrado pelo líder revolucionário russo Vladimir Ilyich Lenin.

Em outro comunicado publicado no site do jornal Avgi, afiliado ao governo, dezessete membros do comitê central disseram que pedirão demissão do órgão, em protesto à "transformação" do Syriza em um partido pró-austeridade.

"A troika retorna, o país assina um novo resgate com medidas bárbaras e a transformação de sua riqueza em garantia como condições, os planos alemães para uma 'Grexit' (saída da Grécia da zona do euro) não foram cancelados e a falência já aconteceu", disse o comunicado. No grupo dos 17, há três congressistas do Syriza associados à facção comunista do partido.

Outro primeiro-ministro

Tsipras disse ao comitê do partido que ele tinha testado os limites da economia e do sistema financeiro da Grécia, e que o acordo por um novo empréstimo de 86 bilhões de euros (US$ 94 bilhões) foi o melhor que ele pôde conseguir. O governo tentou "em vão" encontrar outras fontes de financiamento, acrescentou Tsipras, e até mesmo sua decisão de atrasar os pagamentos da dívida não rendeu resultados.

Depois de obter um apoio massivo da população para rejeitar ajustes adicionais no referendo do dia 5 de julho, Tsipras cedeu como consequência do fechamento dos bancos e dos controles de capitais. A guinada o coloca no mesmo caminho transitado por seus predecessores, como o primeiro-ministro anterior, Antonis Samaras, criticado duramente por Tsipras por se curvar às exigências dos credores.

Tsakalotos se reunirá nesta sexta-feira com representantes da União Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu.

Embora ocorra no hotel Hilton de Atenas, e não no ministério, o encontro de hoje será a primeira vez que os representantes das instituições credoras obterão acesso a um membro do gabinete desde que o Syriza chegou ao poder.

Grécia continua na Zona do Euro