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O blogueiro que superou as empresas britânicas de pesquisa de opinião

Robert Hutton

31/07/2015 15h09

(Bloomberg Business) - Na noite que antecedeu a eleição geral da Grã-Bretanha, Matt Singh, um ex-trader de 33 anos que se estabeleceu como blogueiro de política, publicou um texto em que argumentava que todas as pesquisas de opinião subestimaram o apoio ao Partido Conservador.

Durante as 24 horas seguintes, a publicação foi o assunto de um animado debate on-line. As urnas então foram fechadas, e a pesquisa de boca-de-urna da televisão indicava que David Cameron conquistaria a vitória por uma margem surpreendentemente ampla. Dez minutos depois, o site de Singh sucumbiu ao peso do tráfego.

"Eu vinha trabalhando nisso há um tempo", disse Singh em uma entrevista. "Eu percebia que as pesquisas de opinião distavam muito de onde eu esperava que elas terminassem. Veja as variáveis fundamentais: os favoritos, a economia, os resultados das eleições locais. Houve uma enorme incompatibilidade".

A noite de 7 de maio foi humilhante para as empresas de pesquisa britânicas, pois todas tinham concordado nas semanas anteriores às eleições que o resultado da disputa entre os Tories e o Partido Trabalhista era imprevisível. Agora, elas estão tentando descobrir o que deu errado. Para Singh, que aplicou ao processo eleitoral as técnicas aprendidas quando trabalhava no trading de taxas de juros escandinavas do Barclays Plc, foi um triunfo.

Como muitos outros que acompanhavam a eleição, ele esperava que as pesquisas indicassem uma preferência pelos Tories à medida que a votação se aproximasse. Quando elas não indicaram, ele decidiu que o erro era das pesquisas, não de seus próprios dados.

Resultados

O site de Singh, Number Cruncher Politics, recebeu mais visitas nas 48 horas posteriores à publicação do post do que nos quatro meses anteriores. Os meios de comunicação britânicos e internacionais prestaram atenção, e ele foi convocado pela Royal Statistical Society e pela Universidade de Oxford.

A previsão média das pesquisas de véspera feitas pelas oito principais empresas britânicas de opinião indicavam que os Tories de Cameron estavam empatados com o Partido Trabalhista, com 34 por cento dos votos. Nas eleições, os Tories conquistaram 38 por cento dos votos, e o Partido Trabalhista, 31 por cento, excluindo-se a Irlanda do Norte, que tem outros partidos.

Há diversas teorias sobre o que deu errado. Uma é que, como a intenção de voto foi a primeira pergunta feita nas pesquisas, as empresas poderiam ter obtido resultados diferentes se tivessem perguntado antes às pessoas sobre questões políticas, como a economia - o tipo de pesquisa que começa com uma sondagem de questões temáticas ou polêmicas.

Outra hipótese é que tenha havido um erro de amostragem - que os participantes das pesquisas não tenham sido representativos da população como um todo. A Populus Ltd., uma das empresas de pesquisa, comparou suas amostras com os dados disponíveis para o geral da população e descobriu que elas continham demasiadas pessoas com invalidez e baixa renda, e um número insuficiente de indivíduos que tenham secadoras de roupas em casa.

O aumento dos telefonemas automáticos de vendas ajudou a piorar a situação, pois ficou mais difícil que os eleitores atendessem ao telefone. Quando Martin Boon fundou a ICM Ltd. em 1995, eram necessários de 3.000 a 4.000 telefonemas para obter 2.000 entrevistas. Para essa eleição, ele disse que foram necessários 30.000.

Análises

Boon descartou as insinuações de que as empresas de pesquisa tenham distorcido seus resultados para garantir o alinhamento entre elas.

Além disso, grande parte das enquetes políticas publicadas são realizadas para empresas de mídia com orçamentos apertados. "Você tenta obter uma informação muito complicada com apenas duas ou três perguntas", disse Andrew Cooper, fundador da Populus.

Singh agora está conduzindo sua própria análise de por que as pesquisas deram errado e está escrevendo no blog sobre a disputa que definirá o novo líder do Partido Trabalhista, depois da derrota da oposição nas urnas. No dia 20 de julho, Singh publicou que os agenciadores de apostas estavam subestimando as chances do candidato contrário à austeridade, Jeremy Corbyn. Nesta semana, Corbyn se tornou o favorito.

Singh sente falta de algumas coisas do setor bancário: "Comparando a política com os mercados financeiros, há pouquíssimos dados confiáveis".

Título em inglês: 'The Blogger Who Beat the British Political Pollsters'

Para entrar em contato com o repórter: Robert Hutton, rhutton1@bloomberg.net