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Para ver aonde o euro chegará, observe onde o dólar esteve

Anchalee Worrachate

03/08/2015 12h42

(Bloomberg) - O clamor para fazer empréstimos em euros neste ano coloca a moeda comum em um caminho que os traders cambiais já conhecem.

As empresas do mundo aproveitaram que os custos de crédito estavam em níveis mínimos recordes para arrecadar o montante sem precedente de 157 bilhões de euros (US$ 173 bilhões) com bonds (títulos) em 2015. À medida que elas comecem a quitar a dívida, vai se desencadear uma demanda reprimida por euros, justo quando um salto na emissão em dólares no fim da década passada está impulsionando a verdinha, segundo Stephen Jen, gerente de recursos e ex-economista do FMI.

"Parece que o euro está avançando na mesma direção que o dólar depois da crise no que tange às vendas estruturais a descoberto", disse Jen, fundador do hedge fund SLJ Macro Partners LLP, com sede em Londres. "Isso vai dar apoio ao euro nos próximos três a cinco anos".

Durante o restante do ano, o euro vai cair, e a recuperação não ganhará ritmo até 2017, segundo estrategistas. A média de previsões nas pesquisas da Bloomberg estima que a moeda de 19 países equivalerá a US$ 1,05 por volta do fim de 2015, antes de um avanço para US$ 1,06 em 2016 e para US$ 1,11 no ano seguinte.

Divergências

A principal causa dessa desvalorização é a divergência da política econômica com os EUA. O Banco Central Europeu se comprometeu a continuar injetando dinheiro barato na economia até o final de 2016, ao passo que o Federal Reserve (Fed) está se preparando para elevar as taxas de juros do valor mais baixo de sua história, possivelmente já em setembro.

Esse é o motivo pelo qual as companhias podem fazer empréstimos em euros com os menores preços da história. O custo de emitir dívida caiu para o recorde de 0,85% em março, mostram índices do Bank of America Merrill Lynch.

Por enquanto, o euro está seguindo o manual tático da verdinha. O Bloomberg Dollar Spot Index caiu cerca de 15% nos vinte e quatro meses desde fevereiro de 2009, depois que o Fed diminuiu as taxas oficiais e injetou dinheiro na economia após a crise financeira.

Um salto nos empréstimos em dólares por volta daquela época também contribuiu para as perdas ao colocar mais dinheiro em circulação. Entidades soberanas e corporativas de fora dos EUA agora devem o recorde de US$ 9 trilhões, segundo o Banco de Compensações Internacionais.

A BlackRock Inc. - a maior gerente de recursos do mundo -, a Blackstone Group LP e a fabricante de remédios Eli Lilly Co. são algumas das empresas americanas que emitiram bonds em euros pela primeira vez neste ano, mostram dados compilados pela Bloomberg. Os empréstimos na moeda única também aumentaram, e empresas não bancárias de fora da Europa deviam 1,3 trilhão de euros em setembro do ano passado, quase 5% a mais do que no ano anterior, segundo o BCI.

Elevador e escorregador

Para Peter Rosenstreich, diretor de estratégia de mercados do Swissquote Bank SA, essas vendas estruturais a descoberto do euro poderiam impulsionar a moeda antes do que outros indicam.

A operação de fazer empréstimos baratos em uma jurisdição para financiar a aquisição de ativos com yields (rendimentos) mais altos em outra se chama "carry trade", e essas transações tendem a minar a moeda de financiamento quando são implementadas e a fortalecê-la quando são revertidas.

"O que está acontecendo com o euro hoje é um caso clássico de carry trade", disse Rosenstreich, em entrevista em Gland, perto de Genebra, na Suíça. "E com carry trade, você sobe de elevador, mas desce de escorregador. Quando a aversão a riscos aumentar, as pessoas vão se desfazer dessas posições o mais rápido que puderem".