IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Depois de revolucionar velocidade do trading, gênio descalço pretende terminar com trapaças de corretores

Ryan Hoerger e John Detrixhe

04/08/2015 16h10

(Bloomberg) - O homem que ajudou a revolucionar o trading de alta frequência recebe os convidados em seu escritório em Paris descalço.

"Peço desculpas por não me arrumar", disse Stéphane Ty?, 54, cujo esquema para enviar dados de transações por meio de torres de micro-ondas nos EUA e na Europa deu frutos para sua empresa, a McKay Brothers International SA, e a seus clientes no ramo. "Quem me dera eu soubesse que você ia usar gravata".

No reservado mundo do trading instantâneo, onde as empresas protegem seu anonimato com tanto zelo que se abstêm de colocarem seus nomes nos seus escritórios, Ty? (pronuncia-se "titch"), vestido de forma casual, se destaca pela sua transparência.

Um exemplo: Ty? e sua empresa disponibilizam os preços e tempos de execução da sua rede de micro-ondas no seu site - revelações únicas no setor.

Seu próximo projeto é irradiar luz solar desinfetante sobre os mercados. Virar o equilíbrio de poder dos investidores para seus corretores. Criar um sistema que permita que todos confiram as operações para ver se estão sendo enganados. E torná-lo o suficientemente portátil para caber em um pen drive.

"As coisas que se querem remover do sistema não são os jogos ou a suposta manipulação", disse Ty?. "São os custos indevidos e a falta de transparência que suscitam a ansiedade e a incompreensão nas pessoas que não sabem o que está acontecendo".

A proposta

Conforme a proposta de Ty?, um repositório central de dados registraria todas as transações em todas as bolsas dos EUA com um nível de precisão de dez microssegundos. Além disso, seria registrado o mercado onde uma transação é realizada - uma reforma importante para o ramo acionário nos EUA, que está espalhado por mais de 50 mercados, mas atualmente aplica tal análise apenas às onze bolsas oficiais.

Os investidores também conseguiriam ver quais operações no sinal central foram suas, ajudando-os a avaliar se seus corretores lhes conseguiram um preço razoável. O serviço seria grátis, mas não estaria disponível em tempo real.

Depois das fortes oscilações nos preços ocorridas em outubro no mercado de títulos do Tesouro americano, de US$ 12,7 trilhões, as autoridades dos EUA estão falando em expandir a divulgação pública das atividades de trading.

Normas

Ty? também eliminaria a norma de proteção de pedidos. Adotada em 2005 como parte das reformas integrais Reg NMS da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a norma exige aos locais de trading que encaminhem os pedidos para outros lugares se houver um preço melhor em outro local. Contudo, devido à velocidade à qual os pedidos podem ser enviados hoje, Ty? disse que a norma torna o mercado muito complexo. Ele diz preferir que em vez disso, a análise dos seus dados seja a salvaguarda contra abusos.

Nem todos concordam com isso. "Eliminar as normas de proteção de pedidos sem implementar outras proteções para os investidores aumentaria os conflitos de interesses e os riscos para eles", escreveu por e-mail Tyler Gellasch, diretor executivo da Healthy Markets Association, uma associação profissional de investidores. "Depender exclusivamente da mão invisível da arbitragem sem autoridades regulatórias nem redes de segurança soa genial, mas a realidade seria uma opacidade muito maior e abusos à custa dos investidores".

De volta em Paris, em meio aos quadros brancos e à bagunça do escritório da McKay Brothers, Ty? e sua empresa estão enfrentando o desafio de um novo cabo ultrarrápido submarino chamado Hibernia Express. Ele permitiria que os dados de trading se mexessem mais rapidamente do que a rede da McKay Brothers, disse Ty?. Para fins de transparência, ele disse que falou aos clientes que talvez eles quisessem levar seus negócios transatlânticos para outro lugar.

Título em inglês: 'For His Next Trick, Barefoot Genius Aims to End Broker Rip-Offs'

Para entrar em contato com os repórteres: Ryan Hoerger, em Chicago, rhoerger2@bloomberg.net; John Detrixhe, em Londres, jdetrixhe1@bloomberg.net