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Assolada pelo colapso do petróleo, Venezuela agora tem problema com o ouro

Nathan Crooks e Eduardo Thomson

11/08/2015 12h53

(Bloomberg) - A Venezuela agora tem um problema com o ouro.

O país sul-americano, que está tentando evitar o calote de seus bonds (títulos) como consequência do desmoronamento do petróleo, tinha 68% de suas reservas em lingotes até agosto, segundo o Conselho Mundial de Ouro. É um grande motivo de preocupação porque o preço do metal precioso despencou 15% em relação ao pico deste ano, registrado em janeiro, diante do aprofundamento da depressão mundial das commodities.

O declínio ameaça corroer as reservas com que o país em apertos financeiros conta para pagar sua dívida externa. A Venezuela, que obtém mais de 95% da sua receita exportadora com o petróleo, perderá US$ 1 bilhão do valor de suas reservas se os preços do lingote não se recuperarem, disse Alejandro Arreaza, analista do Barclays Plc.

"Obviamente, é o pior dos dois mundos", disse ele.

Os bonds da Venezuela denominados em dólares perderam 19,2% nos últimos noventa dias, o maior recuo nos mercados emergentes, pois o desmoronamento do petróleo exacerba a preocupação de que o país não tenha dinheiro para pagar dívidas. Os yields (rendimentos) nas notas de referência superaram 26% em 6 de agosto, a taxa mais alta desde fevereiro.

O petróleo bruto caiu mais de 29% desde o pico deste ano, atingido em junho, pelos sinais de que o excedente mundial persistirá.

Queda

O Banco Central da Venezuela utiliza uma média móvel de seis meses para avaliar seu ouro, o que significa que a queda de 5% registrada pelo metal nos últimos trinta dias não se reflete imediatamente nas estatísticas oficiais, segundo Arreaza, do Barclays.

O lingote para entrega imediata caiu no dia 5 de agosto para o valor mais baixo em cinco anos e atualmente está sendo negociado a cerca de US$ 1.104 por onça. A média de preços será de US$ 950 por onça em 2016, disse a Natixis Commodity Markets Ltd. em um relatório de 6 de agosto.

Assessores de imprensa do Ministério da Economia e do Banco Central não deram retorno a telefonemas feitos na segunda-feira durante o horário comercial para obter comentários sobre a queda do preço do ouro e a capacidade do governo de pagar dívidas.

Depois de terem recuado para US$ 15,4 bilhões no mês passado, o valor mais baixo desde 2003, as reservas da Venezuela subiram para US$ 16,7 bilhões depois que o país cobrou uma parcela de dívida por petróleo enviado à Jamaica e assinou um acordo de crédito com a China.

Contudo, a Venezuela e sua petroleira estatal, a Petróleos de Venezuela SA, têm que pagar cerca de US$ 6,3 bilhões no restante do ano e cerca de US$ 10,8 bilhões em 2016 devido ao vencimento de parcelas de bonds, mostram dados compilados pela Bloomberg.

'Extremamente desafiador'

As reservas da Venezuela poderiam cair para menos de US$ 15 bilhões se os preços do ouro continuarem recuando ou se o governo decidir liquidar algumas de suas posses, segundo Sarah Glendon, diretora de pesquisa sobre soberanos da Gramercy Funds Management.

Em abril, o jornal "El Nacional", de Caracas, informou que o Banco Central trocou US$ 1 bilhão de suas reservas em ouro por uma injeção de dinheiro. E, em 2012, o então presidente Hugo Chávez repatriou a maior parte das reservas de ouro do país.

A Venezuela consumiu cerca de US$ 1 bilhão por mês de suas reservas neste ano para reagir à queda dos preços do petróleo, disse o Morgan Stanley em uma nota a clientes no mês passado.

"A questão é o que é pesa mais na cabeça deles: pagar as dívidas ou reter o ouro em Caracas?", disse Glendon, da Glamercy, em entrevista de Greenwich, Connecticut. "Vai ser extremamente desafiador para a Venezuela conseguir outra fonte de dólares".