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Mau humor com Brasil impulsiona Vale a cortejar investidores em debêntures de infraestrutura

Filipe Pacheco

14/08/2015 14h23

(Bloomberg) -- Com o mercado internacional de títulos de dívida cada vez mais hostil a todos os nomes ligados a Brasil, a Vale está se voltando aos investidores locais para levantar recursos.

A maior produtora de minério de ferro do mundo publicou documentação na semana passada para vender até R$ 1,35 bilhão (US$ 387 milhões) em debêntures com vencimento entre 2020 e 2022 no Brasil. Esta seria a maior venda do mercado de debêntures de infraestrutura, que contam com insenção fiscao para investidores, neste ano.

A medida surge em um momento em que o rebaixamento do rating soberano, uma abrangente investigação de corrupção e a crescente especulação sobre impeachment praticamente terem praticamente fechado o mercado internacional de bonds para as empresas brasileiras nos últimos dois meses.

A Vale, que também viu seus custos para tomada de recursos no exterior subirem por causa da queda nos preços do minério, poderá se beneficiar do status de ser uma das poucas empresas com classificação de risco mais alta do que o próprio Brasil para recorrer a uma demanda reprimida de um mercado em que as novas emissões caíram 51,7 por cento neste ano.

"Pode-se dizer que o mercado externo está fechado para as empresas brasileiras, mesmo para nomes bons como a Vale", disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC. "Eles poderiam até tentar emitir novas dívidas em dólares, mas o preço que teriam que pagar não compensaria".

A assessoria de imprensa da Vale preferiu não comentar a venda das debêntures.

Em um documento de 5 de agosto, a Vale, que tem sede no Rio de Janeiro, disse que usará o dinheiro da oferta de dívida local para financiar um projeto ferroviário no norte do Brasil.

Investidores do varejo

Leonardo Breder, chefe de renda fixa da Brasil Plural Gestão de Recursos, disse que "definitivamente" considerará as debêntures da Vale. Ele espera que as notas sejam vendidas indexadas a títulos públicos e com yield de cerca de 7 por cento.

"Elas são bastante atrativas para os investidores do varejo e tem havido uma falta de emissão de novas notas no mercado local", disse ele em entrevista, no Rio de Janeiro.

Os investidores locais do varejo que compram os títulos ficam isentos de imposto de renda de 15 por cento sobre os lucros.

No mercado internacional, os US$ 2,25 bilhões em títulos denominados em dólares da Vale com vencimento em 2022 caíram 2,3 por cento nos últimos 30 dias, elevando os yields para 5,52 por cento. A empresa pagou 5,62 por cento quando vendeu US$ 1,5 bilhão em títulos de 30 anos com vencimento em 2042, na última vez em que recorreu ao mercado de dívidas em dólares.

Nenhuma empresa brasileira emitiu bonds no exterior de 11 de junho para cá e a presidente Dilma Rousseff, que está enfrentando cada vez mais pressões que clamam por impeachment, está tendo dificuldades para tirar a economia da maior crise em 25 anos. A Moody's Investors Service reduziu o rating soberano do Brasil para o degrau mais próximo do chamado grau especulativo na última terça-feira, o segundo corte sofrido desde que Dilma chegou ao cargo em 2011.

A queda global dos preços das commodities, desencadeada pelo crescimento econômico mais lento da China, está piorando as coisas para a Vale.

A mineradora, que obtém um terço de sua receita na China, viu o preço do minério de ferro despencar 20 por cento neste ano.

"O fluxo de notícias ruins vindas do Brasil está contaminando muitos nomes brasileiros", disse Klaus Spielkamp, chefe de renda fixa da Bulltick LLC. "Isso dificultaria para eles a realização de uma operação de venda de bonds em dólares agora. Por que não considerar os investidores locais? É uma ideia inteligente".

Título em inglês: Brazil Unloved, Vale Courts Local Bond Buyers Getting Tax Breaks

Para entrar em contato com o repórter: Filipe Pacheco, em São Paulo, fpacheco4@bloomberg.net