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Por que os domínios .sucks não são uma porcaria

Olivia Solon

19/08/2015 12h34

(Bloomberg Business) -- O lançamento dos domínios ".sucks" ("é uma porcaria", em tradução livre), em março, provocou uma onda de pânico entre as equipes de relações públicas das empresas.

A ideia de que alguém possa manchar o nome de uma marca por cyber-squatting (ato de registrar ou vender um nome de domínio para lucrar a partir da marca registrada de outrem), por exemplo, com os endereços Vodafone.sucks, ManchesterUnited.sucks ou LloydsBank.sucks, provocou uma onda de registros efetuados pelas próprias empresas. Para assumir o controle de suas marcas nesse domínio, as empresas tiveram que desembolsar em torno de US$ 2.500 por ano (é muito mais barato para nomes que não são de marcas registradas) -- o que gerou reclamações de que a Vox Populi, a firma que gerencia os registros, estava colocando as marcas em um beco sem saída.

A empresa de proteção de marcas NetNames.com apresentou uma queixa à Comissão Europeia, dizendo que a Vox Populi tinha criado um "modelo de precificação predatório" em uma "evidente tentativa de extorquir receitas dos proprietários de marcas".

Apesar do furor, mais de 6.000 domínios foram abocanhados. Embora a maior parte tenha sido comprada para controle de danos e simplesmente ficará ociosa, algumas empresas inventivas estão explorando usos mais criativos do .sucks.

"Sucks é uma palavra-chave forte", explicou Richard Winslow, diretor de marcas da firma britânica de registro de domínios 123-reg. Ele ressaltou que as pessoas efetuam constantemente no Google, em inglês, a busca "nome da marca + sucks" para ver o que as pessoas estão dizendo sobre suas empresas. Esse hábito é evidenciado pelos dados do Google Trends.

Winslow acredita que as empresas importantes não deveriam simplesmente comprar o domínio .sucks, mas sim construir um site para reunir feedbacks de clientes insatisfeitos. Esses clientes escreveriam coisas negativas na internet de qualquer maneira, por isso Winslow sugere que as empresas aproveitem a oportunidade para melhorar o atendimento ao cliente.

Autopromoção

A própria Vox Populi está sendo uma pioneira dessa arte, com a criação de um modesto site Dotsucks.sucks ("o domínio .sucks é uma porcaria", em tradução livre), no qual as pessoas podem dizer o que pensam sobre o lançamento do novo domínio de topo.

A empresa também criou uma campanha publicitária provocativa, brincando com uma das maiores rivalidades do beisebol. Um enorme outdoor onde se lê "NewYork.sucks" foi instalado ao lado do Fenway Park, o estádio do Boston Red Sox, enquanto os torcedores do New York Yankees podem ver um cartaz no qual está escrito "Boston.sucks" na via expressa que passa pelo Yankee Stadium.

"Boston respondeu mais agressivamente que Nova York", disse John Berard, CEO da divisão de registros da Vox Populi. "Talvez isso reflita as diferentes sensibilidades da cidade".

Memorável e rebelde

Entre os demais a tirar vantagem dos novos domínios estão a corretora de seguros Greg Sasine, que comprou o domínio LifeInsurance.sucks (ou "seguro de vida é uma porcaria"). Ele está usando o site para oferecer conselhos sobre as políticas do serviço para aqueles que não gostam de vendedores "capacitados e excessivamente preparados".

"Em uma busca na internet, você encontra 10.000 pessoas vendendo seguros de vida on-line. Como você faz para se diferenciar em um mercado tão saturado? Eu gosto do lado rebelde disso tudo e dessa coisa de se destacar na multidão", disse ele.

James Walthall, CEO da Digital Branding, com sede em Nova York, investiu cerca de US$ 10.000 em uma série de domínios que inclui: Eating.sucks ("comer é uma porcaria"), FastFood.sucks ("comida rápida é uma porcaria"), MyLoveLife.sucks ("minha vida amorosa é uma porcaria") e Sleeping.sucks ("dormir é uma porcaria").

"Pense nisso como um fundo negociado em bolsa que comercializa contratos futuros do valor dos domínios de topo .sucks. Se um desses domínios for suficientemente interessante para uma jogada de marca, seu valor compensará todas as aquisições", disse ele.

Christopher Hofman Laursen, fundador do European Domain Centre, não tem tanta certeza: "Quando só existia o .com a especulação fazia sentido por causa da escassez de oferta, mas agora há tantas extensões de domínio [mais de 1.000] que isso [lucrar com uma venda futura] é algo muito difícil".

Título em inglês: 'Why the .Sucks Domain Doesn't Have to Suck'

Para entrar em contato com o repórter: Olivia Solon, osolon@bloomberg.net