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Dono de empreiteira da Olimpíada do Rio é o novo bilionário brasileiro

Carvalho  nas obras do condomínio  que será usado na Olímpiada como vila dos atletas - Daniel Marenco/Fohapress
Carvalho nas obras do condomínio que será usado na Olímpiada como vila dos atletas Imagem: Daniel Marenco/Fohapress

Blake Schmidt

24/08/2015 10h28Atualizada em 24/08/2015 12h18

(Bloomberg) - O empreiteiro Carlos Fernando de Carvalho, cuja empresa Carvalho Hosken está ajudando a construir o Parque Olímpico da Barra e a Vila Olímpica, no Rio de Janeiro, surgiu como a 13ª pessoa mais rica do Brasil, segundo dados da agência de notícias Bloomberg.

O bilionário está chamando a atenção neste mês com os planos para transformar o parque olímpico em residências para a "elite" após o fim dos jogos. A subcontratada de um consórcio do qual sua empresa faz parte também foi acusada pelo Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) de manter os operários no local em condições de vida precárias.

Carvalho, 91, começou a construir sua fortuna nos anos 60 com casas nos arredores de Brasília, à época a nova capital do país. Posteriormente, ele construiu alguns dos primeiros complexos residenciais de alto padrão do Rio no Leblon, um bairro à beira-mar que atualmente abriga escritórios familiares e fundos hedge.

Nos anos 70, ele começou a adquirir terrenos entre as dunas áridas da região da Barra da Tijuca, na parte sudoeste do Rio, acumulando até 10 milhões de metros quadrados em um momento em que a megalópole se expandia para aquela direção.

Com essa vasta coleção de propriedades, Carvalho construiu uma fortuna líquida de US$ 4,2 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Ele nunca apareceu em um ranking internacional de riqueza.

Renda com aluguéis

"Ele não está sofrendo", disse Henrique Caban, diretor de marketing da Carvalho Hosken, quando questionado sobre a fortuna. "Não há muitas dívidas e nós lucramos com o aluguel dos terrenos. A maior dívida é o financiamento tomado para a Vila Olímpica".

Caban disse que Carvalho preferia não comentar esta reportagem após suas declarações ao "The Guardian" a respeito da exclusão dos pobres do projeto do Parque Olímpico terem sido "mal interpretadas".

Fundada em 1951, a Carvalho Hosken reportou ativos da ordem de R$ 22,9 bilhões (US$ 6,5 bilhões), passivos de R$ 7,4 bilhões e um valor contábil de R$ 15,3 bilhões, segundo seu relatório anual de 2014. A empresa é dona de 33% do consórcio Rio Mais, uma parceria bilionária que também envolve empresas das famílias Odebrecht, Andrade e Gutierrez, que está construindo o parque olímpico.

O consórcio tomou um empréstimo de R$ 1,4 bilhão do banco estatal Caixa Econômica Federal para o projeto, que não está refletido nos resultados financeiros de 2014. O montante foi adicionado ao cálculo da fortuna líquida de Carvalho como um passivo, em linha com sua participação no empreendimento.

A Carvalho Hosken não foi envolvida em um escândalo relacionado de licitações fraudulentas na empresa petrolífera estatal Petróleo Brasileiro SA, que atingiu outros conglomerados de propriedade de famílias bilionárias.

Elite nobre

Na reportagem do "The Guardian" publicada no dia 4 de agosto, Carvalho disse querer que o Ilha Pura, a vila olímpica que ele está construindo em conjunto com uma unidade da Odebrecht SA, se torne "lar de uma 'nobre' elite", com 3.604 apartamentos de alto padrão e jardins que "só reis tiveram" após os jogos de 2016.

"Nós pensamos que se os padrões fossem reduzidos, estaríamos tirando o que a cidade, a cidade nova, poderia representar no cenário mundial como uma cidade da elite, de bom gosto", disse Carvalho, na reportagem do "The Guardian". "Ilha Pura não poderia arranhar esse destino que tem sido dado à região. Por esta razão, ela precisava ser moradia de nobre, não moradia de pobre".

Esgoto a céu aberto

Dez dias depois, o MPT-RJ afirmou em um comunicado que os trabalhadores do projeto Ilha Pura vinham sendo mantidos em alojamentos com baratas, ratos e esgoto a céu aberto.

Os operários recrutados no Nordeste do Brasil pela Brasil Global Serviços, uma subcontratada do projeto, receberam promessas de moradias gratuitas. Em vez disso, foram fornecidos a eles alojamentos insalubres e depois lhes foi pedido aluguel, segundo um comunicado do MPT. Os procuradores estaduais removeram 11 dos trabalhadores em "condições análogas às de escravidão", segundo o comunicado.

A Brasil Global Serviços nega ter feito parte de uma política para trazer operários de outros Estados para trabalharem em seus projetos e disse que não tem ligação com a residência onde os 11 trabalhadores permaneciam e que mantém padrões rigorosos para garantir que suas práticas trabalhistas estejam dentro da lei, segundo um comunicado enviado por e-mail por seu advogado, Rômulo de Oliveira Nascimento.

O Ilha Pura mantém procedimentos rigorosos para assegurar o seguimento das leis trabalhistas e está cooperando com as autoridades na investigação, disse o consórcio, em um comunicado enviado por e-mail.