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Trufas em fazenda de bilionário dão impulso ao setor na África do Sul

Renee Bonorchis

24/08/2015 14h15

(Bloomberg) - Os cogumelos são feios, enrugados e fedorentos, mas o cão Clyde, uma cruza de Jack Russell que encontrou a primeira trufa negra de inverno na província do Cabo Ocidental, na África do Sul, ajudou a confirmar que o país pode produzir esses valiosos tubérculos.

A trufa negra encontrada por Clyde pesa 200 gramas e vinha crescendo há seis anos sob um carvalho na fazenda vinícola de Altima, perto de Franschhoek, que pertence ao bilionário Johann Rupert, presidente do conselho da fabricante de bens luxuosos Cie Financière Richemont SA. A Woodford Truffles (Pty) Ltd., a empresa da Cidade do Cabo que inoculou os carvalhos ingleses com esporos de micélio e plantou-os nos pomares da Altima em 2009, acha que a África do Sul poderia chegar a vendas anuais de 250 milhões de rand (US$ 19,3 milhões) dentro de 10 anos.

"Isso é o começo", disse Volker Miros, diretor da Woodford Truffles, em entrevista por telefone, da Cidade do Cabo, na quinta-feira. "Encontramos cinco trufas em dois pomares nas duas últimas semanas. Deixamos que os cachorros entrem e bingo! Seis pomares foram plantados, e se obtivermos 10 quilogramas no próximo ano, ficaremos muito felizes".

A Woodford Truffles entrou em acordos de joint venture com fazendas onde o solo se resfria o suficiente durante o inverno para possibilitar o desenvolvimento dos tubérculos. Ela não é a única empresa nesse jogo - a African Truffles começou a fazer inoculações há quatro ou cinco anos, com três espécies diferentes, que já estão dando os primeiros sinais de sucesso, de acordo com Leon Potgieter, que dirige o empreendimento. As trufas negras de inverno frescas que são cultivadas na África do Sul poderiam colher cerca de 22.000 rand por quilograma, disse Potgieter.

"Esperamos que consigamos obter 50 quilogramas por hectare, e queremos chegar a pelo menos 500 hectares", disse Miros, 75. "Assinamos contrato com seis fazendas e talvez outras 12 assinem neste ano".

Farejadores de trufas

A African Truffles disse que tem 24 hectares em produção e um novo contrato com uma empresa europeia por outros 30 hectares. Há também fazendeiros que decidiram começar por conta própria. Cameron Anderson, que possui terras na região de pesca de trutas que fica perto de Dullstroom, inoculou suas árvores há sete ou oito anos e, em agosto do ano passado, Shammy, seu Weimaraner, desenterrou a primeira trufa negra de inverno do país.

"Tivemos sorte e conseguimos quatro no ano passado, e mais ou menos a mesma quantidade até agora neste ano", disse Anderson, na sexta-feira. "As árvores precisam de cerca de 12 anos no solo antes de que haja uma produção sólida. Até lá, há restaurantes e hotéis de primeira na África do Sul que vão ficar com tudo o que produzirmos".

Uma coisa que os produtores têm em comum é que todos usam cães farejadores de trufas. Clyde e seu amigo Bonnie, outra cruza de Jack Russell com Beagle inglês, foram treinados pela Woodford Truffles. Para aprender, os cachorros ganham recompensas sempre que encontram um objeto enterrado que foi tratado com óleo de trufa, disse Miros, que cresceu caçando cogumelos e trufas na Floresta Negra da Alemanha todas as manhãs de domingo.

"A partir de 2016, os primeiros pomares de Volker vão começar a dar resultado", disse Potgieter. "Temos um dos melhores climas para as trufas, com altitudes elevadas, temperaturas baixas, água, radiação solar. Vai ser incrível. O hemisfério sul vai se tornar um dos maiores produtores no futuro".