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Economia brasileira encolhe mais que o previsto devido à restrição de caixa

David Biller

28/08/2015 16h04

(Bloomberg) -- A economia do Brasil sofreu uma contração maior que a projetada pelos analistas no segundo trimestre, porque a política monetária mais estrita e a inflação mais elevada bombardearam a confiança e fizeram com que a atividade caísse vertiginosamente.

O produto interno bruto se contraiu 1,9 por cento no segundo trimestre do ano em relação ao período de três meses anterior, disse o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira. Esta foi a maior contração em mais de seis anos, pior que a média das estimativas de queda de 1,7 por cento de 41 economistas consultados pela Bloomberg.

A maior economia da América Latina está sofrendo múltiplas dificuldades: taxa de juros no nível mais alto desde 2006, um índice de inflação mais de duas vezes acima da meta do governo, desemprego em alta, uma moeda em ruínas e um escândalo de corrupção que poderia derrubar a presidente Dilma Rousseff. O governo também cortou investimentos como parte de seu esforço para reforçar as contas fiscais e evitar um rebaixamento da nota soberana para o grau especulativo.

"Não há fonte de crescimento para o Brasil no futuro, pelo menos a curto prazo -- nós vemos todos os indicadores de confiança em queda --", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, por telefone, de São Paulo. "Não há sinais de que a economia já tenha chegado ao fundo do poço, por isso acho que continuaremos a ver resultados ruins no futuro".

'Recessão mais profunda'

O PIB do primeiro trimestre foi revisado para baixo, para uma contração de 0,7 por cento, contra um declínio anterior de 0,2 por cento, com sinais de uma "recessão ainda mais profunda", segundo Rostagno. O PIB do segundo trimestre caiu 2,6 por cento em relação ao mesmo período do ano passado, contra uma mediana de projeções de uma queda de 2,1 por cento.

O gasto familiar caiu 2,1 por cento em relação ao trimestre anterior, ao passo que os investimentos sofreram um declínio de 8,1 por cento -- o oitavo trimestre seguido de contração, disse o IBGE --. Pelo lado econômico da oferta, a indústria se contraiu 4,3 por cento, e o setor de serviços, 0,7 por cento.

'Contração severa'

"Quando você analisa a demanda doméstica final, a contração foi bastante desagradável: uma contração muito, muito severa do gasto com investimentos e do consumo privado", disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. para a América Latina em Nova York. "Foi um declínio amplo e acentuado da atividade se você olhar pelos lados da oferta ou da demanda".

Haverá mais contração dos investimentos à frente, disse Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e atualmente economista-chefe do Banco Safra SA, antes da divulgação dos dados.

Isso se deve em parte à chamada Operação Lava Jato, uma investigação sobre o pagamento de propinas na empresa petrolífera estatal, a Petrobras, que implicou as maiores empresas de construção e engenharia do país. O fluxo diário de novidades no caso ajudou a empurrar a confiança empresarial medida pela Confederação Nacional da Indústria a uma mínima recorde.

Impacto do ajuste

O Banco Central divulgou nesta sexta-feira dados fiscais que mostram que o déficit orçamentário antes do pagamento de juros do mês passado foi pior do que o previsto por todos os economistas consultados pela Bloomberg. O chamado déficit primário chegou a R$ 10 bilhões (US$ 2,8 bilhões) em julho e foi equivalente a -0,89 por cento do PIB nos 12 meses anteriores. O Brasil busca em 2015 um superávit primário de 0,15 por cento do PIB.

"Estamos sentindo muito as dores todas do ajuste, o câmbio, tarifas, preços, impostos, e não estamos sentindo os benefícios'', disse Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco Holding SA, em um evento no dia 20 de agosto, em São Paulo.

A presidente Dilma Rousseff disse, em um discurso no dia seguinte, que os brasileiros superarão suas dificuldades: "Vamos alumiar a luz do fim do túnel, com a nossa esperança, com o nosso otimismo e com a nossa capacidade de construir um Brasil para todos".

Título em inglês: 'Brazil Economy Shrinks More Than Forecast on Tighter Money'

Para entrar em contato com o repórter: David Biller, no Rio de Janeiro, dbiller1@bloomberg.net