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Maior mercearia virtual do mundo quer vender tecnologia diante do avanço da Amazon Fresh

Sam Chambers

31/08/2015 09h51

(Bloomberg) - No depósito da Ocado Group Plc em Hatfield, a meia hora em trem ao norte de Londres, centenas de caixotes vermelhos circulam por um labirinto de esteiras transportadoras.

Os caixotes de plástico fazem uma série de paradas técnicas, quando os funcionários os enchem com algum dos 45.000 produtos disponíveis no depósito: cereais aqui, ostras ali, bananas mais adiante. Os caixotes com mercadorias são então colocados em vans a tempo para que cheguem a residências da Grã-Bretanha dentro de uma janela de uma hora.

A sofisticação da operação está levando muitos investidores a apostarem em que o produto mais importante para a Ocado - a maior mercearia on-line do mundo - talvez não sejam os alimentos, mas a tecnologia. Com ações operando a cerca de 140 vezes os lucros estimados, há muito em jogo.

"Se você acha que a Ocado é simplesmente uma mercearia do Reino Unido, essa avaliação é absurda", disse Charles Allen, analista da Bloomberg Intelligence. "Mas se você acha que ela tem certa tecnologia para vender, então o panorama é muito mais promissor".

A Ocado investiu centenas de milhões de libras em seus centros de distribuição no Reino Unido e, junto com as margens estreitas do setor de gêneros alimentícios, isso significa que a companhia informou apenas um lucro anual em seus 15 anos de existência.

Amazon Fresh

O CEO Tim Steiner pretende incrementar os retornos licenciando a tecnologia da Ocado a uma mercearia internacional - uma perspectiva que ele vem proclamando há dois anos -. Diante da especulação de que a Amazon.com está preparando uma estação de entregas perto de Londres para oferecer Amazon Fresh, seu serviço concorrente, a pressão está aumentando.

Steiner, ex-banqueiro do Goldman Sachs, diz que quer fornecer às mercearias a tecnologia informática e o equipamento de depósito de que elas precisam para administrar um serviço on-line de qualquer porte. O sistema da Ocado oferece "mais eficiência operacional do que qualquer outro lançado internacionalmente", disse Steiner em uma teleconferência com analistas em junho. Ele disse que a companhia está em estágios avançados de negociação com diversos parceiros potenciais e visa assinar um contrato internacional por volta de dezembro. Steiner não quis ser entrevistado para esta reportagem.

Andrew Gwynn, analista do UBS AG, advertiu que, ao buscar um acordo para este ano, talvez a Ocado tenha "se encurralado". A credibilidade de qualquer parceiro é primordial, e Steiner não deveria se apressar para assinar um acordo com uma mercearia "de nível médio ou inferior" que não daria o impulso à receita necessário para justificar o investimento da Ocado em tecnologia, disse ele.

Muitos dos maiores parceiros potenciais já têm serviços on-line, frequentemente supridos com itens diretamente de suas próprias lojas. Das 24 mercearias internacionais que geraram pelo menos 20 bilhões de libras (US$ 31,6 bilhões) em vendas no ano passado, todas menos uma vendem alimentos pela internet, de acordo com a corretora Redburn Ltd.

Ceticismo

Nos EUA, a Ocado enfrenta a concorrência tanto de players estabelecidos quanto de novatos. A Peapod, da Royal Ahold NV, uma mercearia virtual com 25 anos de experiência, disse poderia considerar licenciar sua tecnologia.

Como está difícil conseguir um acordo internacional, o ceticismo continua rondando a Ocado. Quase metade dos analistas que cobrem a companhia recomenda vender a ação. De acordo com dados compilados pela Markit, uma empresa de pesquisa de Londres, os traders pediram emprestado e venderam 9 por cento das ações da companhia nas chamadas vendas a descoberto (short sales), uma aposta em que eles poderão comprar a ação de volta a um preço mais baixo. Isso se compara com uma média de 1,7 por cento no FTSE 250 Index.

"Há muitos comentários negativos sobre as perspectivas da Ocado e a gerência está percebendo isso", disse Richard Hyman, um consultor varejista independente em Londres que acompanha o setor de perto. "Construir receita internacionalmente é fundamental para o futuro dela e ela precisa agir rápido".

Título em inglês: 'As Amazon Fresh Looms, Ocado Aims to Sell More Tech Than Food'

Para entrar em contato com o repórter: Sam Chambers, em Londres, schambers7@bloomberg.net