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Dívida argentina inadimplente é uma vencedora inesperada na crise mundial

Daniel Cancel

01/09/2015 12h50

(Bloomberg) - O calote da Argentina é o melhor que está acontecendo para seus bonds denominados em dólares.

As notas reestruturadas do país sul-americano se tornaram um destaque improvável porque a crise mundial do mercado está derrubando outras notas com rating mais alto de vários mercados emergentes, da Indonésia ao Uruguai. Os bonds em dólares retornaram 2,7 por cento no mês passado, pois as moedas dos países em desenvolvimento despencaram e as commodities atingiram o valor mais baixo em 16 anos, em comparação com uma média de 1 por cento de perda para os países no EMBIG Diversified Index, do JPMorgan Chase Co. Apenas a Ucrânia, que fechou um acordo de reestruturação com os credores, teve um desempenho melhor.

Os investidores que detêm US$ 10,3 bilhões em dívida não paga da Argentina em dólares podem agradecer à iminente saída da presidente Cristina Kirchner pela sorte deles. Muitos acham que seu futuro sucessor - seja quem for - negociará um acordo com detentores de títulos não reestruturados do calote do país em 2001 (holdouts) para acabar com o isolamento do país dos mercados internacionais, que já leva dez anos, depois de dois calotes em treze anos.

"Quanto mais desafiadora a perspectiva mundial se tornar, mais forte será a percepção de que a Argentina vai adotar políticas econômicas mais ortodoxas e racionais", disse Marcela Meirelles, diretora administrativa de pesquisa sobre dívida soberana de mercados emergentes da TCW Group Inc., gestora de ativos com sede em Los Angeles que administra US$ 178,7 bilhões. "Simplesmente não há uma alternativa real".

Ganhos

Os ganhos são ainda mais desproporcionais nos últimos doze meses. A dívida argentina superou a de outros países com um ganho de 22 por cento, o dobro do rendimento da Jamaica, que teve o segundo melhor desempenho no índice do JPMorgan.

Entre os bonds argentinos no índice há notas com vencimento em 2017, 2033 e 2038 que foram emitidas como parte de reestruturações em 2005 e 2010. As notas estão em calote desde o ano passado, e os cupons vencidos são adicionados para calcular os retornos.

A Argentina deu o calote em sua dívida pela última vez em julho de 2014, não por não conseguir pagar, mas porque a decisão de um tribunal dos EUA impediu a distribuição dos pagamentos até que o país chegue a um acordo com os holdouts. Isso, junto com a eleição presidencial em 25 de outubro, levou os investidores a apostar que o próximo governo resolverá o conflito e liberará os pagamentos que continuam depositados no banco central.

Eleição

A constituição do país impede que Cristina se candidate a um terceiro mandato consecutivo. Os bonds tiveram um rali neste mês depois que a eleição primária, no dia 9 de agosto, mostrou que o candidato do partido governante, Daniel Scioli, talvez não tenha apoio suficiente para vencer no primeiro turno. A oposição tem uma chance de ganhar em um segundo turno, no dia 22 de novembro, segundo as pesquisas.

Os bonds emitidos sob a lei de Nova York se desacoplaram das tendências dos mercados emergentes desde o calote, resistindo melhor a corridas abruptas para venda do que os títulos de outros países e ganhando pelas expectativas de uma mudança de governo.

Até mesmo os chamados investidores em dinheiro real - investidores de longo prazo, como fundos mútuos e pensões -, que tinham diminuído seus investimentos nos últimos anos, começaram a voltar. A Van Eck Global, a Allianz SE, a BlackRock Inc., a T. Rowe Price Group Inc. e a Invesco Ltd. incrementaram seus investimentos em bonds da Argentina no trimestre passado, segundo dados de fatos relevantes compilados pela Bloomberg.

"Estes são uns dos poucos bonds que não foram afetados pelas correções nos mercados mundiais", disse Luis Caputo, presidente da Axis Inversiones, que detém dívida da Argentina. "Eles estão em mãos fortes, com investidores que não reduzem suas posições e, de fato, tiram proveito das quedas para comprar mais".

Título em inglês: 'This Defaulted Argentine Debt Is Surprise Winner in Global Rout'

Para entrar em contato com o repórter: Daniel Cancel, em Buenos Aires, dcancel@bloomberg.net