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Dependência do dinheiro da China leva presidente da Venezuela a fazer viagem de 14.400 quilômetros

Nathan Crooks e Nathan Gill

03/09/2015 13h53

(Bloomberg) - A melhor chance de a Venezuela evitar um calote no ano que vem cabe ao país que está na raiz da atual agitação mundial: a China.

O país asiático, um aliado fundamental durante os anos de boom das commodities, se converteu no credor de último recurso da Venezuela porque uma depressão do petróleo ameaça levar a 11° maior produtora de petróleo bruto do mundo à falência. O presidente Nicolás Maduro anunciou uma viagem-surpresa a Pequim na sexta-feira passada para garantir que os males econômicos da China não frustrem uma carteira de empréstimos que segundo ele chegam a US$ 20 bilhões.

"Se a China der US$ 20 bilhões à Venezuela, não vemos que eles deem calote em 2015 ou 2016", disse o analista do Barclays Plc Alejandro Grisanti em entrevista de Nova York. Caso contrário, "a Venezuela terá limitações muito fortes de dinheiro para seus pagamentos".

A Venezuela e sua companhia estatal de petróleo, a Petróleos de Venezuela SA (PDVSA), devem pagar US$ 5,8 bilhões em capital de bonds de dívida externa e juros neste ano e mais US$ 10,8 bilhões vencem no ano que vem, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Maduro disse em janeiro que ele obteve promessas de empréstimos da China para reforçar a economia da Venezuela, maltratada pela queda dos preços do petróleo e pela recessão. Naquela época não ficou claro se a China tinha aprovado completamente o financiamento nem quando o dinheiro seria entregue.

Dúvidas

Os swaps de crédito para a Venezuela e a PDVSA mostram que os traders têm dúvidas sobre o apoio. Os contratos estão contabilizando uma probabilidade de calote de 70 por cento para setembro de 2016, frente a 50 por cento três meses atrás.

O medo de um calote piorou depois que o preço do petróleo bruto, a fonte de 95 por cento da receita exportadora da Venezuela, despencou mais da metade nos últimos doze anos. O país consumiu reservas de moeda estrangeira a um ritmo de quase US$ 1,8 bilhão por mês entre março e julho. Com esse ritmo, a Venezuela poderia ficar sem dinheiro por volta de abril, estimou o analista do Scotiabank Joe Kogan em uma nota para clientes em 28 de agosto. Até mesmo no cenário mais positivo previsto pelo Scotiabank, os US$ 16,4 bilhões em reservas da Venezuela durarão apenas até agosto de 2016.

A China desencadeou uma corrida mundial para venda de ações, bonds e moedas no mês passado, quando desvalorizou seu yuan no intuito de impulsionar a demanda pelas suas exportações. Sinais de que o crescimento está desacelerando na segunda maior economia do mundo agravaram uma queda livre que apagou US$ 5 trilhões do valor das ações do mundo em agosto.

Falando na terça-feira de Pequim, Maduro disse que ele fez a viagem de 14.400 quilômetros "para garantir os recursos de que a Venezuela precisa para seu desenvolvimento em meio às complicações de que o mundo inteiro sabe".

Como a demanda da China por petróleo está caindo e os preços do petróleo bruto estão encolhendo, o país fica mais cauteloso em relação a quem ele empresta dinheiro e por quê, disse a analista do Eurasia Group, Risa Grais-Targow. Embora a Venezuela provavelmente consiga a renovação de um empréstimo de US$ 5 bilhões, é improvável que Maduro volte da sua viagem com muito mais, disse ela.

O yield nos títulos de referência da Venezuela a 9,25 por cento com vencimento em 2027 era de 25,266 por cento na quinta-feira, depois de subirem para 28,7 por cento, seu valor mais alto em 18 anos, em 24 de agosto. O preço dos bonds subiu 1,2 por cento para 40, 235 centavos de dólar.

"A Venezuela está em uma situação vulnerável neste momento", disse Grais-Targow em entrevista de Washington.

Título em inglês: 'Venezuela Leader Hooked on China Cash Spurs 9,000-Mile Journey'

Para entrar em contato com os repórteres: Nathan Crooks, em Caracas, ncrooks@bloomberg.net; Nathan Gill, em Quito, ngill4@bloomberg.net