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Evercore e Rothschild contratam em meio à onda de reestruturação de dívidas no Brasil

Cristiane Lucchesi e Jonathan Levin

03/09/2015 14h53

(Bloomberg) -- As crises política e econômica do Brasil trazem ao menos uma boa notícia para assessores financeiros e advogados em busca de trabalho: firmas como a Rothschild e a G5 Evercore estão contratando para ajudar empresas em dificuldades a reestruturarem suas dívidas.

A butique de assessoria G5, na qual a Evercore Partners Inc. possui uma participação de 47 por cento, contratou Ricardo Moura e Márcio Santiago Gonçalves, ex-chefes de fusões e aquisições do Bank of America Corp. no Brasil e do Pátria Investimentos SA, respectivamente. A G5, que conta com cerca de 75 funcionários, está admitindo também dois associados, além de analistas e outros colaboradores de nível júnior, disseram duas fontes com conhecimento direto sobre as contratações. O Rothschild também está contratando, disse uma fonte, sem dar detalhes.

As firmas de assessoria em reestruturação de dívida estão aumentando suas equipes em um momento em que a retração da maior economia da América Latina se intensifica. Muitas empresas enfrentam quedas de receita e estão tendo mais dificuldades para pagar dívidas em dia devido às taxas básicas de juros mais elevadas desde 2006 e à desvalorização de 40 por cento do real nos últimos 12 meses. O escândalo de corrupção que sacode a Petrobras também criou uma crise de crédito para seus fornecedores. As empresas dependentes de commodities enfrentam dificuldades devido ao colapso de preços desse mercado.

"Nunca antes na história do Brasil tivemos tantas grandes empresas precisando reestruturar dívidas ao mesmo tempo e isso está criando muita demanda por serviços de profissionais como assessores financeiros e advogados", disse Eduardo Munhoz, sócio-fundador da E.Munhoz Advogados. O escritório de advocacia foi criado em abril e pretende contar com 20 advogados no início de 2016.

Testando as regras

Munhoz disse que as leis e regulações sobre reestruturações de dívida, falências e concordatas serão testadas neste momento em que o país deixa para trás um período de abundância de crédito.

Quase metade das empresas brasileiras, ou 3,9 milhões, não estão pagando pelo menos parte de suas dívidas no prazo, segundo a provedora de dados de crédito Serasa Experian. O número de empresas que pedem recuperação judicial atingiu um recorde mensal de 135 em julho no Brasil, um crescimento de 29 por cento em relação a junho, disse a Serasa.

"Infelizmente, mesmo nesse ambiente difícil, algumas empresas esperam tempo demais para reestruturar suas dívidas, fazendo isso apenas quando já não têm dinheiro, quando o valor de seu patrimônio foi destruído e quando a recuperação é impossível", diz Cláudio Citrin, diretor-gerente da BR Advisory Partners Participações SA, uma butique de banco de investimento brasileira que iniciou o negócio de assessoria de reestruturação de dívidas há um ano.

"Trata-se de um problema cultural no Brasil: o dono fica deprimido e age como se fosse demérito dele. Ele deveria ser mais proativo enquanto ainda pode salvar sua empresa", disse Citrin, que preferiu não discutir situações específicas. "Não há motivo para sentir vergonha. Reestruturação é um processo normal em meio a uma crise como essa em que estamos".

Calote da Lupatech

Entre os clientes da BR Partners está a Lupatech SA, uma fornecedora da Petrobras que entrou com pedido de recuperação judicial em maio.

A G5 Evercore, criada em 2007 por um ex-sócio do Goldman Sachs Group Inc., Corrado Varoli, assessora as construtoras Engevix Engenharia SA e OAS SA, duas vítimas do escândalo de corrupção da Petrobras.

A G5 também realizou uma avaliação para a emissão de ações da Eneva SA. A empresa de energia brasileira entrou com pedido de recuperação judicial em dezembro.

O Rothschild está ajudando a PDG Realty SA Empreendimentos e Participações, que já foi a maior construtora de casas brasileira em receita, a reestruturar seus R$ 5,8 bilhões (US$ 1,6 bilhão) em dívida. A Cimento Tupi SA contratou o Rothschild em julho para renegociar seus pagamentos de dívidas.

As butiques financeiras atraem mais clientes que necessitam reestruturar dívidas porque não enfrentam os mesmos conflitos de interesse que os bancos, disse Citrin. "Mesmo se o banco não for credor direto da empresa, ele pode ter exposição a concorrentes ou fornecedores e isso pode comprometer o trabalho", disse ele.

Os advogados enfrentam o mesmo dilema. Uma das razões pelas quais Munhoz deixou sua antiga empresa, a Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey e Quiroga Advogados, é porque ela é uma das principais assessoras de grandes bancos que são credores no Brasil. No Mattos Filho, Munhoz assessorou a OGX Petróleo Gás Participações SA no default de US$ 3,6 bilhões em títulos em dólares, o maior calote de dívida corporativa da América Latina. Agora, Munhoz está trabalhando para a OAS e a PDG.

Título em inglês: Evercore, Rothschild Hiring for Brazil Debt-Restructuring Wave

Para entrar em contato com os repórteres: Cristiane Lucchesi, em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net; Jonathan Levin, no Rio de Janeiro, jlevin20@bloomberg.net.