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Estímulo demora para surtir efeito e BCE volta às previsões fracas

Jeff Black e Jana Randow

04/09/2015 11h18

(Bloomberg) - Para o observador casual, parece que a flexibilização quantitativa de Mario Draghi não está funcionando.

As previsões econômicas apresentadas pelo presidente do Banco Central Europeu na quinta-feira foram ainda mais fracas do que as de março, pouco antes que o plano de compras de bonds por 1,1 trilhão de euros (US$ 1,2 trilhão) começasse. Contudo, apesar de que o esfriamento do comércio mundial e a queda dos preços do petróleo ameaçam zerar novamente a inflação, o ritmo lento do estímulo e a natureza temporária dos choques externos ainda poderiam fazer com que a postura de Draghi seja justificada.

Novos dados mostram que a economia da zona do euro, com 19 países-membros, há anos não estava em tão boa forma, e o fato de que a recuperação ainda não esteja se traduzindo em um crescimento mais sólido dos preços é um problema que acomete todos os bancos centrais de importância do mundo. Mesmo assim, para evitar o risco de que as baixas expectativas de inflação se transformem em suposições de crescimento sempre baixas, Draghi destacou a disposição dos responsáveis pela política econômica para continuar comprando ativos do setor público até que a estratégia tenha atingido seu objetivo.

"Se a flexibilização só tivesse sido criada para afetar as expectativas de inflação, então seria possível dizer que voltamos ao ponto de partida", disse Christian Reicherter, analista do DZ Bank AG em Frankfurt. "Mesmo que Draghi tenha basicamente deixado a porta aberta para mais medidas do BCE, primeiro ele está tentando ganhar tempo, na esperança de que um aumento gradual da inflação até o final do ano deixe em segundo plano as especulações sobre a expansão da flexibilização quantitativa".

Perspectiva pior

O próprio Draghi se viu anunciando previsões rebaixadas dos funcionários em Frankfurt depois de um terceiro trimestre marcado pela agitação provocada nos mercados emergentes pela queda do mercado acionário na China e pelo declínio nos preços das commodities. Em vez de prever com confiança o aumento gradual do crescimento e da inflação que, conforme prometeu o BCE, acompanharia a flexibilização, ele teve que admitir que a perspectiva piorou.

Agora, o BCE projeta um crescimento de 1,1 por cento nos preços ao consumidor em 2016, em comparação com a previsão feita em março, de 1,5 por cento. A inflação para 2017 foi rebaixada de 1,8 por cento para 1,7 por cento. A meta do BCE é de pouco menos de 2 por cento.

A perspectiva de crescimento econômico para 2016 foi reduzida de 1,9 por cento em março para 1,7 por cento, e para o ano seguinte, de 2,1 por cento para 1,8 por cento.

Contudo, os 25 responsáveis pela política econômica do BCE se abstiveram de reagir imediatamente à piora da situação. Em primeiro lugar, explicou Draghi, com tanta volatilidade nos mercados financeiros nos últimos meses, é impossível que as autoridades do BCE consigam separar o barulho do curto prazo do sinal econômico mais prolongado.

Confusão

Como exemplo ilustrativo da confusão dos investidores, as expectativas de inflação baseadas no mercado têm oscilado nos seis meses desde março, chegando a subir para 1,9 por cento em julho e a cair para 1,6 por cento em agosto. Depois da entrevista coletiva de Draghi, elas estavam em 1,7 por cento.

Em segundo lugar, o programa de aquisição de ativos do BCE acabou de começar e ainda tem mais um ano pela frente. Em épocas normais, a transmissão de impulsos da política monetária pode chegar a demorar 18 meses até que as condições na economia real mudem.

Ao se abster de aplicar mais estímulos por enquanto, o BCE está permitindo que os desenvolvimentos econômicos se equilibrem, ao mesmo tempo em que destaca que as autoridades estão prontas para entrar em ação, segundo Karsten Junius, economista-chefe do Bank J Sarasin Ltd. em Zurique.

"As previsões são um reflexo dos dados extremamente robustos recentes que estão apontando para uma estabilidade inerente da economia, junto com as nuvens de tempestade nos mercados emergentes que poderiam se precipitar sobre a perspectiva do quarto trimestre em diante", disse ele. "Com a inflação tão perto do zero, é aconselhável estar atento".

Título em inglês: 'Draghi Turns Back Clock for ECB Forecasts as Stimulus Takes Time'

Para entrar em contato com os repórteres:

Jeff Black, em Frankfurt, jblack25@bloomberg.net; Jana Randow, em Frankfurt, jrandow@bloomberg.net