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Por que a angústia de um alemão em Dublin é positiva para o Deutsche Bank

Dara Doyle

04/09/2015 10h11

(Bloomberg) -- Precisando de um apartamento em Dublin, um estudante alemão resolveu interromper o almoço de estranhos aleatoriamente para perguntar se eles conheciam um lugar para alugar.

Felix, 24, de Frankfurt, vai começar a estudar administração em Dublin neste mês. Desde que lhe ofereceram uma vaga para o curso de mestrado, em junho, ele vem procurando um lugar para ficar. Na semana passada, ele se aproximou de um homem com um terno impecável que comia um bife no Beeftro, um restaurante de luxo perto da rua Grafton, em Dublin, para perguntar se ele sabia de algum lugar. Ele não sabia.

"Eu estou um pouco desesperado", disse Felix, que pediu que seu sobrenome não fosse usado por medo de que isso diminuísse suas chances com um possível locador. Ele está disposto a pagar mais de 1.000 euros (US$ 1.110) por mês por um lugar para ficar. "É um pesadelo".

A história de Felix é um microcosmo de uma crise residencial que varreu a Irlanda. Com poucas casas novas sendo construídas após o colapso imobiliário de 2008, os aluguéis subiram 25 por cento nos últimos três anos e o aluguel de um apartamento de um quarto no centro da cidade pode custar cerca de 1.360 euros por mês. Embora essa situação prejudique os inquilinos, ela representa um sucesso para empresas como o Deutsche Bank AG, que administra o maior banco de investimento da Europa, a Kennedy Wilson Holdings Inc. e os fundos de investimento imobiliário irlandeses, conhecidos como REITs, que compraram uma enorme quantidade de imóveis para aluguel após a quebra.

"Os maiores vencedores são aqueles que chegaram cedo, tipo a Kennedy Wilson e os REITs", disse Ronan Lyons, economista da Trinity College, que também trabalha no site de aluguel de propriedades Daft.ie. "A perspectiva para os acionistas deles é excelente porque é provável que os aluguéis continuem subindo, mas talvez não no mesmo ritmo, devido à falta de oferta nova".

Havia cerca de 4.600 propriedades para aluguel no mercado no início de agosto, uma queda de mais de 80 por cento em relação a julho de 2009, quando o número atingiu um pico, segundo o Daft.ie.

Pressão nos preços

O Deutsche Bank comprou 680 residências irlandesas para aluguel do Danske Bank A/S no ano passado, disseram duas fontes com conhecimento do assunto. O Deutsche Bank preferiu não comentar. A Kennedy Wilson conta com cerca de 1.200 propriedades em Dublin e outras 320 deverão ficar disponíveis nos próximos dois anos. Desde que a Kennedy Wilson começou a comprar imóveis para alugar em Dublin em junho de 2012, os preços das residências subiram cerca de 24 por cento. E mesmo depois do negócio feito pelo Deutsche Bank no ano passado, aumentaram 15 por cento.

"Os principais fatores de demanda estão aplicando pressão para aumento dos aluguéis", disse Philip O'Sullivan, analista da Investec Plc em Dublin. "Estimamos que os aluguéis vão continuar subindo".

As ações da Hibernian REIT Plc, que possui apartamentos no sul de Dublin, subiram 10 por cento nos últimos seis meses, enquanto o Bloomberg Europe Real Estate Index caiu 5,8 por cento. A Irish Residential Properties REIT Plc acumula alta de 2,6 por cento no mesmo período.

Banheiro sujo

Para pessoas como Felix, contudo, o aumento dos aluguéis significa problemas. Depois que seu diálogo no Beeftro não levou a lugar nenhum, ele foi visitar um apartamento em Clontarf, perto da costa, no norte da cidade.

Ele e a mãe chegaram cedo e encontraram um apartamento com um banheiro que ele descreve como "sujo", a um preço de 925 euros por mês. Com 10 pessoas esperando atrás dele, ele descartou o lugar. Embora ainda tenha esperanças de conseguir um alojamento oferecido pela universidade, ele terá que se acomodar na residência de um amigo se não conseguir um lugar até o início das aulas.

"Eu não imaginava que fosse tão difícil", disse ele.

Título em inglês: Why One German's Misery in Dublin Is Good for Deutsche Bank

Para entrar em contato com o repórter: Dara Doyle, em Bruxelas, ddoyle1@bloomberg.net.