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A Grécia, o melhor investimento do mundo

Matthew Winkler

11/09/2015 19h37

(Bloomberg View) - Lembra que, em fevereiro, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed) dos EUA Alan Greenspan disse que a Grécia abandonaria o euro e que a moeda comum colapsaria? Lembra que, um mês depois, o investidor e filantropo George Soros disse que a Grécia estava descendo pelo ralo? Ou ainda que, em julho, o presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, Marcel Fratzscher, caracterizou a Grécia como uma "catástrofe política e econômica" que voltaria para o dracma no desespero?

A Grécia não resolveu de forma nenhuma todos seus problemas financeiros. Contudo, o país resultou ser um investimento vencedor desde o final de 2014, sua dívida tem o melhor rendimento na zona do euro desde janeiro e é o melhor ativo do mundo desde julho. Desde que o partido antiausteridade Syriza foi eleito, nenhum mercado acionário, de bonds, de commodities ou cambial produziu nada que se pareça com o retorno da dívida grega, que ganhou mais de 100 por cento em um punhado de meses, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A Grécia superou todos os ativos negociados nas bolsas, pois seus bonds se valorizaram do ponto mais baixo, em julho, ao mais alto hoje. Qualquer um com suficiente sofisticação para comprar esses bonds gregos e ao mesmo tempo vender a descoberto, ou tomar emprestado o dinheiro para vender, os títulos com vencimento similar do governo da Alemanha do Dr. Fratzscher - o país mais solvente da zona do euro - também lucrou muito com essa operação.

No dia 25 de janeiro, Alexis Tsipras chegou ao poder como primeiro-ministro da Grécia com a missão aparentemente contraditória de acabar com cinco anos de cortes nos gastos do governo e obter os últimos 7,2 bilhões de euros (US$ 8,1 bilhões) dos fundos de resgate de 240 bilhões de euros dos resistentes credores da União Europeia. Seis dias depois, a taxa de juros sobre o bond grego de referência com vencimento em dez anos estava em 11,2 por cento, valor mais alto em quinze meses. Comprar a dívida naquela época e mantê-la até hoje, quando o yield caiu para 8,11 por cento, impulsionando o preço para cima, teria retornado 26 por cento.

Alguns dias depois da vitória de Tsipras, Greenspan disse à British Broadcasting Corp. que era "só uma questão de tempo" para que a Grécia abandonasse a moeda comum da união monetária e o euro se desintegrasse. "O problema é que não consigo conceber que o euro continue, a menos que todos os membros da zona do euro se integrem politicamente - na verdade, apenas uma integração fiscal não será o bastante", disse Greenspan.

Embora a perspectiva tenha melhorado, a ponto de que o yield sobre o bond grego de referência tenha caído para 10,8 por cento em 24 de março, isso não foi suficiente para convencer Soros, o bilionário presidente da Soros Fund Management. "A Grécia está descendo pelo ralo", disse ele, em entrevista à Bloomberg Television. "Agora esse é um jogo em que todos perdem, e o melhor que poderia acontecer é sair de um jeito ou de outro". Se Soros tivesse comprado bonds gregos no dia 24 de março e tivesse guardado-os até hoje, seu retorno teria sido de 21 por cento. E qualquer um que comprou bonds gregos e ao mesmo tempo vendeu a descoberto bonds do governo alemão tem um retorno total de 25 por cento.

O auge do pessimismo ocorreu na primeira semana de julho, depois que os gregos optaram, em uma votação, por rejeitar as políticas de austeridade prescritas pelos credores internacionais. Foi então que o Dr. Fratzscher, o ex-diretor de análise de políticas econômicas do Banco Central Europeu, formado em Oxford e em Harvard, escreveu em seu blog: "O referendo equivale a uma catástrofe política e econômica para a Grécia". Ele também fez a seguinte previsão: "Uma Grexit (saída da Grécia) é e continua sendo a pior opção para a Grécia. E ela está se tornando cada vez mais provável".

Os investidores discordaram. O entusiasmo deles pela dívida grega, refletido no valor crescente dela, foi um voto de confiança no futuro da Grécia - e também na receita dos credores de duros remédios de austeridade como tratamento contra as doenças econômicas da Grécia.

Se alguém tivesse rejeitado a perspectiva do Dr. Fratzscher, comprado bonds gregos com um yield de 19,2 por cento quando ele fez a previsão e retido-os até hoje, seu retorno teria sido de 101 por cento. Ou seja, um investimento de US$ 100 milhões no dia 8 de julho teria passado a valer US$ 201 milhões em dois meses. No mesmo período, a referência para todos os bonds europeus retornou pouco mais de 1 por cento. Um investimento na mesma referência europeia desde 24 de março perdeu 3,3 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. E embora quem comprou a dívida grega no dia 31 de janeiro hoje tenha um retorno de 26 por cento, a referência europeia perdeu 1,8 por cento durante o mesmo período.

Desde o dia 8 de julho, nada no mundo, nem ações, nem bonds, nem commodities, nem moedas, ganhou um valor nem perto do retorno dos bonds gregos. Durante 2015, duas coisas nunca mudaram. As pesquisas mostraram que os cidadãos gregos preferiram consistentemente a estabilidade da união monetária da Europa à instabilidade dos dracmas. Do mesmo modo, nenhum chefe de Estado europeu disse que a UE queria que a Grécia abandonasse a zona do euro. O euro, declarado por ambos os lados como a moeda de sua preferência, acabou sendo o instrumento que transformou os investidores em bonds gregos nos vencedores de 2015.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.