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Dr. Fantástico: como os mercados da Grécia aprenderam a parar de se preocupar e amar Tsipras

Lukanyo Mnyanda e Camila Russo

18/09/2015 11h36

(Bloomberg) - Sua popularidade entre os eleitores pode até estar diminuindo, mas o homem que provocou nervosismo nos mercados financeiros internacionais, quando quase levou a Grécia a sair da zona do euro, foi elogiado pelos investidores.

Alexis Tsipras está entrando na eleição do domingo com uma queda do apoio a seu partido, o Syriza, nos últimos trinta dias, o que faz com que o resultado da votação seja imprevisível. Enquanto isso, os bonds do governo grego registraram os maiores retornos na zona do euro e o mercado acionário do país também está tendo um rali.

Sua promessa de acabar com a era de austeridade se desfez quando ele cedeu às exigências da zona do euro e assinou o acordo de resgate que ele tinha criticado anteriormente. Agora, os investidores estão otimistas em relação à perspectiva de que Tsipras volte ao poder. Antes de renunciar como primeiro-ministro e provocar a segunda eleição grega em oito meses, o homem de 41 anos abandonou o elemento mais extremista de seu partido que se recusava a chegar a um compromisso.

"Suponho que é melhor não trocar o certo pelo duvidoso", disse Orlando Green, analista de renda fixa da unidade de serviços bancários corporativos e investment banking da Crédit Agricole SA em Londres. "Tsipras mudou muito de posicionamento desde julho".

Os melhores do ano

Os yields sobre os bonds do governo com vencimento em dez anos caíram para 8,16%, a taxa mais baixa de 2015, nesta sexta-feira (18). Depois de terem ficado em menos de 10% durante 2014, os yields tinham subido para 11,22% em janeiro, quando a categórica vitória eleitoral do Syriza marcou o começo de seis meses de malabarismos políticos com os credores.

Depois que Tsipras abandonou as negociações no final de junho e convocou um referendo sobre as condições atreladas ao resgate do país, os yields dos bonds gregos a dez anos dispararam para quase 20% por volta de 8 de julho.

As ações em Atenas também avançaram desde então. Os bancos gregos deram um salto de 64% em relação a seu valor mais baixo da história e o ASE Index de referência subiu 22% em relação a seu menor valor em três anos, registrado no dia 24 de agosto.

Capitulação

O governo da Grécia acabou capitulando porque o país estava ficando sem dinheiro e seus bancos fecharam durante duas semanas. A recuada, no intuito de conseguir até 86 bilhões de euros (US$ 97 bilhões) em ajuda, provocou uma fragmentação da coalizão de Tsipras e lhe custou sua maioria parlamentar. Ele renunciou no dia 20 de agosto.

As pesquisas de opinião mostram uma eleição disputada com a Nova Democracia, deposta pelo Syriza em janeiro e liderada atualmente por Evangelos Meimarakis. Como não se projeta que nenhum dos dois partidos obtenha uma maioria, existe o risco de uma instabilidade política prolongada em um país com uma taxa de desemprego de mais de 25%.

Contudo, poucos preveem que recomeçará o enfrentamento com a zona do euro, que deixou a Grécia à beira da destruição financeira. Os investidores anteveem que o novo governo, seja qual for sua constituição, se empenhe em cumprir os critérios do último pacote de ajuda, o terceiro da Grécia desde 2010.

"A percepção do mercado sobre o Syriza mudou muito desde a última eleição", disse Vassilis Karatzas, diretor administrativo da Levant Partners, um hedge fund em Atenas que tem US$ 125 milhões. "O partido é visto como uma força que implementará o memorando. Nenhum dos dois partidos terá a ilusão de poder voltar à Europa e obter um acordo melhor. Essa ilusão, a de uma saída fácil, acabou".