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Portugal precisa manter o curso: Editorial

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06/10/2015 11h11

(Bloomberg View) -- Se nenhuma boa ação fica impune, então o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, se saiu bem nas eleições de domingo. Após gerenciar as reformas que evitaram a piora da economia portuguesa, sua coalizão governista ficou muito menor -- mas por enquanto, pelo menos, parece que ele ainda ficará à frente do Executivo.

Políticos da Grécia (e de outros países europeus em dificuldades econômicas), tomem nota: os eleitores apoiarão reformas econômicas dolorosas enquanto o remédio parecer estar funcionando. Nos últimos quatro anos, Portugal lutou para honrar os termos do resgate de 78 bilhões de euros que recebeu em 2011 do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia. Seus esforços transformaram o país na estrela das reformas entre as economias atribuladas da Europa.

As legendas políticas de oposição -- incluindo o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda -- não se mostraram tão impressionadas. Embora a economia tenha começado a se recuperar e o governo tenha dito recentemente que reduzirá gradualmente a austeridade, a esquerda pediu a reestruturação da dívida e uma nova abordagem à política fiscal, baseada na transferência dos impostos para as empresas. Sua mensagem ressoou também entre os eleitores cansados da austeridade: em uma eleição que registrou uma baixa recorde nos níveis de participação dos eleitores, mais da metade dos votos foram para partidos que haviam se oposto às medidas de austeridade.

Certamente a reestruturação de dívidas ainda pode ser necessária. O FMI alertou que os planos do governo podem ser insuficientes para tornar a dívida sustentável. A imposição de mais austeridade, por outro lado, pode ser contraprodutiva, mesmo que politicamente viável. Mas a pedido da esquerda de transferência da carga do ajuste fiscal para as empresas claramente não é a resposta: isso causaria um impacto sobre os investimentos e os empregos justamente quando a economia começa a se reerguer.

O governo de Coelho, em vez disso, aplicou reformas ao mercado de trabalho -- reduzindo o ultrageneroso pagamento de indenização por demissão em mais da metade, por exemplo, e dando mais flexibilidade aos pequenos empregadores nas negociações coletivas. A reforma tributária, com ênfase na simplificação e cortes nas taxas corporativas, também está ajudando. Essas mudanças eram necessárias para melhorar a competitividade e impulsionar os empregos. Os eleitores parecem ter entendido que essas medidas precisam de tempo para funcionar.

As exportações cresceram. O desemprego está em queda e a economia está se expandindo. No ano passado, o governo anunciou que estava deixando o mecanismo de resgate, reconquistando seu acesso aos mercados de capitais.

As autoridades portuguesas sempre rejeitaram comparações com a Grécia, insistindo que Portugal fez muito mais para restaurar sua economia do que a Grécia estava disposta a fazer. Eles estão certos -- mas precisam entender que seu trabalho, sob nenhum aspecto, está terminado --. Os eleitores ofereceram sua paciência por mais algum tempo. Seus líderes deveriam se convencer de justificar essa confiança.

Título em inglês: Portugal Needs to Stay the Course: Editorial

Para entrar em contato com o editor sênior responsável pelos editoriais da Bloomberg View: David Shipley, davidshipley@bloomberg.net.