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Cencosud sofre no mercado de bonds por causa do Brasil e da Argentina

Eduardo Thomson e Emma Orr

08/10/2015 13h33

(Bloomberg) - A decisão tomada pelo bilionário Horst Paulmann de expandir seu império varejista chileno para o Brasil e para a Argentina está assombrando-o no mercado de bonds.

A Cencosud SA, controlada por Paulmann, viu seus US$ 1,2 bilhão em notas com vencimento em 2023 despencarem nos últimos 30 dias, pois o atordoamento econômico do Brasil custou à maior economia da América Latina seu grau de investimento da Standard Poor's e a perspectiva de desvalorização cambial está aumentando na Argentina. O terceiro maior varejista da América Latina em termos de vendas obtém 45 por cento da receita nesses dois países.

O tumulto cada vez mais intenso nas maiores economias da América do Sul não poderia ocorrer em pior momento para a Cencosud, que vem tendo dificuldades para reduzir a alavancagem depois que uma série de aquisições financiadas por dívida colocaram em risco seu grau de investimento. A companhia sofreu outro golpe na semana passada, quando o diretor financeiro Juan Manuel Parada pediu demissão inesperadamente, o que alimentou a especulação de que a Cencosud vai adiar a venda programada de ações de suas operações de shopping centers.

"Parece que o cenário no Brasil continua desanimador, e a Argentina há muito tempo tem sido uma espécie de nuvem preta que paira sobre a companhia", disse Felipe Lubiano, analista de crédito da Credicorp Capital, em Santiago.

A assessoria de imprensa da Cencosud não quis comentar o desempenho dos bonds.

Brasil e Argentina

A queda de 3,8 por cento registrada nos últimos 30 dias nas notas da companhia, que tem sede em Santiago, equivale a quase três vezes a perda média para a dívida com grau de investimento nos mercados emergentes. Os títulos agora têm um yield de 5,8 por cento, ou o recorde de 3,76 pontos porcentuais a mais que os títulos do Tesouro dos EUA.

A Moody's Investors Service tem uma perspectiva negativa para a nota Baa3 da Cencosud, que é o grau de investimento mais baixo.

A corrida para venda nos bonds da companhia se aprofundou à medida que os infortúnios do Brasil aumentaram. A S&P rebaixou o país para o grau especulativo, pois a economia está caminhando para sua recessão mais longa desde os anos 1930 e um impasse político está demovendo as iniciativas do governo para acabar com a deterioração de suas finanças. Essa turbulência fez com que o real brasileiro caísse 31 por cento neste ano, a maior desvalorização entre os mercados emergentes.

"A Cencosud também está enfrentando um problema cambial" no Brasil, disse Lubiano, da Credicorp.

Na Argentina, o peso está oscilando perto do patamar mais baixo, registrado no mês passado, no mercado paralelo por causa da preocupação de que o próximo presidente desvalorize a taxa oficial para aumentar a competitividade das exportações do país. As eleições argentinas acontecerão no fim deste mês, e o novo governo assumirá no dia 10 de dezembro.

Contudo, os esforços da Cencosud para reforçar as próprias finanças renderam à companhia a aprovação da Fitch Ratings, que tem uma perspectiva estável para a nota BBB- da varejista.

Perspectivas

A Cencosud finalizou a venda de uma participação controladora em sua unidade de cartões de crédito para o Scotiabank no primeiro semestre deste ano e utilizou cerca de US$ 1 bilhão do arrecadado para pagar dívidas. Isso ajudou a companhia a reduzir a razão líquida entre sua dívida e seus lucros antes de itens de quase 4 vezes em 2014 para 3,6 vezes no fim do segundo trimestre. Ela está tentando reduzir essa razão para 3 vezes por volta do fim do ano.

"A companhia tem boas variáveis fundamentais e uma boa estrutura de capital", disse Jose Vertiz, analista da Fitch, de Nova York. "Nossa perspectiva para a empresa no médio prazo é positiva".

No entanto, para a analista de ações Cristina Acle, da Banchile Inversiones, a saída do diretor financeiro da Cencosud poderia desacelerar os esforços de recuperação da companhia.

Parada vinha encabeçando uma possível venda de ações na divisão de shopping centers da Cencosud através de uma abertura de capital ou de uma colocação privada. Esses fundos teriam atraído investimentos que poderiam ter gerado fluxo de caixa disponível para ir pagando a dívida, de acordo com Acle.

"Se a pessoa que estava encabeçando esse processo pede demissão, é evidente que o evento será adiado", disse ela, em entrevista por telefone, de Santiago.

Título em inglês: 'Retail Billionaire Burned in Bond Market on Brazil, Argentina'

Para entrar em contato com os repórteres: Eduardo Thomson, em Santiago, ethomson1@bloomberg.net; Emma Orr, em Nova York, eorr6@bloomberg.net