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Cientistas criam diamantes quase perfeitos, mas que nunca serão vendidos

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Imagem: Reprodução

Thomas Biesheuvel

08/10/2015 11h46Atualizada em 08/10/2015 19h13

(Bloomberg) - Os cientistas da De Beers podem fazer diamantes quase impecáveis em um laboratório, mas eles nunca venderão nenhum.

A unidade Element Six da companhia mineradora de 127 anos, cujo nome se refere à posição do átomo de carbono na tabela periódica, fabrica pedras preciosas tão perfeitas quanto qualquer uma encontrada nas lojas da Tiffany, mas o destino delas é um complexo de escritórios da década de 1980 nos limites de Londres.

Lá, uma equipe de 62 pessoas estuda as criações deles e desenvolve máquinas para os compradores de diamantes que querem identificar gemas sintéticas sendo vendidas como verdadeiras.

Embora ainda sejam uma pequena parte do mercado, os diamantes artificiais agora estão sendo produzidos em massa, e lojistas como a Wal Mart os vendem a clientes que buscam alternativas mais baratas. Mas, como as gemas são quase indistinguíveis daquelas formadas naturalmente, alguns vendedores tentaram fazer com que diamantes sintéticos se passassem por autênticos.

Descobriu-se que pacotes em centros de corte na Índia continham uma mistura entre gemas artificiais e extraídas. Para a De Beers, que já foi uma distribuidora quase monopólica que controlava e nutria o mercado, os trapaceiros apresentam um risco para a confiança do consumidor em um setor mundial de US$ 80 bilhões.

Sem enganação

A arte ilegal de misturar gemas artificiais e mineradas, conhecida como "peppering" (salpicar), é uma ameaça para os esforços dos produtores por defender e promover a imagem dos diamantes naturais, que obtêm um prêmio em relação aos artificiais.

Embora a De Beers fabrique suas próprias pedras sintéticas, 99% delas são utilizadas com fins industriais, como as furadeiras nas torres de perfuração de petróleo, e as variedades com qualidade de gemas são destinadas unicamente a ajudar a empresa a identificar as que são feitas em outros laboratórios.

Os lojistas vendem gemas artificiais com descontos de 30% a 40%. Elas são criadas por técnicos a partir de um cristal de carbono em uma câmara de micro-ondas com metano ou outro gás que contenha carbono. O cristal é superaquecido até se transformar em uma bola brilhante de plasma. Esse processo cria partículas que se cristalizam em diamantes em até dez semanas.

Embora os sintéticos respondam por apenas uma fração do mercado, eles são cada vez mais atraentes para os compradores jovens. Essa é mais uma dor de cabeça para os donos de minas, que são pressionados para diminuir a oferta e reduzir os preços, pois comerciantes, cortadores e polidores estão tendo dificuldades para lucrar em meio à escassez de crédito e à fraqueza das vendas de joias.

Um índice de preços de diamantes polidos atingiu o valor mais baixo em cinco anos no mês passado.

A De Beers, fundada na gigantesca mina Kimberley, na África do Sul, e desenvolvida sob o comando de Cecil Rhodes, agora emprega os cientistas e a tecnologia para ajudar a evitar enganos. Em seus escritórios em Maidenhead, no Reino Unido, perto da antiga casa do bilionário magnata dos diamantes Harry Oppenheimer, a meta é criar novas gemas que possam enganar as máquinas de detecção, para que a empresa tenha uma ideia do tipo de concorrentes sintéticos que enfrentará nos próximos anos, disse Simon Lawson, diretor de tecnologia da De Beers no Reino Unido.

Detecção de fraudes

Os pesquisadores desenvolveram três tipos de máquinas que são vendidas por até US$ 55 mil cada e normalmente são adquiridas por bolsas de comércio do mundo inteiro. Um dispositivo demora cerca de quatro segundos para analisar a composição atômica de uma pedra em busca de impurezas.

Os 2% de diamantes que não passam no teste são então banhados em luz ultravioleta e vistos em outra máquina. As inconsistências no brilho da fosforescência e da fluorescência podem indicar ao operador que talvez as gemas sejam artificiais.

Cerca de 360 mil quilates de gemas artificiais foram produzidos no ano passado, em comparação com 126 milhões de quilates de diamantes naturais. A produção sintética, alimentada pela maior demanda dos lojistas por alternativas mais baratas, provavelmente aumentará para 2 milhões de quilates em 2018 e para 20 milhões de quilates por volta de 2026, segundo a empresa de pesquisa Frost Sullivan.

Apesar da maior concorrência, a De Beers não pretende vender diamantes sintéticos.

"O foco da De Beers são os diamantes naturais", disse Lawson. "Não faríamos nada que pudesse canibalizar esse setor".