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Goldman encerra fundo Bric após anos de perdas

Andy Wong/AP
Imagem: Andy Wong/AP

Ye Xie

09/11/2015 12h02

(Bloomberg) -- A era dos Bric está chegando ao fim no Goldman Sachs.

A unidade de gestão de ativos do banco descontinuou seu deficitário fundo Bric, que investe no Brasil, Rússia, Índia e China, e o combinou no mês passado com um fundo mais amplo de mercados emergentes. O Goldman Sachs encerrou o produto criado há nove anos por não prever um "crescimento significativo dos ativos em um futuro próximo", segundo declaração à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC.

Catorze anos depois de o ex-economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O'Neill, cunhar a sigla que gerou uma expansão sem precedentes nos investimentos, os maiores mercados emergentes agora estão tropeçando. A Rússia e o Brasil entraram em recessão. A China, por muito tempo um motor do crescimento mundial, deverá registrar sua expansão mais fraca desde 1990.

A queda do fundo Bric, que havia perdido 88% de seus ativos desde o pico de 2010, também ressalta como a estratégia de combinar países diferentes em um único tema de investimento é algo que está perdendo apelo entre os investidores.

"A promessa de um crescimento rápido e sustentável dos Bric tem sido bastante contestada nos últimos cinco anos ou mais", disse Jorge Mariscal, chefe de investimentos para mercados emergentes da UBS Wealth Management, que supervisiona cerca de US$ 1 trilhão. "O conceito Bric foi popular. Mas nada é eterno".

O fundo Bric está sendo engolido pelo Emerging Markets Equity Fund como parte dos esforços do Goldman Sachs para "otimizar" seus ativos e "eliminar produtos coincidentes", disse o banco com sede em Nova York na declaração de 17 de setembro.

Em vez de liquidar o fundo, o Goldman Sachs optou pela fusão porque ela permitirá aos investidores o acesso a "um universo mais diversificado" de países em desenvolvimento. O banco assinalou que o fundo de mercados emergentes teve um desempenho superior nos períodos de um, três e cinco anos.

O fundo Bric perdeu 21% em cinco anos até 23 de outubro, último dia de negociação antes da fusão. Seus ativos caíram para US$ 98 milhões no fim de setembro após atingirem um pico de US$ 842 milhões em 2010, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

"Ao longo da última década o investimento em mercados emergentes deixou de ser algo tático e oportunista para ser parte estratégica da maior porção das alocações de ativos", disse Andrew Williams, porta-voz do Goldman Sachs. "Continuamos recomendando que nossos clientes tenham exposição aos mercados emergentes ao longo das classes de ativos como parte de sua alocação estratégica".

O'Neill, que deixou o cargo de presidente do conselho do Goldman Sachs Asset Management em 2013 e se tornou secretário comercial do Tesouro do Reino Unido em maio, preferiu não comentar.

Poder dos Bric

Na década posterior à criação do apelido Bric, o grupo surgiu como uma potência econômica global, reunindo 40% das reservas estrangeiras do mundo. O índice MSCI BRIC deu um retorno de 308% no período de 10 anos até 2010, contra um ganho de 15% do S&P 500.

Apesar de os quatro países ainda representarem mais de um quinto da economia global, suas perspectivas de crescimento diminuíram. Em um relatório de dezembro de 2011, Dominic Wilson, à época economista-chefe de mercados do Goldman Sachs, disse que o potencial econômico dos Bric havia chegado ao seu pico por causa de uma oferta menor de novos trabalhadores.

A situação tornou-se ainda mais notável neste ano. O Brasil está abalado por um escândalo de corrupção e pela pior recessão em 25 anos, enquanto as empresas russas estão sem acesso aos mercados globais de capitais devido às sanções internacionais.

Na China, o governo foi pego de surpresa por um colapso acionário este ano que eliminou US$ 5 trilhões em valor de mercado. Mesmo na Índia, onde o crescimento mostrou aceleração, o primeiro-ministro Narendra Modi enfrenta dificuldades para realizar reformas.