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Análise: Onde está o crescimento econômico? Na África Subsaariana

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Imagem: Shutterstock

Matthew Winkler

10/11/2015 13h31

(Bloomberg View) -- Essa é uma boa maneira de deixar seus companheiros perplexos: pergunte a eles qual parte do mundo apresenta o crescimento econômico mais rápido nos últimos dez anos. E cujos governos e países desfrutam dos maiores retornos sobre investimentos entre os mercados emergentes do mundo.

Alguém respondeu África Subsaariana? Pague um drinque para essa pessoa!

Durante os últimos dez anos, o produto interno bruto dos 11 maiores países subsaarianos aumentou 51%, mais que o dobro dos 23% do mundo e quase quatro vezes os 13% de expansão dos EUA, a maior economia, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

A expansão robusta vem acompanhada da estabilização da inflação no continente africano, sendo que o índice de preços ao consumidor para toda a África caiu de mais de 13% em 2008 para 7,8% atualmente e está em menos de 8% desde 2013, segundo dados da Bloomberg.

Essa combinação de crescimento abrasador e queda da inflação está se revelando uma atração irresistível para os investidores internacionais, que viram tendências opostas assolarem os maiores mercados emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China.

Para ter uma prova do entusiasmo do investidor não é preciso ir além do Quênia ou da Nigéria, cuja dívida soberana registrou um desempenho superior à da maior parte dos papéis do mundo.

Nos últimos cinco anos, os títulos emitidos por esses dois países registraram retornos totais (rendimento mais apreciação nas moedas locais convertidas em dólares americanos) de 56% e de 40% respectivamente, segundo dados da Bloomberg.

Como comparação, o índice da dívida soberana dos países desenvolvidos ofereceu um retorno equivalente em dólares de 2% durante os últimos cinco anos e uma cesta similar de dívidas de mercados emergentes deu um retorno de 12%.

Quando os títulos soberanos de referência de 32 mercados emergentes são comparados desde 2010, Quênia e Nigéria figuram entre os cinco primeiros, segundo dados da Bloomberg.

Entre os de pior desempenho estão a Rússia, que perdeu 36%, o Brasil, que perdeu 29%, a Colômbia, que perdeu 26%, e a Turquia, que perdeu 23%. A África do Sul é a única grande perdedora entre os países subsaarianos, em grande parte pelo fato de sua moeda, o rand, ter caído 51%.

Parte da expansão da África pode ser explicada por seu crescimento populacional explosivo. Desde 2000, a população dos 11 maiores países subsaarianos, medida pelo PIB, cresceu 41%, para 634 milhões, ou mais de duas vezes o total de 318 milhões dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Durante o mesmo período, a Índia cresceu 23%, o mundo, 18%, os EUA, 13%, e a China, 7%.

Essa tendência demográfica não perderá força tão cedo, simplesmente porque os africanos subsaarianos são muito jovens.

Na Nigéria, por exemplo, 43,7% da população tem menos de 15 anos. No Quênia, essa fatia é de 42,1%; em Gana, de 35,3%; e na África do Sul, de 28,3%.

A média mundial é de 25,8%. A porcentagem de nigerianos com mais de 65 anos é de 3%, contra 14,5% nos EUA e 8,3% no mundo, segundo dados da Bloomberg.

Dessa forma, os investidores globais estão focados nos novos consumidores da região, que ajudaram os cinco maiores setores de lá a ultrapassarem o desempenho de seus pares nos mercados emergentes desde junho de 2014, quando o petróleo iniciou uma queda de 58%.

 A indústria financeira subsaariana superou o desempenho de seu par dos mercados emergentes em 11%; as empresas de consumo discricionário, em 18%; as de bens de consumo básico, em 5%, e as de materiais, em 16%.

Apenas as empresas de energia perderam na comparação, apresentando um desempenho 0,5% inferior

Entre as empresas subsaarianas estão 200 firmas presentes nas sete maiores bolsas com uma capitalização de mercado mínima de US$ 200 milhões: África do Sul, Nigéria, Quênia, Botsuana, Zâmbia, Gana e Malauí.

A capitalização de mercado dessas empresas atualmente é de US$ 533 bilhões, maior que a de US$ 505 bilhões do Brasil e menor que a de US$ 637 bilhões da Itália.

As ações de tecnologia deram o maior retorno, com 10%, seguidas dos papéis das empresas de telecomunicações e de consumo discricionário, a maioria delas com sede na África do Sul, país que abriga as empresas que apresentam o melhor desempenho de junho de 2014 até hoje.

E apesar de o valor de sua moeda e o de sua dívida terem deteriorado de 2011 para cá, o PIB da África do Sul, de US$ 328 bilhões, é 28% superior ao de 10 anos atrás, quando era equivalente ao da Dinamarca e ao da Grécia.

Enquanto a Dinamarca teve uma expansão de 1,4% desde 2005 e a Grécia, uma contração de 18%, a África do Sul atualmente é uma economia muito maior.

Ainda não está convencido? Ok, vejamos a Nigéria. O petróleo responde por 90% de seu comércio internacional e por quase 35% de seu PIB e os preços do óleo bruto, como se sabe, despencaram.

A moeda do país, o naira, não conseguiu se recuperar do colapso do fim do ano passado. Contudo, os investidores internacionais, convencidos de que a Nigéria é muito mais do que suas commodities, estão impulsionando os preços de seus títulos mesmo assim.

Aparentemente, o mesmo pode ser dito a respeito de metade do continente.