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Vale em crise: preços de metais em queda, país em recessão e desastre em MG

Antonio Cruz/Agência Brasil
Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Peter Millard e Emma Orr

18/11/2015 13h05Atualizada em 18/11/2015 16h35

(Bloomberg) -- O maior desastre da mineração na história do Brasil não poderia ter vindo em pior momento para os investidores em títulos da Vale.

A maior produtora de minério de ferro do mundo já estava enfrentando problemas com a queda dos preços dos metais e com a mais profunda recessão econômica no Brasil nos últimos 25 anos.

A ruptura de duas barragens operadas pela Samarco Mineração no início deste mês está agora ameaçando elevar os custos, pois a escala do acidente quase certamente significa uma supervisão mais rigorosa. O desastre da Samarco enterrou uma vila, matou pelo menos 11 pessoas e contaminou um rio de uma extensão de 853 quilômetros, deixando mais de 260 mil pessoas sem água potável.

A Vale tem minas de minério de ferro em todo o Brasil que são semelhantes às da Samarco --grandes reservatórios de rejeitos de lama com resíduos da atividade de mineração-- e que agora sofrerão maiores controles dos órgãos ambientais.

Como resultado, os investidores em debêntures (títulos de dívida da empresa) estão se preparando para mais sofrimento. Os US$ 2,25 bilhões de notas da Vale com vencimento em 2022 caíram 2,9% desde 5 de novembro, três vezes a média dos mercados emergentes.

A Samarco, uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton, com sede em Melbourne, disse em 6 de novembro que é muito cedo para determinar o que causou o acidente e que as barragens foram consideradas de acordo com as normas de segurança em uma inspeção em julho. A Samarco está trabalhando para reforçar duas outras barragens para reduzir o risco para as estruturas, disse a empresa nesta quarta-feira.

Em uma declaração conjunta em 11 de novembro, a BHP e a Vale disseram que estavam participando dos esforços de salvamento, fornecendo ajuda às vítimas e tornando a área segura novamente. E enquanto as licenças de funcionamento foram suspensas indefinidamente, os dois proprietários disseram que estão comprometidos em restaurar o empreendimento. A Vale disse que poderia levar anos para limpar o rio Doce.

A Samarco tem US$ 1,7 bilhão em seguros contra interrupções de negócios e suspensão de operações, enquanto a cobertura de responsabilidade civil é menor do que os R$ 250 milhões (US$ 66 milhões) já cobrados pelo órgão ambiental Ibama, disse Luciano Siani Pires, diretor financeiro da Vale, em 16 de novembro em uma teleconferência.

A Vale não espera que as multas e dívidas da Samarco sejam repassadas para os dois proprietários do projeto, ele afirmou.

Em uma entrevista na semana passada, o promotor estadual Guilherme de Sá Meneghin disse que vai procurar penas máximas contra a Samarco, o que pode incluir a exigência de uma indenização de R$ 1 bilhão (US$ 260 milhões) e o fechamento do lugar de forma permanente.

O acidente também danificou uma correia transportadora da mina da Vale em Mariana e fechou a mina de Fazendão, que alimentava a produção da Samarco. A Vale espera que cerca de 18 milhões de toneladas de produção sejam perdidas como resultado, que equivale a 5% da produção anual.

Isso levou o Bradesco a cortar sua estimativa para os lucros da Vale em 2016 em cerca de US$ 300 milhões, caindo para US$ 5 bilhões. O banco de investimentos Deutsche Bank afirmou que os custos de limpeza poderiam ultrapassar US$ 1 bilhão.

Para piorar as coisas, a economia do Brasil vai encolher 2,5% este ano e 0,5% em 2016, de acordo com estimativa da agência de classificação de risco Standard & Poor's. Seria a recessão mais longa desde a Grande Depressão.

"Outras restrições para tornar a mineração mais segura vão acabar encarecendo a atividade", disse Russ Dallen, chefe de operações na Caracas Capital Markets. "Eles estão sendo atingidos por um golpe duplo - o boom das commodities terminou".