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Inflação poderá guiar ritmo de aumentos na taxa do Fed

Craig Torres

30/11/2015 16h40

(Bloomberg) -- As autoridades do Federal Reserve (Fed) têm sinalizado que provavelmente subirão as taxas de juros em dezembro, o que marcaria o fim do período de sete anos de custos de empréstimos próximos de zero. No mês passado, membros importantes da instituição disseram que precisavam de mais confiança de que há uma inflação mais rápida a caminho, especialmente depois de o banco central descumprir sua meta de 2 por cento por mais de três anos.

Para visualizar qual é a posição do Fed antes de sua reunião de 15 e 16 de dezembro, verificaremos os três indicadores de preço que as autoridades do banco estão observando, conforme se notou nas minutas da reunião de outubro. O progresso desses indicadores deverá pesar nas decisões a respeito dos futuros aumentos de taxa se o Fed elevar a taxa de empréstimo de referência em 0,25 ponto porcentual no mês que vem.

1. Expectativas de inflação

As minutas disseram que a estabilidade nas "expectativas de inflação de longo prazo" foram um elemento importante da projeção da cúpula do Fed de um aumento gradual da inflação.

Segundo dados de uma pesquisa com economistas realizada pelo Fed da Filadélfia, a expectativa de inflação para os próximos 10 anos caiu para 1,9 por cento no trimestre atual, nível mais baixo registrado desde 2007. Outros indicadores baseados em pesquisas também caíram.

A boa notícia aqui é que o Fed provavelmente será capaz de manter as taxas de juros baixas sem provocar aumentos nos preços, pois as pessoas já acreditam que a inflação não vai decolar. O outro lado da moeda é que "quanto mais tempo a inflação permanecer abaixo da meta do Fed, maior a probabilidade de ela alimentar um sentimento mais amplo de que o banco continuará descumprindo a meta", disse Mike Pond, chefe de estratégia global de inflação da Barclays Capital Inc. em Nova York.

Esta não é uma tendência que aumenta a confiança do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) na inflação.

2. Commodities e dólar

"Outros fatores importantes para a perspectiva de inflação foram a expectativa de que a influência dos preços mais baixos da energia e das commodities e do dólar mais forte diminuiria", disseram as minutas de outubro.

O Bloomberg Commodity Index -- que monitora de tudo, do petróleo bruto ao cobre -- está em baixa de 22 por cento neste ano. O Bloomberg Dollar Spot Index, que monitora a moeda americana comparando-a a uma cesta de dez moedas internacionais, está em alta de 9 por cento.

Prever como a demanda global influenciará os preços das commodities nos próximos meses, ou se o dólar manterá seu apelo, é difícil. O exercício de adivinhação exigido aqui não aumenta a confiança da inflação.

3. Uso de recurso

As autoridades do Fed disseram também que precisariam ver a economia continuar se expandindo "a um ritmo suficiente para aumentar a utilização de recursos".

As folhas de pagamento aumentaram em 271.000 postos em outubro, incremento mais forte observado neste ano. A economia cresceu a uma taxa anualizada de 2,1 por cento no terceiro trimestre, e os economistas projetam uma taxa de crescimento de cerca de 2,2 por cento nos últimos três meses, segundo a estimativa média. As autoridades do Fed receberão o relatório de novembro sobre as folhas de pagamento em 4 de dezembro. A estimativa é de um incremento de 200.000. Segundo esses indicadores, as autoridades do Fed podem ficar otimistas de que a redução continuada da disponibilidade de recursos poderia dar firmeza aos preços ao longo do tempo.

Resultado

Se esta fosse uma decisão a ser tomada por eliminação, haveria uma chance em três de o comitê decidir manter sua posição em dezembro. Mas a realidade é que o Fed está ponderando muitos riscos, inclusive a possibilidade de distorções financeiras por manter as taxas baixas demais por muito tempo. O comitê parece decidido a elevar as taxas de juros. Além disso, a presidente do Fed, Janet Yellen, parece colocar mais peso na diminuição da disponibilidade de recursos.

Mesmo assim, se o comitê realmente elevar as taxas em dezembro, o desempenho da inflação poderá ser o indicador fundamental para estabelecer o ritmo para mais incrementos.

"Se eles começarem o ciclo de ajuste e depois descobrirem que a inflação caminha mais para baixo, há uma boa possibilidade de eles simplesmente manterem a taxa estabilizada por um tempo", disse Andrew Levin, professor da Dartmouth College e ex-conselheiro de Yellen.

Título em inglês: 'Inflation May Guide Fed Rate Hike Pace After December Liftoff'

Para entrar em contato com o repórter:

Craig Torres, em Washington, ctorres3@bloomberg.net